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MOBILIDADE » Rodoviária ficará em obra por mais um ano


A plataforma superior está fechada desde quinta por ameaça de desabamento; início de reparos não tem data para começar

*Por Mariana Machado

Rodoviária ficará em obra por mais um anoCom uma manutenção em andamento há três anos, maior terminal de ônibus do Distrito Federal acumula problemas, que levaram à recente interdição e a mais transtornos
Quem circula diariamente pelo centro da capital está se acostumando à interdição de um dos seus cartões-postais. Desde quinta-feira, a Rodoviária do Plano Piloto, por onde circulam diariamente cerca de 700 mil pessoas, tem pontos bloqueados, pois corre risco de desabar, como anunciou o governador Ibaneis Rocha (MDB). Ele afirmou que vai demorar três meses para a situação voltar ao normal. No entanto, a Secretaria de Obras, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) ainda precisa fazer uma licitação em caráter emergencial para recuperação do terminal.

Só após o processo licitatório e a contratação da empresa vencedora, as obras começarão. A partir daí, será possível estimar uma data de entrega. A rodoviária é um canteiro de obras desde 2017. Até agora, o governo gastou R$ 26 milhões e concluiu 72,59% das ações de manutenção, que incluem a substituição das esquadrias em alumínio e vidros da galeria técnica, execução de novas instalações elétricas, eletrônicas, hidráulicas, sanitárias e de gás, assim como de sistema contra incêndio e central de ar-condicionado. A previsão de conclusão é julho de 2020, com mais R$ 10 milhões.

O governo decidiu pela recente intervenção após um laudo da Novacap identificar uma série de falhas: rompimento de cabos de protensão de longarinas por corrosão, movimentação anormal com abertura de frestas em vigas de encabeçamento do caixão perdido da plataforma superior, problemas de infiltração, problemas com estrutura do reservatório de incêndio, corrosão nos guarda-corpos dos viadutos, fissuras de vigas e lajes.

A circulação de veículos na região ficou comprometida. Para evitar tragédias, toda a via que passa pela plataforma superior, entre o Conic e o Conjunto Nacional, está bloqueada. Taxistas que trabalham no local estão insatisfeitos. É o caso de Carlos Alberto Santana, 61 anos. “Tiraram a gente da sombra e colocaram no sol. Entendo que haja a necessidade, mas isso nos prejudicou”, reclama ele, que trabalha em ponto ao redor da Rodoviária.

Algumas linhas de ônibus mudaram o ponto de parada. Passageiros, sobretudo de Planaltina, Sobradinho, Varjão e Arapoanga, são os mais afetados. Avisos foram fixados em alguns pontos da rodoviária, mas os passageiros estão tendo dificuldades de se adaptar. A secretária Leila Alves, 24, costumava embarcar para a Vila Planalto no piso superior, mas agora o ônibus fica na inferior. “Lá em cima, havia apenas alguns papéis avisando. Pedi informação em vários lugares, até achar o meu ponto”, reclama.

Medo
O vigilante Isaque Freire da Silva, 45 anos, acredita que se as reformas fossem feitas durante a noite, isso atrapalharia menos o fluxo de pessoas. “Desde que começaram, é muito barulho, materiais de construção ficam caindo e não há segurança. Tenho medo de que (o prédio) desabe. Passo olhando para cima e rezando”, declara.

A fotógrafa Maria Alciderlania de Carvalho, 45, também teme pela estrutura. “O pessoal está evitando passar aqui. São obras inacabáveis. Estacionar é transtorno, chegar à plataforma inferior, pior ainda”, reclama a moradora do Gama

Estudo aponta falhas na plataforma superior
A ameaça de desabamento não é nova. Há ao menos três anos, a estrutura era questionada. Em 2016, a engenheira civil Renata Fialkoski desenvolveu um estudo sobre a cobertura da plataforma superior e identificou diversos problemas que permanecem sem correção. A análise foi o trabalho de conclusão de curso da então estudante. “Após 56 anos de existência, (a estrutura) apresenta várias manifestações patológicas, deformações excessivas, e um grande desconforto visual, causando intensa sensação de insegurança aos usuários”, resumiu Renata na publicação.

Ela destaca o desplacamento do mármore que revestia as 21 fachadas da laje, que também tem alterações de balanço devido ao acúmulo de água no topo da cobertura; corrosão da ligação do pilar metálico com a laje e buracos no forro. A engenheira analisou diferentes sistemas estruturais para a execução da cobertura e propôs seis modelos com três tipologias distintas, todos dimensionados com softwares computacionais.

Renata também fez inspeções visuais e verificações in loco. “Apesar das várias manifestações patológicas desde a construção, somente em 1981, ou seja, 21 anos depois da conclusão da obra, que começaram a ser realizadas vistorias técnicas de manutenção”, destacou. Ela afirma ainda que os mesmos problemas observados em 2016 são os apontados no último relatório da Novacap.

Segundo ela, é necessária a demolição da edificação e construção de uma nova estrutura em aço. “Como a espessura das fissuras nas vigas (que sustentam a cobertura da plataforma) quase triplicou recentemente, além das outras manifestações patológicas, a estrutura tem risco de colapso estrutural”, alerta.

Para o estudo, Renata se baseou em um laudo da Novacap concluído em 2014 e assinado pelo mesmo engenheiro que fez a análise mais recente e motivou a interdição. À época, já havia sido atestada a necessidade da troca da estrutura da cobertura da plataforma superior.  “Um dos principais motivos apontados foi a falência do sistema estrutural adotado na última reforma, resultando em deformações excessivas e, consequentemente, no acúmulo de água na face superior”, destaca Renata.

A Secretaria de Obras não soube informar o motivo de nada ter sido feito à época, uma vez que a análise foi entregue na gestão passada.

(*) Mariana Machado - Colaborou Cristiane Noberto, estagiária sob supervisão de Renato Alves – Foto: Vinícius Cardoso/CB/D.A.Press Correio Braziliense


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