Efeitos
perversos e duradouros da corrupção
*Por Circe Cunha
Uma das múltiplas consequências da corrupção, e
talvez a mais deletéria, é que seus efeitos nocivos se prolongam por anos,
causando mais estragos à medida em que as Cortes não conseguem, em tempo hábil,
pôr um ponto final nesses processos, devido não apenas a morosidade da justiça
e a possibilidade infinita de medidas recursais, mas, sobretudo, em razão do
poder econômico que geralmente possuem os indivíduos e empresas envolvidos
nesses casos.
Essa é a realidade da maioria dos casos envolvendo
grandes somas de dinheiro, normalmente provenientes dos cofres públicos, ou
seja: recursos dos cidadãos. Todos os brasileiros vêm acompanhando com atenção
os enormes esforços feitos, por exemplo, pela força tarefa do Ministério
Público de Curitiba, onde estão os volumosos processos da Operação lava Jato em
processar e reaver essa fábula de dinheiro que foi roubada dos cofres da União
e sua luta contra um exército dos mais caros advogados do país, contra a
oposição política e contra a velha ordem que sempre controlou o Brasil, como
uma propriedade particular. É graças à luta desses pequenos e solitários Dom
Quixotes, que os moinhos da corrupção vêm sendo postos a baixo, para o gáudio
da população que passou a enxergar, nesses cavaleiros, talvez a última
esperança de reconstruir um país justo e igualitário.
Aqui mesmo em Brasília, em decorrência direta da
chamada maioridade política, empresários e políticos locais uniram esforços
para copiar esse modelo criminoso que grassava pelo país, introduzindo na
capital o fenômeno da corrupção em larga escala. Exemplo material dessa sanha
pode ser visualizado nas duas maiores obras erguidas na cidade: o Estádio
Nacional Mané Garrincha e o Centro Administrativo – Centrad, em Taguatinga. O
primeiro, orçado inicialmente em R$ 690 milhões, custaria aos contribuintes,
quando concluso, R$ 1,9 bilhão, dos quais mais de R$ 600 milhões foram
apontados como superfaturamento, pagamento de propina e outros desvios, sendo
então o mais caro estádio da Copa de 2014 e um dos mais caros do planeta. De quebra,
deixou uma despesa mensal de R$ 2,2 milhões mensais somente na conta de água,
fora outras despesas como luz e conservação. Isso, numa cidade sem tradição ou
times de ponta no futebol. Foi preciso implorar para que os empresários
assumissem o comando do elefante branco de concreto armado. O mesmo se sucedeu
com o Centrad, que custou mais de R$ 1 bilhão dos contribuintes e cujo o valor
global da Parceria Público-Privada (PPP) foi estimado em R$ 6 bilhões, dividido
em parcelas mensais de R$ 12,6 milhões ao longo de 22 anos.
Entregue em 2014, a obra mastodôntica ainda está
vazia e necessita de diversos ajustamentos junto à justiça para ser entregue ao
GDF. Também nessa obra gigantesca, espalhada por 180 metros quadrados, o
Ministério Público detectou o pagamento de propinas e outras vantagens
indevidas a políticos, empresários e a legendas partidárias locais tanto pela
notória Odebrecht como através da Via Engenharia. Mesmo fechada, essa obra
produz custos mensais não informados ao contribuinte, o que deve perdurar, já
que está emaranhada em mais de 60 processos que correm na justiça em diversas
instâncias.
Obviamente que os responsáveis diretos por essas
duas obras esperam, com a ajuda da banca milionária de advogados e com a
morosidade da justiça, que esses crimes prescrevam e que a conta seja paga em
sua integralidade pelos brasilienses.
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A frase que não foi pronunciada: “Mas por
que está todo mundo chorando? Não temos um estádio em Brasília agora?” Mané
Garrincha, pueril, sem tomar conhecimento das planilhas contábeis.
Reconhecimento: Comemoração na Secretaria de
Educação, sob a batuta de Rafael Parente, que está perto de ter na nova escola
da 912 Sul uma referência no ensino inclusivo. Voltada para surdos, as
matrículas deverão atender pelo menos 1.000 alunos, que terão a oportunidade de
despontar graças aos estímulos no esporte e na interação social.
Lá e cá: Elogiando Jô Soares, Alex, que era o
garçom do programa, está no Chile ganhando a vida como guia turístico. Morando
numa habitação bastante modesta, agradece ao ex-chefe por ter mostrado um outro
lado da vida. Já o Jô tem enfrentado problemas de saúde.
Novidade: Nomes aprovados ontem por comissões
do Senado: Sílvio Roberto Oliveira de Amorim Júnior, indicado pela Procuradoria
Geral da República para o Conselho Nacional do Ministério Público; Fernanda
Marinela de Sousa Santos, indicada pela OAB para o Conselho Nacional do
Ministério Público (CNMP); Sandra Krieger Gonçalves, indicada pela OAB para o
Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e Josué Alfredo Pellegrini para
o cargo de diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI). Essa indicação
ainda passará pelo Plenário.
(*) Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” –
Ari Cunha - Foto: thoth3126.com.br -
copa2014.gov.br - facebook.com - istoe.com.br - Marcos Oliveira – Correio Braziliense
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