Lobby não é pecado, mas...
*Por Jack Corrêa
O ser humano passa uma vida sobre a Terra
defendendo a todo minuto os seus interesses. Independe a cor, a classe social,
o conhecimento e a profissão. O exercício de lutar por interesses, benefícios,
atenção e pela própria sobrevivência exige que o homem, de maneira solitária ou
grupal, se organize e reivindique o que acredita ser seu. O choro ao
nascer pode ser rotulado como primeiro pleito na vida: “Oi pessoal, me devolve
aquele meu ambiente quentinho, tranquilo e seguro onde eu estava!”, sem desconfiar
de nada do que o espera no futuro.
A vida não é uma estrada simples de trilhar. A
escassez, no sentido macro, nos ensina que é preciso lutar e defender nosso
interesse em qualquer área de atuação. Qualquer que seja o modelo político,
desde cedo entendemos que as oportunidades são mais facilmente atingidas se
corrermos atrás delas. A atitude de buscar um direito ou defender um interesse
ao longo do tempo se tornou prática profissional, moldou procedimentos e
ensinou caminhos e atalhos dentro da mais correta lisura, uma vez que a lição
ao longo dos tempos deixou patente que os recursos são escassos.
Na pátria de liberdade e da democracia, os Estado
Unidos, o corpo a corpo na busca dos interesses foi rotulado de lobby, e a
palavra se consagrou e rodou o mundo. O lobby nunca foi e não é pecado, mas...
debaixo do guarda-chuva da defesa de interesses, práticas pouco ortodoxas foram
patrocinadas e macularam de morte a expressão quando se fala de ética e
compromisso com a legalidade e a verdade. No Brasil, a profissão cresceu e
ganhou corpo a ponto de ter sido reconhecida no final do ano passado pelo
Ministério do Trabalho e reconhecida no Cadastro Brasileiro de Ocupações (CBO)
como relações institucionais e governamentais.
Ao mesmo tempo, na Câmara dos Deputados, o Projeto
de Lei nº 1.202, de 2007, que aguarda aprovação do plenário, dispõe sobre
a regulamentação do lobby para que os profissionais possam fazer seu
trabalho sob a luz dos holofotes da identidade e do conhecimento geral dos
interesses defendidos.
Como não podia ser diferente, os profissionais de
lobby legítimos se agregaram e criaram, há uma década, a Associação Brasileira
de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig), que saiu de 60 associados
no início da atividade e ultrapassa hoje a casa dos 700 membros em todo o país,
demonstrando a força e a união dos profissionais que erguem a bandeira da
legalidade e da ética na defesa de interesses legítimos e na transparência de
suas ações.
A grande verdade é que todo mundo pratica o lobby
na defesa de suas causas. O governo federal mantém estruturas próprias dentro
do Legislativo para lhe defender os projetos. Essa é a maior das justificativas
para que a casa parlamentar se abra ao diálogo da transparência. A convivência
diária de profissionais de relações governamentais com as lides do Congresso e
em gabinetes no Executivo fazem desses defensores de interesses conhecedores de
práticas e atalhos que um cidadão comum levaria anos para aprender e dominar.
Daí o seu valor. Nada diferente de um grande médico ou de um cientista famoso:
a competência e o conhecimento fazem o valor do profissional e o diferenciam na
área de especialização.
Empresas e entidades devidamente amparadas por
profissionais especializados na luta pelos pleitos governamentais têm reais
dificuldades de fazer valer os interesses. O que dirá o cidadão ou homem de
negócios que percorre a capital sem conhecer os caminhos do poder? Há
algum tempo, os fatos ligados à corrupção e práticas pouco ortodoxas da
política em geral demonstraram que lutar por uma causa nada tem a ver com os
operadores de propina e intermediários da corrupção que sempre acharam na
palavra lobby uma denominação mais suave para as atitudes criminosas.
Lobby não é pecado, mas muitos pecadores tentaram fazer dele instrumento
para deixar na sombra confissões pouco republicanas não assumidas de público e
de pesadas penitências.
(*) Jack Corrêa - Advogado e relações públicas –
Foto/Ilustração: Blog - Google
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POLÍTICA