De armas na cintura
*Por Circe Cunha
Entre a fantasia e a realidade estende-se uma longa
estrada que é pavimentada pela razão. Transitar displicente entre uma e outra,
é o que fazem muitos candidatos em tempos de campanha, levando o eleitor a
acreditar se tratar de um mesmo mundo. Além de aumentar o descrédito da
população em relação a classe política, leva também o vencedor do pleito a uma
encruzilhada em que necessariamente terá que demonstrar, na prática, que o que
disse ou prometeu pode ser materializado.
Essa parece ser exatamente a encruzilhada em que se
encontra agora o presidente Bolsonaro, com relação a flexibilização da posse e
do porte de armas por cidadãos civis. À fantasia de que a violência que parece
engolir o país seria amenizada quando todos os brasileiros tivessem o acesso
legal as armas não para de pé e é colocada contra a parede pelas últimas
estatísticas, divulgadas agora pelo Atlas da Violência, mostrando que somente
no ano de 2017 o Brasil teve 65,6 mil assassinatos, a grande maioria por armas
de fogo.
Trata-se do maior nível histórico de crimes, de
todos os tempos e, pior, com tendência de alta. Jogar gasolina nessa fogueira
não vai amainar o fogaréu em que arde o país. Uma simples conferência no
gráfico apresentado sobre o assunto mostra uma reta ascendente e contínua a
partir de 1979. Num quadro como esse, permitir o livre acesso, mesmo para
cidadãos de bem às armas, é, na avaliação de quem pesquisa o assunto com
seriedade, um flagrante contrassenso. Ainda mais quando se sabe que destes 65
mil crimes, 47,5 mil, foram cometidos por indivíduos portando armas de fogo, ou
seja, em todos esses assassinatos, as armas estiveram presentes em 72,5% dos
casos. Para os que gostam de economia, esse nível de criminalidade tem
impacto direto sobre o Produto Interno Bruto da ordem de 6%.
O alívio é que grande parte da população vive no
mundo real e sabe bem dessa relação entre arma de fogo e criminalidade. Segundo
pesquisa do Ibope, realizada entre 16 e 19 de março, 73% dos brasileiros são
contra a flexibilização do porte de armas e apenas 26% são a favor. Quanto à
posse, 61% se declararam contrários. Também os especialistas em Direito
Constitucional vêm levantando sérias dúvidas sobre os decretos do Executivo
nessa questão. Para muitos deles, o texto do decreto contraria frontalmente
termos da lei aprovada pelo Congresso e pelo Estatuto do Desarmamento,
extrapolando ainda as prerrogativas do próprio Executivo.
Para muitos desses juristas, não será surpresa se,
mais adiante, o judiciário ou mesmo o Ministério Público venham a suspender
esses decretos por vícios diversos. Outro ponto levantado é que o incremento de
armas de fogo irá necessariamente baixar os preços dos armamentos ilegais
vendidos no mercado negro, aumentando, ainda mais a quantidade de armas em mãos
da população. Para outros entendidos, ao invés de aumentar o número de armas,
as autoridades deveriam estar preocupadas em aumentar o efetivo da Polícia
Federal e no patrulhamento das imensas fronteiras territoriais brasileiras.
De fato, a realidade joga contra a pretensão do
presidente de ver os brasileiros de armas na cintura.
****
A frase que foi pronunciada: “Hoje, a justiça criminal funciona e se justifica
apenas por essa referência perpétua a algo diferente de si, por essa incessante
reinscrição em sistemas não jurídicos.” (Michel
Foucault, no livro Vigiar e Punir: O Nascimento da Prisão)
Vida de repórter - (Vídeo)
Marcos Goto, treinador de Arthur Zanetti, contava
que ninguém teria folga até a final da competição. A repórter Ana Paula Padrão,
à época, brincou dizendo: “Eu que não faria parte dessa equipe!” Goto foi
implacável: Por isso Zanetti é campeão olímpico e você é repórter. Numa
gargalhada e com simpatia e humildade, Ana Paula diz que quem fala o que quer,
ouve o que não quer.
Tristeza para uns - (Vídeo)
Pagando alto pelo metro quadrado, os moradores do
Noroeste aguentaram a barulheira da festa de alguns jogadores da seleção até 5h
da manhã. O protesto da vizinhança foi grande. Quem pensa que Brasília é terra
de marajás está enganado. Eles sempre vêm de fora.
Desordem pública
Por falar nisso, está enganado quem pensa que os
moradores do Lago Sul vão desistir de lutar contra o bloco de carnaval fora de
época Adocica. Ministério Público e Câmara Legislativa serão os próximos a
serem consultados. A Lei que inclui o bloco pós carnavalesco Adocica no
calendário oficial do DF diz que a festa seria no segundo sábado subsequente ao
Carnaval. O local não é determinado. Foi criada pelo deputado Robério Negreiros
(Lei 6.178 de 16 de julho de 2018).
Mal
anunciaram que a TCB pode ser responsável pelo transporte escolar da rede
pública de ensino e os comentários recomendam que a direção aumente bastante a
tolerância para o atraso.
(*)
Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Fotos: Mauro
Pimentel / AFP - saraiva.com.br - agenciabrasilia.df.gov.br - Imagem:
facebook.com/bloquinhoadocica – Correio Braziliense
Rapaz... Que furada essa matéria... acho que você não leu o decreto de posse de armas que seria exclusivamente para cidadãos de bem, sem antecedentes criminais, que deveriam sempre possuir o LIVRE DIREITO DE DEFESA. Querer defender que a maior disponibilidade de armas legais vai baratear o mercado negro de armas ilegais, sem ao menos um estudo que demonstre essa fantasia também é muita pretenção. E pra finalizar, todos sabemos que o IBOPE é super tendencioso e não demonstra os reais resultados, vide as eleições, só pra você ter uma idéia, notícias de anos atrás: https://folhapolitica.jusbrasil.com.br/noticias/128011957/projeto-que-libera-porte-de-armas-e-recordista-em-apoio-popular-na-camara. Nada mudou desde então, a população tá mais susceptível do que nunca em relação aos crimes que são cometidos contra ela, a violência não perdoa ninguém, muito menos pessoas indefesas, o povo quer se defender sim, é de direito e é o certo.
ResponderExcluir