As mudanças no fluxo de veículos
na plataforma superior começam hoje à tarde e durarão pelo menos 30 dias
Sob risco, Rodoviária passará por
reformas. Relatório da
Novacap aponta que terminal do Plano Piloto sofre risco de desabamento, com
fissuras, corrosão, infiltração e desgastes capazes de provocar colapso
estrutural. Obra custará R$ 6 milhões e interditará parte do tráfego no piso
superior
*Por Helena Mader » Jéssica Eufrásio » Sarah Peres
A circulação de veículos em um dos lados da
plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto ficará proibida a partir da
tarde de hoje. Ontem, o governador Ibaneis Rocha (MDB) anunciou que a estrutura
do terminal corre risco iminente de desabamento devido a quase 60 anos de
desgaste e à manutenção precária. Estacionamentos e uma das duas vias ficarão
totalmente bloqueados. A outra, aberta apenas para veículos de passeio, terá
duas faixas liberadas no sentido sul-norte, e a terceira, no sentido norte-sul.
A decisão de
interditar parte da Rodoviária partiu do resultado de um laudo divulgado pela
Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), concluído na segunda-feira.
No documento, técnicos lembram que o terminal de ônibus recebe, diariamente,
fluxo de 700 mil pessoas e que a edificação é uma das mais complexas da capital
do ponto de vista arquitetônico por causa da grande quantidade de viadutos.
“Isso dificulta qualquer tipo de ação preventiva ou corretiva sem causar
enormes transtornos à sua operação”, concluiu o relatório.
O levantamento
aponta que um acidente estrutural no local, como ocorreu com o viaduto da
Galeria dos Estados (leia Memória), poderia causar centenas de mortes. Os
engenheiros identificaram na laje de cobertura da plataforma inferior “o
rompimento de cabos de protensão de longarinas por corrosão, movimentação
anormal com abertura de frestas em vigas de encabeçamento do caixão perdido da
plataforma superior, problemas de infiltração, problemas com estrutura do
reservatório de incêndio, corrosão nos guarda-corpos dos viadutos, fissuras de
vigas e lajes”.
Ainda segundo o
relatório, “verificou-se que as fissuras estruturais são as de maior relevância
e podem trazer maior risco à segurança estrutural da rodoviária, inclusive
risco de colapso estrutural e desabamento, exigindo ações imediatas”. O
Executivo publicará, até a próxima semana, uma licitação emergencial para a
escolha da empresa responsável pelas obras. A expectativa é de que a
intervenção custe R$ 6 milhões aos cofres públicos. O governo articula com a
Secretaria de Fazenda de onde sairá o montante. Um decreto de destinação de
recursos para a Novacap para a intervenção deve ser publicado no Diário Oficial
do DF hoje.
Incômodo
O governador
Ibaneis Rocha afirmou que a descoberta do problema decorreu de monitoramentos
em pontos considerados sob risco pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal
(TCDF). O documento da Novacap indicou perigo de desabamento, principalmente,
da pista de sentido norte-sul devido a um aumento de 0,9cm em três meses na
fissura observada. “Não gostaríamos de fazer isso devido ao incômodo que vai
causar, mas tornou-se uma questão emergencial por estar no centro da capital e
pelo fato de mais de 700 mil pessoas passarem por ali”, declarou.
Equipes do
Departamento de Estradas de Rodagem (DER/DF) e das secretarias de Obras e
Infraestrutura e de Transporte e Mobilidade acompanharão os trabalhos. Os
reparos devem ocorrer em dois turnos e, a princípio, não há previsão de
interdição total do terminal. A expectativa é de que os trabalhos comecem em
até 15 dias e terminem em três meses. “Recursos para uma situação emergencial
como essa não são tão difíceis de resolver. Nem que tenhamos de fazer um
contingenciamento. Vamos dar um jeito. Não faltarão recursos”, reforçou
Ibaneis.
As mudanças no
tráfego durarão pelo menos 30 dias, e o trânsito só será liberado após o
escoramento de toda a estrutura. Ontem à noite, uma equipe técnica do governo
começou a sinalizar os pontos que passarão por mudanças. Ônibus de 42 linhas
que passavam pela plataforma superior do terminal terão embarque e desembarque
transferido para o piso inferior. Não houve detalhes, entretanto, dos locais
onde a população deverá aguardar pelos coletivos.
A mudança pegou
passageiros de surpresa. Um deles foi o professor de dança Lehandro Lira, 32
anos, que dá aulas no Centro de Dança. A fim de voltar para casa, pega o ônibus
na parte de cima da Rodoviária. Morador de Planaltina, ele não critica a
interdição. No entanto, acredita que a população deveria ter sido informada com
antecedência. “Tenho consciência de que a possibilidade de desabamento é
resultado de um descaso governamental anterior e que (o cenário) se agravou. A
interdição é para manter a segurança, mas avisar de um dia para o outro é
errado. As pessoas serão pegas de surpresa e isso vai gerar revolta”, avaliou.
A perigo
Engenheiros da Novacap
identificaram na plataforma inferior da Rodoviária do Plano Piloto problemas de
infiltração, problemas com estrutura do reservatório de incêndio, corrosão nos
guarda-corpos dos viadutos, fissuras de vigas e lajes
700
mil: Número de pessoas que passam pelo local diariamente
- 42: Número de linhas que passarão a circular na plataforma inferior
Memória: Susto no Eixão Sul
Em 6 de fevereiro
de 2018, parte da estrutura do viaduto da Galeria dos Estados desabou, amassou
quatro carros e danificou um restaurante. Apesar do susto, não houve vítimas.
Um relatório do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) de 2012 alertava
sobre o risco de queda e a necessidade de manutenção na estrutura. Após o
incidente, especialistas da Universidade de Brasília (UnB) indicaram que o
viaduto fosse totalmente demolido, mas o governo optou pelo reaproveitamento de
parte da estrutura. O edital para a construção saiu cinco meses depois. As
obras começaram em setembro e custaram R$ 10,9 milhões. O trecho bloqueado foi
reaberto em 1º de junho.
(*) Helena Mader » Jéssica Eufrásio » Sarah Peres : Fotos: Vinícius
Cardoso/CB/D.A.Press – Novacap/Divulgação – Correio Braziliense