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UnB, a universidade que nasceu de um coração que transborda em nós


UnB, a universidade que nasceu de um coração que transborda em nós

Crônicas urbanas, crônicas de afeto e do viver - (Conceição Freitas)
UnB de Darcy e Anísio; de Lucio, Oscar e Lelé. De Frei Mateus, teólogo que ajudou Darcy nos primeiros tempos de universidade. De Zanine, professor de maquete; de Athos, professor de arte; de Cyro dos Anjos, professor de letras; de Niemeyer, professor de arquitetura. Do Minhocão e do Ceubinho, do longe e do pertinho. De Vladimir Carvalho, Nelson Pereira dos Santos, Paulo Emílio Sales Gomes, Jean-Claude Bernardet – é mole? UnB de Tizuka Yamazaki e José Eduardo Belmonte. De Alfredo Ceschiatti, de Glênio Bianchetti e Ralph Ghere, povo das artes. UnB dos pedreiros Expedido Xavier Gomes e Geldemar Marques, que morreram soterrados durante as obras. Por isso, o auditório se chama Dois Candangos. UnB dos primeiros pré-moldados de Lelé. Dos campi de Planaltina, Ceilândia e Gama. E do Paranoá, que está por vir. De Cristovam Buarque, primeiro reitor do período pós-golpe de 64. De Lauro Campos, Sepúlveda Pertence, José Geraldo Grossi. Da arquitetura do beijo de Lelé em Darcy.
Dos arquitetos modernos que espalharam obras potentes pelo campus. Cada uma com sua singularidade. Umas, brutalistas; outras, delicadas; outras, brutalistas e delicadas.

Do lago que roça os contornos da universidade num eterno namoro da água e o cerrado, da natureza e a cultura, do impossível e o real.
Do Hospital Universitário de Brasília, referência em várias áreas médicas e que atende a população gratuitamente. Do atendimento psiquiátrico, jurídico, veterinário e tantos outros também gratuitos.
Da Colina do Lelé, dos apartamentos da Colina do Lelé, dos móveis em madeira dos apartamentos da Colina do Lelé
Do RU, de José Galbinski; da OCA, de Sérgio Rodrigues.
De Alcides da Rocha Miranda e Luis Humberto, autores do projeto da Faculdade de Educação.
Da Reitoria, obra de Paulo Zimbres.
Do Postinho Ecológico, de Matheus Gorovitz.
Da resistência à ditadura nas invasões de 1964, 1968 e 1977.
Dos 223 professores que tiveram a coragem (hoje rara) de sair da universidade em protesto pela expulsão de 15 colegas.
De Honestino, desaparecido nos porões da ditadura.
Da música. De Hamilton de Holanda, Dado Villa-Lobos, Ellen Oléria. Do maestro Cláudio Santoro. Da flautista Odete Ernest Dias.
UnB do Chiquinho, dos livros do Chiquinho, das dicas do Chiquinho, da resistência do Chiquinho.
UnB do Sebastião Varela, o candango-servidor que contou em cordel a história da universidade e a história de Brasília.
Do amoroso Pompeu de Souza, que mudou o modo de escrever notícia nos jornais. Deixou o texto mais claro, mais direto, mais enxuto.
De Eudoro de Souza, filósofo luso-brasileiro, um dos fundadores da UnB, que traduziu Eurípedes direto do grego e conhecia mitologia grega como poucos. (Alguém do governo ignaro sabe de quem se trata?).
De Agostinho da Silva, poeta, também português, também filósofo e também fundador da UnB.
Do professor Isaac Roitman, microbiologista que participou da fundação da UnB.
UnB de onde saíram nomes expressivos das ciências exatas e das ciências da vida, e que atuam dentro e fora do Brasil, o oncologista Paulo Hoff e o biólogo molecular Samuel Goldenberg entre eles.
UnB da professora Eva Waisros, da Educação, e Ludmilla Aguiar, da Zoologia. Da professora Débora Diniz, defensora da descriminalização do aborto, que teve de deixar o país por conta de ameaças de morte.
UnB que já formou mais de 145 mil profissionais, que hoje tem 50 mil alunos em mais de 300 cursos de graduação e pós-graduação. Que está entre as 10 melhores do país e as 20 melhores da América Latina.
Universidade de tantos brasilienses de coração que nos fortalecem e inspiram: Luis Humberto, José Carlos Coutinho, Aldo Paviani, Ralph Gehre, Elder Rocha Lima. Da nova geração de artistas plásticos, Clarice Gonçalves entre eles, de tanta gente que encheria metros e metros da tela do computador.
UnB das praças, das festas, das leituras no gramado, das rodinhas de conversa nos gramados, dos cochilos no gramado, do amor nos gramados.
Da torta de banana, do mate gelado, da quentinha de isopor, dos salgados veganos, do pão de batata e do biscoito de queijo.
Das cotas raciais – a UnB foi uma das primeiras a colorir e cachear a paisagem branca e lisa das universidades públicas brasileiras.
UnB dos avisos, recados, vendas, aluguéis, convite para palestra, convite para festa, convite para missa, chamamento para protestos, tudo colado nas paredes, de ponta a ponta do Minhocão. Das meninas de chinelo de dedo ou de salto agulha; de carrão, de ônibus ou de bike.
Da diversidade étnica, social, de gênero. Das meninas com meninas, dos meninos com meninos, dos meninos com meninas, do amor de qualquer jeito, do amor.
Universidade de Brasília que nasceu no coração gigante de Darcy Ribeiro, um homem inquieto que verdadeiramente amava o povo brasileiro.
Por Conceição Freitas – Fotos: Gabriel Gondin/Arquivo – Cedoc/UnB - Metrópoles


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