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COPA AMÉRICA » Uma vitória de lavar a alma


Festa no Gigante da Pampulha: triunfo sobre o arquirrival alivia pressão sobre o elenco e oferece motivação para a busca do título

*Tiago Mattar

Uma vitória de lavar a alma. Gabriel Jesus ofusca Messi, Brasil vence Argentina com 'olé' no Mineirão e vai à final. Na primeira decisão da "era Tite", equipe aguarda o vencedor do duelo entre Chile e Peru, hoje, em Porto Alegre

Belo Horizonte — Nada de fantasma de 7 x 1. O Mineirão, definitivamente, voltou a fazer bem à Seleção Brasileira. Ontem, a equipe deu novas provas da eficiência da estratégia ao derrotar a arquirrival Argentina por 2 x 0. Destaques do jogo ao lado de Daniel Alves, Gabriel Jesus e Firmino foram responsáveis pelos gols da vitória. Assim como nas Eliminatórias para a Copa de 2018, quando venceu os hermanos por 2 x 0, a equipe de Tite deixou o Gigante da Pampulha ovacionada pelos mineiros.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, marcou presença no duelo. Ele chegou ao Mineirão sob forte esquema de segurança. Sem contato com o público, entrou rapidamente nos camarotes do estádio, onde se encontrou com Neymar e o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo. No intervalo da partida, desfilou no gramado e acenou para as arquibancadas, que responderam num misto de aplausos, gritos de ‘mito’ e vaias.

Na partida, não faltou entrega física dos jogadores de ambos os lados. O Brasil abriu o placar com Gabriel Jesus. Aos 18 minutos, na primeira grande chance da equipe, Daniel Alves fez jogada brilhante pela direita e aplicou um chapéu em Acuña antes de encontrar Firmino livre na linha de fundo. O atacante recebeu e serviu o ex-atleta do Palmeiras, que só teve o trabalho de deslocar Armani e marcar o primeiro gol da Seleção Brasileira no Mineirão.

Na frente do placar, a Seleção comandada por Tite passou a dar mais campo aos adversários e esperar um erro para buscar o contra-ataque contra a frágil primeira linha de defesa da Argentina. Com mais espaço para criar as jogadas, a albiceleste teve a melhor chance aos 29. Da intermediária, Messi cobrou falta e cruzou para Agüero, que, livre de marcação, cabeceou a bola no travessão. A equipe de Lionel Scaloni aumentou o volume de jogo, mas não conseguiu converter em gol.

Estratégias
Diferentemente do início de jogo, quando as equipes se estudaram mais do que investiram na criação das jogadas, no segundo tempo a Argentina partiu para cima e o Brasil utilizou da estratégia reativa. Aos 11, por muito pouco, os hermanos não empataram. Em verdadeira blitz, Messi finalizou a bola na trave, após aproveitar sobra do chute de Lautaro Martínez. Na sobra, o camisa 10 ainda cruzou rasteiro na área, mas ninguém completou.

Apesar da pressão argentina, o técnico Tite levou vantagem sobre o rival Lionel Scaloni no duelo particular de estratégias para o jogo. Aos 25, a Seleção Brasileira roubou a bola no campo de defesa, Gabriel Jesus partiu em velocidade, ganhou de Otamendi, entrou na área e tocou para Firmino, livre, marcar o segundo gol brasileiro na partida.

Enquanto os argentinos murcharam com as chances reduzidas de classificação, os brasileiros foram à loucura nas arquibancadas do Mineirão. Relembram a Copa do Mundo de 2014 e entoaram todos os cânticos possíveis exaltando a equipe e relembrando conquistas históricas. Além disso, fizeram valer toda rivalidade e não perdoaram os hermanos com gritos efusivos de ‘eliminados’.
Entrevista Roberto Rojas  »Anti-herói crê no tricampeonato

Ex-goleiro Roberto Rojas e a esposa, Viviane, na torcida pelo Chile em São Paulo

São Paulo — Ele nasceu no Chile, mas escolheu morar no Brasil. É natural de Santiago, porém, não arreda os pés da capital paulista. Aos 61 anos, Roberto Antônio Rojas Saavedra celebra a saúde — e a Copa América — em família com a esposa, Viviane, depois de um período difícil na vida. Em entrevista exclusiva ao Correio, o dono das traves da seleção chilena de 1983 a 1989 passa a limpo os sete anos de espera por um transplante de fígado depois do diagnóstico de hepatite C; exalta a vitoriosa geração de Alexis Sánchez e Arturo Vidal, atual bicampeã da Copa América (2015 e 2016) e semifinalista na partida de hoje contra o Peru, às 21h30, na Arena Grêmio, em Porto Alegre; vê futuro no jovem arqueiro Fariñez, da Venezuela; e conta como obteve perdão após cometer o maior erro da vida. Em 3 de setembro de 1989, escondeu uma lâmina na luva no segundo tempo do duelo contra o Brasil, no Maracanã, pelas Eliminatórias para a Copa de 1990, à espera de uma oportunidade para se cortar, prejudicar a Seleção e forçar outro jogo em campo neutro. Quando Rosinery Mello do Nascimento atirou um foguete no gramado, Rojas colocou a farsa em ação e pagou caro. Banido do futebol, voltou ao esporte graças à generosidade de quem considera um pai: o saudoso Telê Santana.

O que explica essa era dourada do Chile?
Alexis Sánchez, Arturo Vidal, Gary Medel, Mauricio Isla... jogam juntos na seleção desde as divisões de base. Além disso, saíram cedo para trabalhar na Europa. O nível técnico e tático deles evoluiu muito. E tem o fator Marcelo Bielsa. Ele pegou esse grupo quando estavam jogando fora do país e deu a cara dele. É todo um processo. Os sucessores de Bielsa, como Jorge Sampaoli, Juan Antonio Pizzi e, agora, Reinaldo Rueda mexeram pouco nesse legado. Hoje, não é o mesmo Chile das Eliminatórias ou de 2015, mas é um time ajustado, dispõe de boas peças. Sabe tirar proveito coletivamente do individual.

Como essa seleção será lembrada?
Como um grupo bom, que jamais precisou de estrelas, jogou coletivamente. Uma geração que conquistou resultados ótimos. Do ponto de vista de títulos, nunca houve uma seleção como essa. Nunca se trabalhou tanto quanto nos últimos 10 anos. Antes, não havia apoio, marketing. A estrutura da federação é outra, muito profissional.

Vislumbra o Chile na final pela terceira edição consecutiva?
Não me parece que a semifinal vai acabar com jogadores para cada lado. Às vezes, descamba para questões políticas. E uma rivalidade acentuada por causa da nossa história (Guerra do Pacífico por parte do deserto do Atacama) e do que aconteceu nas Eliminatórias a Rússia (os chilenos acusam Peru e Colômbia de combinarem o empate por 1 x 1, que classificou os rivais para a Copa da Rússia e chamam o resultado de Pacto de Lima).

O futebol chileno tem um baita treinador, como o Manuel Pellegrini. Por que a escolha recorrente por estrangeiros?
Sempre foi complicado técnico chileno trabalhando no Chile. Chegou o Marcelo Bielsa e descobriu as melhores condições para desenvolver o Chile. Isso deu certo. Hoje, temos novos técnicos no Chile, mas os treinadores estrangeiros sempre foram melhores.

Há 30 anos, você foi protagonista da farsa do Maracanã. Como obteve perdão e reconstruiu a sua vida?
Eu assumi o erro. Quem tem consciência assume a curto ou longo prazo. Sou pai, chefe de família. Como eu poderia cobrar um filho meu sem tentar corrigir o meu passado? Reconstrui a minha vida depois de ficar muito tempo escondido dentro de casa e recuperei o respeito.

A reconquista da saúde é o seu maior troféu?
Fiquei sete anos na fila de transplante de fígado. Sou muito grato à minha mulher (Viviane Rojas). Além de esposa, é minha enfermeira, secretária, meu tudo. Não sei nem o nome dos remédios que eu tomo, mas ela sabe. Um amor incondicional me tirou dos momentos difíceis. Você pode ter título, medalha pessoal, mas se não tiver uma família, uma sustentação sólida, a vida não valerá a pena.

(*) Tiago Mattar    -  Marcos Paulo Lima - Enviado especial - Fotos: Pedro Ugarte/AFP -   Arquivo pessoal/Goleiro -  Correio Braziliense


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