Com dois gols, o meia Philippe
Coutinho embalou a vitória brasileira no segundo tempo
Festa estranha com gente
esquisita. De branco, com 11 titulares "europeus", sem camisa 10 no
início do jogo e em clima de velório no Estádio do Morumbi: a noite em que
Coutinho assumiu a missão de evitar um vexame na estreia
*Por Marcos Paulo Lima
São Paulo — A estreia do Brasil na Copa América lembrou aquele trecho da música
Eduardo e Mônica da Legião Urbana. Se Renato Russo estivesse ontem no Morumbi,
cantaria com ênfase “(...) festa estranha com gente esquisita (...)”. A
cerimônia de abertura teve clima de ressaca em um país que recebeu recentemente
a Copa-2014 e os Jogos Olímpicos do Rio-2016. Um recado preguiçoso ao mundo da
bola de que “foi só para não dizer que não teve”. Dos países participantes do
torneio, Jair Bolsonaro foi o único presidente a marcar presença no evento.
Por sinal, nada mais estranho do
que ver a Seleção jogando de branco pela primeira vez desde a festa do
centenário da Fifa em 2004, contra a França. O público fraco de 46.342
pagantes, muito aquém da capacidade do Morumbi (72 mil), vestido
predominantemente de verde-amarelo, não ornava com o uniforme exorcizado após o
vice na Copa de 1950. A roupa saiu do baú na vitória de ontem por 3 x 0 — gols
de Philippe Coutinho e de Everton —, para homenagear o primeiro título do país
na Copa América, há 100 anos, em 1919.
Quando o locutor anunciou a
escalação da turma de Tite, a torcida deu pinta de que estava conhecendo quem
entraria em campo naquele exato momento. Afinal, os 11 titulares atuam na
Europa. A última vez que isso havia acontecido numa estreia de Copa América foi
em 2007, na Venezuela, na derrota por 2 x 0 para o México. O time de Dunga
também era “importado”. Para completar, o Brasil entrou em campo sem
camisa 10. O dono dela, Neymar, foi cortado por causa de lesão. Viu o jogo de
casa ao lado do filho, Davi Lucca. Substituto dele, Willian começou sentado no
banco de reservas.
Durante a partida, o ambiente no
Morumbi lembrava mais um velório do que uma partida de futebol. Houve vários
momentos de silêncio “ensurdecedor”. O luto dos fracassos nos últimos dois
Mundiais (2014 e 2018) e nas últimas três edições da Copa América aumentava a
sensação de missa de sétimo dia na capital paulista. Em chute fraco da Bolívia,
por exemplo, foi possível ouvir o som da bola batendo na placa de publicidade
ao lado do gol de Alisson e até gritos de um fã clube gritando “lindo” para o
camisa 1 da Seleção. Do outro lado, Lampe escutava provocações homofóbicas de
“bicha” a cada cobrança de tiro de meta.
No fim do primeiro tempo, o
segundo som uníssono ouvido no estádio, depois do Hino Nacional à capela, foi o
das merecidas vaias. Afinal, os lances mais perigosos foram nas cabeçadas de
Firmino, defendida no reflexo por Lampe; e outra de Thiago Silva, para
fora.
A caminho do vestiário, a Seleção
ouviu um tímido grito de “Fora, Tite”, e voltou pilhada para a etapa final.
Assim como na estreia na Copa da Rússia, Philippe Coutinho abriu o caminho para
a vitória numa cobrança de pênalti acusada pelo Árbitro de Vídeo (VAR).
Praticamente no lance seguinte, Firmino cruzou da direita e Coutinho usou a
cabeça para fazer o segundo dele, 12º na era Tite, atrás apenas de Neymar (14)
e de Gabriel Jesus (16). Coutinho assumiu a responsabilidade como havia feito
na estreia do Brasil na Copa da Rússia contra a Suíça.
Everton completou o placar com um
belíssimo chute, indefensável, de fora da área. O meia havia acabado de entrar
no lugar de David Neres. Um golaço que valeu o ingresso aos 46.342
pagantes.
A Seleção inicia a campanha pelo
nono título na liderança do Grupo A e voltará a campo na terça-feira contra a
Venezuela, na Arena Fonte Nova, em Salvador. A próxima adversária da Seleção
estreia hoje, às 18h, contra o Peru, na Arena Grêmio, em Porto Alegre.
16 gols: Marca de Philippe Coutinho em 50 jogos pela Seleção principal
(*) Marcos Paulo Lima – Foto:
Pedro Martins/Mowa/Press - Correio Braziliense