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O preço do progresso a qualquer custo - (Projeto de Lei nº 3.729/04)


O preço do progresso a qualquer custo

*Por Circe Cunha

Conciliar o que chamam de desenvolvimento econômico com preservação do meio ambiente tem sido, desde sempre, uma grande dor de cabeça para muitos governos em muitos lugares do planeta. Anteriormente, quando os cuidados com o patrimônio ambiental ainda eram obra de ficção, principalmente no pós-guerra. No Brasil, quando se verificou a necessidade de implantação de um polo industrial no Brasil, a questão da conservação da flora e fauna, simplesmente inexistia. A ordem era expandir e abrir fronteiras, tudo se justificava em nome do progresso.

Fôssemos obedecer às cartilhas que defendem a conservação e o respeito ao meio ambiente, Brasília não teria saído do papel, tamanhas foram as interferências impostas à geografia local e do entorno para o assentamento da capital. Apenas para o preparo necessário à acomodação do Plano Piloto, sobretudo a área central, milhões de metros cúbicos de terras foram movimentados, rios soterrados, veredas extintas, animais expulsos, espécies raras e desconhecidas simplesmente descartadas. Não havia consciência científica sobre a importância dessa riqueza natural, tratada como campos sujos. Ainda hoje, há quem diga “limpar o terreno” quando se quer retirar as árvores.

Obviamente, o custo ambiental para a consolidação da capital não pode ser aferido com a régua e com o conhecimento que temos. Aprendemos com os erros e com os exageros nesses erros. O que não se pode mais tolerar é o cometimento dos mesmos erros, tendo como justificativa apenas o desenvolvimento econômico a qualquer preço. Bem sabemos que existem indivíduos e poderosos grupos de pressão que enxergam no meio ambiente um obstáculo ao desenvolvimento. Estudos sérios, realizados por especialistas respeitados e sob a lupa da ética no ofício, apontam o caminho do meio entre a preservação e o progresso.

Esse conhecimento precioso, somado ao acolhimento das opiniões das comunidades locais, é capaz de dar uma cobertura justa e legal aos empreendimentos e ao avanço inevitável do que chamamos progresso. Assim, tendo em vista a ânsia demonstrada pelo atual governo, em dar andamento acelerado a muitas obras de infraestrutura pelo país afora, todo o cuidado é pouco, principalmente quando se verifica o poderio do lobby que se escondem por trás de muitas propostas de flexibilização de regras e leis ambientais.

Nesse sentido, chama a atenção o Projeto de Lei nº 3 729/04, criando a Lei Geral de Licenciamento Ambiental que vem sendo atualizada dentro do Congresso Nacional. Entre outras alterações, o PL prevê isentar de licenciamento melhorias, modernização e ampliação em obras preexistentes. Para alguns especialistas, essa medida poderá representar um cheque em branco para todo o setor de infraestrutura, possibilitando não só reformas, mas obras completas.

No texto está previsto ainda isenção de licenciamento ambiental para as atividades rurais, bem de acordo com o desejo da bancada ruralista. Outra preocupação muito séria é com a pretensão demonstrada agora pelo governo Bolsonaro em reduzir mais de 60 unidades de conservação ambiental do país, de modo a retirar o que chama de interferências com estruturas existentes, para, segundo diz, conferir segurança jurídica para os empreendimentos, sejam eles públicos, sejam concedidos à iniciativa privada.

O que se comenta é que o Ministério do Meio Ambiente que, na prática, deveria lutar pela preservação do nosso patrimônio natural, prepara um documento para fazer uma revisão geral em todas as 334 unidades de conservação federais existentes no país, de forma a integrá-las às novas propostas de desenvolvimento.

Nessa balança sensível em que o meio ambiente nacional é colocado ao lado das vantagens do progresso, o que parece pesar mais nesses atropelos burocráticos é o desejo político do governo em cumprir uma agenda que, cada vez mais, se parece com um passado que acreditávamos ter deixado para trás.

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A frase que foi pronunciada
“A terra deve ser tratada com ternura, para não lhe causar feridas, para não arruinar a obra que saiu das mãos do Criador. Quando isso não acontece, a terra deixa de ser fonte de vida para a família humana. E isso é o que acontece em não poucas regiões do nosso planeta, onde a água está contaminada, o lixo se acumula, a deflorestação avança, o ar está viciado e o solo acidificado.” (Papa Francisco)

(*) Circe Cunha – Coluna “Visto, Lido, e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Fotos/Ilustração: Blog - Google


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