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Toda a fé de Allan Kardec


Kardec (Leonardo Medeiros): espírito de observação, em uma série de pesquisas em torno de fenômenos inexplicáveis
Toda a fé de Kardec. O diretor Wagner de Assis e o escritor Marcel Souto Maior reúnem experiências e crenças, na base da produção Kardec, filme nacional que propaga a obra do codificador da doutrina espírita

*Por Ricardo Daehn

A ampliação da consciência, a perpetuação de vidas e a superação da morte são elementos que trazem grande visibilidade e enorme mobilização de muitos que seguem os preceitos da doutrina espírita. Só no Brasil, são contabilizados mais de 15 mil centros de pessoas compromissadas com ideais propostos, desde o século 19, pelo francês Allan Kardec. No cinema, a conjuntura que somou esforços do diretor Wagner de Assis e a difusão do espiritismo, há quase 10 anos, confirmou a popularidade do tema, em Nosso lar, filme assistido por mais de 4 milhões de espectadores. Na nova realização, o longa Kardec, que chega às salas de cinema hoje, Wagner de Assis, numa afinada parceria com o escritor Marcel Souto Maior (de livros como As vidas de Chico Xavier e Kardec: A biografia), coloca em evidência, praticamente 150 anos após a morte de Kardec, dose de desconfiança e fontes de pesquisa que auxiliaram na formatação da doutrina em pauta.

“Kardec começa como um cético, movido por razão, baseado em bom senso, que se recusava a presenciar fenômenos inexplicáveis ainda — mas que eram dados a crendices, superstições. Permite-se assistir a um desses fenômenos e depois se engaja numa jornada de vida que literalmente vai mudar até seu nome”, explicou Assis, em recente entrevista ao Correio. Nascido Hippolyte Léon Denizard Rivail, Kardec era discípulo do pedagogo Johan Pestalozzi, e um renomado professor, quando o despontar de um chamado fenômeno — batizado de “mesas girantes” — fisgou a atenção dele.

Entre abusos que apontavam para crendice e acusações de mera ilusão, os fenômenos fizeram brotar questionamentos, ameaçando a reputação e a estabilidade de Kardec, disposto a empregar métodos científicos para entender as sessões inexplicáveis que presenciava. Ator de filmes como Cabra cega e Budapeste, Leonardo Medeiros diz ter mantido a cabeça aberta e adotado um modelo intuitivo para dar vida, na telona, ao representante máximo do espiritismo. “O mundo dele é o mundo interior”, explicou, em material de divulgação do filme. Quem cuidou da caracterização de Medeiros foi Anna Van Sten, lembrada pelo trabalho nas séries Coisa mais linda e Elis.
Filtro emocional
O diretor do filme Wagner de Assis faz questão de diferenciar Kardec, muitas vezes confundido com médium, de um homem racional e responsável pela codificação da doutrina espírita, a partir de uma base: O livro dos espíritos. Elementos de determinação do protagonista e um filtro emocional do personagem balizaram a pretensão dos realizadores do filme, já idealizado desde o lançamento de Kardec: A biografia, em 2014. Enfatizando que seus livros advêm do resultado de muita pesquisa, o escritor Marcel Souto Maior, à época do lançamento, assumia a identidade junto aos grupos reunidos pelo espiritismo da solidariedade — “é aquele que mobiliza milhões de pessoas”, comentou. O roteiro do longa Kardec traz a assinatura de L.G. Bayão (Minha fama de mau e Irmã Dulce), do próprio Assis (diretor de A menina índigo e um dos autores da novela Espelho da vida).

Com pequena parte da produção filmada à beira do Rio Sena e em paisagens francesas, o filme teve que se render aos efeitos da computação gráfica. No elenco estão nomes conhecidos como Dalton Vigh, intérprete de Dufaux, e Guida Vianna, que vive a madame De Plainemaison. Vencedora do prêmio de melhor atriz, no Festival de Cannes (pelo longa Linha de passe e intérprete da mãe de Renato Russo, em Somos tão jovens), Sandra Corveloni dá vida a Amélie-Gabrielle, mulher de Kardec, além de professora e musicista, e uma grande apoiadora dos preceitos filosóficos defendidos pelo marido. Na tela, o ator francês Christian Baltauss compõe enigmático personagem identificado como general; Genézio de Barros vive o padre Boutin e Guilherme Piva faz as vezes de P.P. Didier, editor dos livros de Allan Kardec.

(*) Ricardo Daehn – Fotos: Sony/Divulgação – Correio Braziliense

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