Kardec (Leonardo Medeiros):
espírito de observação, em uma série de pesquisas em torno de fenômenos
inexplicáveis
Toda a fé de Kardec. O diretor
Wagner de Assis e o escritor Marcel Souto Maior reúnem experiências e crenças,
na base da produção Kardec, filme nacional que propaga a obra do codificador da
doutrina espírita
A ampliação da consciência, a
perpetuação de vidas e a superação da morte são elementos que trazem grande
visibilidade e enorme mobilização de muitos que seguem os preceitos da doutrina
espírita. Só no Brasil, são contabilizados mais de 15 mil centros de pessoas
compromissadas com ideais propostos, desde o século 19, pelo francês Allan
Kardec. No cinema, a conjuntura que somou esforços do diretor Wagner de Assis e
a difusão do espiritismo, há quase 10 anos, confirmou a popularidade do tema,
em Nosso lar, filme assistido por mais de 4 milhões de espectadores. Na nova
realização, o longa Kardec, que chega às salas de cinema hoje, Wagner de Assis,
numa afinada parceria com o escritor Marcel Souto Maior (de livros como As
vidas de Chico Xavier e Kardec: A biografia), coloca em evidência, praticamente
150 anos após a morte de Kardec, dose de desconfiança e fontes de pesquisa que
auxiliaram na formatação da doutrina em pauta.
“Kardec começa como um cético,
movido por razão, baseado em bom senso, que se recusava a presenciar fenômenos
inexplicáveis ainda — mas que eram dados a crendices, superstições. Permite-se
assistir a um desses fenômenos e depois se engaja numa jornada de vida que
literalmente vai mudar até seu nome”, explicou Assis, em recente entrevista ao
Correio. Nascido Hippolyte Léon Denizard Rivail, Kardec era discípulo do
pedagogo Johan Pestalozzi, e um renomado professor, quando o despontar de um
chamado fenômeno — batizado de “mesas girantes” — fisgou a atenção dele.
Entre abusos que apontavam para crendice
e acusações de mera ilusão, os fenômenos fizeram brotar questionamentos,
ameaçando a reputação e a estabilidade de Kardec, disposto a empregar métodos
científicos para entender as sessões inexplicáveis que presenciava. Ator de
filmes como Cabra cega e Budapeste, Leonardo Medeiros diz ter mantido a cabeça
aberta e adotado um modelo intuitivo para dar vida, na telona, ao representante
máximo do espiritismo. “O mundo dele é o mundo interior”, explicou, em material
de divulgação do filme. Quem cuidou da caracterização de Medeiros foi Anna Van
Sten, lembrada pelo trabalho nas séries Coisa mais linda e Elis.
Filtro emocional
O diretor do filme Wagner de Assis
faz questão de diferenciar Kardec, muitas vezes confundido com médium, de um
homem racional e responsável pela codificação da doutrina espírita, a partir de
uma base: O livro dos espíritos. Elementos de determinação do protagonista e um
filtro emocional do personagem balizaram a pretensão dos realizadores do filme,
já idealizado desde o lançamento de Kardec: A biografia, em 2014. Enfatizando
que seus livros advêm do resultado de muita pesquisa, o escritor Marcel Souto
Maior, à época do lançamento, assumia a identidade junto aos grupos reunidos
pelo espiritismo da solidariedade — “é aquele que mobiliza milhões de pessoas”,
comentou. O roteiro do longa Kardec traz a assinatura de L.G. Bayão (Minha fama
de mau e Irmã Dulce), do próprio Assis (diretor de A menina índigo e um dos
autores da novela Espelho da vida).
Com pequena parte da produção
filmada à beira do Rio Sena e em paisagens francesas, o filme teve que se
render aos efeitos da computação gráfica. No elenco estão nomes conhecidos como
Dalton Vigh, intérprete de Dufaux, e Guida Vianna, que vive a madame De
Plainemaison. Vencedora do prêmio de melhor atriz, no Festival de Cannes (pelo
longa Linha de passe e intérprete da mãe de Renato Russo, em Somos tão jovens),
Sandra Corveloni dá vida a Amélie-Gabrielle, mulher de Kardec, além de
professora e musicista, e uma grande apoiadora dos preceitos filosóficos
defendidos pelo marido. Na tela, o ator francês Christian Baltauss compõe
enigmático personagem identificado como general; Genézio de Barros vive o padre
Boutin e Guilherme Piva faz as vezes de P.P. Didier, editor dos livros de Allan
Kardec.
(*) Ricardo Daehn –
Fotos: Sony/Divulgação – Correio Braziliense
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