"É preciso investir em setor
que gera emprego e renda"
Em entrevista ao
CB.Poder, uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília, o presidente
da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio), Francisco
Maia, fez uma projeção do futuro da economia no Distrito Federal, comentou
sobre como os comerciantes devem lidar com a força do e-commerce e avaliou o
abandono de uma das vias mais promissoras da capital, a W3. Francisco também
analisou o Sistema S, que gerou críticas e questionamentos do ministro da Economia,
Paulo Guedes, e o resultado da última Pesquisa Distrital por Amostra de
Domicílios (Pdad), que mostrou queda do desemprego no DF, principalmente no
setor de construção civil.
Que setor o senhor aposta mais no
crescimento a partir de agora?
O que tem crescido muito em
Brasília é um setor que nem tem muita crise, o dos cosméticos. Brasília não tem
turismo tradicional. O nosso turismo aqui é de negócio. As pessoas chegam na
segunda-feira para tratar algum assunto com o governo e, quando ficam aqui, à noite,
vão para restaurantes, bares e espetáculos. Brasília é muito rica em relação a
isso. É turismo de negócio.
E a possibilidade de os comércios
abrirem aos domingos?
É uma alternativa. Não digo que é
solução total. Diferentemente dos shoppings, onde há um movimento normal, as
pessoas vão para o cinema, para o restaurante, você acaba indo ao shopping para
comprar alguma coisa. A loja de quadra, não, é diferente. Por isso, eles
encerram sábado à tarde.
A gente vê que algumas lojas de
marca usam as lojas como uma alternativa de outlet, onde vendem com promoção. O
empresário tem de estar sempre se renovando?
O comércio varejista,
principalmente, passa por uma crise, que é a do e-commerce. Hoje, existem
muitas lojas que pouco vendem porque as pessoas compram mais pela internet.
Isso é uma coisa muito séria. Não é que nós somos contra, é a evolução
tecnológica. Você pega um site chinês famoso de roupas e você pega R$ 1 mil e
compra várias roupas e, chega no shopping, você compra uma roupa só. Os preços
são muito mais baratos, porque não paga aluguel, não tem empregado. Então, a
pessoa prefere comprar no site. Essa é uma ameaça muito grande para as lojas.
Existe essa adaptação à nova
realidade, com consultoria e qualificação?
Só vai sobreviver quem se adaptar
a essa nova realidade.
A W3 foi uma avenida bastante
frequentada, com boas lojas e comércio vivo. Hoje, a gente vê abandono,
pichações. O que precisa para revigorar esse comércio?
Eu sou desse tempo que conhecia a
W3 como um shopping aberto. Cheguei aqui em 1963. Conheci aquela época onde não
tinha o Conjunto Nacional, que foi o primeiro shopping da cidade. O que eu acho
que tem de ter é um projeto mais amplo. Tem de ter a cumplicidade do governo.
Agora, eles estão fazendo a revitalização das quadras 511/512, que era um
projeto da CDL do governo passado, do Rodrigo Rollemberg. Foi feita uma
licitação e não tinha sido liberado o dinheiro. Agora, o (governador) Ibaneis (Rocha)
liberou aquele recurso, em torno de R$ 2,9 mi para fazer aquela revitalização,
que, na verdade, é um pedaço só. Isso não resolve a situação toda.
Um dos projetos que está em
discussão agora é transformar o Setor Comercial em área de moradia. Como resolve
o problema de estacionamento?
Eu acho essa ideia boa. O Setor
Comercial Sul, hoje, é uma área que, às 18h, fica abandonada. Vira local de
prostituição, (de tráfico de) drogas e cada dia está crescendo mais. Quem vive
por lá sabe que está degradado e atraindo essas figuras. Ao transformar em área
residencial, haverá 24 horas de ocupação. Tem de ver se os empresários querem
investir.
Como vocês, do setor, acompanham
as críticas do governo, inclusive do ministro da Economia, Paulo Guedes, ao
chamado Sistema S? Existe um receio?
É importante que as pessoas
entendam que esse dinheiro não é público, são contribuições das empresas e esse
valor vira um montante que é distribuído às entidades. Para que seja mudado,
deve haver mudança na Constituição. Hoje, isso está mais pacificado.
A última pesquisa do Pdad mostrou
uma leve recuperação, mas que foi comemorada pelo governo. Pode haver uma
tendência de recuperação. Qual é a expectativa da Fecomércio?
Essa recuperação, com relação a
Brasília, foi mais na construção civil. É uma lenta recuperação. Para que haja
crescimento nos setores de comércio e serviço, que eu represento, é preciso
investir em setor que gera emprego e renda. Hoje, a gente vive do dinheiro de
servidor público. Esse alento aconteceu, principalmente, na construção civil.
CB.Poder – Foto: Vinicius
Cardoso/CB/D.A.Press – Correio Braziliense
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