"Se eles tiverem uma opção que tire os alunos da situação em que
estão, eu topo. Quero que as crianças do Gisno tenham um futuro como o dos meus
filhos" Ibaneis Rocha,
*Por Ana Viriato
Diálogo para contornar a crise na educação. Encontro
hoje entre governador, novo secretário de Educação e representantes do Sinpro
discutirá uma solução para o Gisno, na Asa Norte, que resiste à gestão
compartilhada. Inicialmente, colégio está fora da preparação para o modelo
O governador Ibaneis Rocha quer
que sejam apresentadas alternativas à gestão compartilhada no Gisno, que tem
altas taxas de reprovação e evasão escolar
Antes garantido na lista de escolas que serão
administradas sob a gestão compartilhada com a Polícia Militar mesmo após a
rejeição ao modelo, o Centro Educacional Gisno, na Asa Norte, está com o futuro
incerto. O governador Ibaneis Rocha (MDB), o novo secretário de Educação, João
Pedro Ferraz, e o Sindicato dos Professores do DF (Sinpro) reúnem-se hoje, no
Palácio do Buriti, para colocar opções à mesa. Por enquanto, o colégio fica de
fora da lista das cinco instituições que iniciaram a preparação para receber os
militares nesse semestre.
A abertura do diálogo ocorre em meio a uma crise na
educação. Primeiro chefe da pasta na gestão Ibaneis, Rafael Parente foi
demitido na noite de segunda-feira após se posicionar contra a decisão do
governador de ignorar os resultados de consultas públicas a professores, pais e
alunos desfavoráveis à militarização. Com a baixa, o Palácio do Buriti escalou
Ferraz, que, por ora, acumula os cargos de secretário de Educação e de
Trabalho.
Apesar das tratativas, Ibaneis assegura que deixará
a militarização do Gisno de lado apenas se o Sinpro e João Pedro Ferraz
encontrarem uma solução plausível para o cenário “preocupante” da escola. O
governo classifica como “muito baixo” o Índice de Educação Básica (Ideb) da
instituição e como “muito alta” a reprovação média e a taxa de abandono
escolar. “Se eles tiverem uma opção que tire os alunos da situação em que
estão, eu topo. Quero que as crianças do Gisno tenham um futuro como o dos meus
filhos”, afirmou o governador.
Ibaneis acrescentou que o problema do Sinpro é
“criticar, mas não mostrar saídas”. “Parece que querem a bagunça para continuar
no poder. Estamos há 20 anos sem solução”, ressaltou. Ainda assim, o chefe do
Buriti disse ter confiança no novo secretário para resolver o impasse. “Ele
atuou como procurador-geral do Ministério Público do Trabalho (MPT), ou seja,
lidou com todos os problemas do mundo”, declarou.
Novato na área de gestão de educação pública, Ferraz diz ter “certeza absoluta” de que governo, sindicato e comunidade escolar encontrarão um denominador comum. “Isso porque o nosso interesse também é comum, que é uma boa educação e uma escola de qualidade com segurança para professores, alunos e pais”, declarou Ferraz (leia entrevista na página 18). No colégio da Asa Norte, o placar final registrou 58,49% dos votos válidos contra a gestão compartilhada.
Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro, afirmou que a
entidade não quer permanecer em um cabo de guerra com o GDF, mas destacou ter
legitimidade de opinião. “Queremos uma ação de decisões mais coletivas. O
governador faz questão de colocar como se fosse uma disputa com ele. Mas o
Sinpro atua na defesa do que for melhor para a educação”, argumentou.
Em meio às discussões, o governador ainda não sabe
quem substituirá Ferraz em uma das pastas e cogita a possibilidade de
fundi-las. “Poderíamos transformá-la em Secretaria de Educação e Emprego,
porque as duas coisas estão juntas. Mas isso está em análise. Não tenho
pressa”, disse, após agenda pública no Conselho de Desenvolvimento Econômico.
Uma coisa, porém, está clara para Ibaneis: a
necessidade de acelerar o processo de militarização em outras instituições. A
ideia é criar unidades com 100% dos profissionais militares a partir de 2020.
“Vamos pegar as escolas que se cadastraram no programa. Estou assinando um
decreto hoje (ontem) e levando para a Secretaria de Segurança”, adiantou.
Conciliação: Além de abrir o diálogo sobre a
militarização do Gisno, o governador tentou apaziguar os ânimos com distritais.
Ele havia se envolvido em um bate-boca com o distrital Fábio Félix (PSol) na
tarde de segunda-feira, quando visitou a Câmara Legislativa para entregar o
projeto de lei que cria a Secretaria Extraordinária da Pessoa com Deficiência.
O emedebista se exaltou após ter a postura criticada e ouvir um pedido de
recuo: “Eu não vou discutir com você. A Câmara fique à vontade com seus
esquerdistas”, disparou.
Em carta aberta divulgada ontem, Ibaneis
classificou o episódio como “pequeno incidente”. “Por considerar que a ocasião
era imprópria para a discussão do tema, e após diversas declarações públicas
sobre a matéria, reafirmei o meu posicionamento de forma, possivelmente,
inadequada, destacando que eventuais alterações na condução do assunto deveriam
ser explicitadas em legislação precisa e clara”, afirmou.
O tom,
entretanto, não convenceu parte dos parlamentares. “A carta, em si, é
insuficiente, porque não vem acompanhada da decisão de respeitar a escolha da
comunidade escolar no que diz respeito à militarização”, pontuou Fábio Félix,
em plenário.
Contratação: O Palácio do Buriti nomeou,
ontem, 200 professores de educação básica. Entre as áreas de atuação dos
docentes estão: artes, biologia, ciências naturais, filosofia, física,
geografia, história, espanhol, inglês, língua portuguesa, matemática, química,
sociologia, ciências naturais. Os professores terão a carga horária de 40
horas.
Militarização em duas semanas: A presença de policiais fardados nas cinco novas escolas militarizadas ocorrerá em até duas semanas. Essa é a expectativa do Governo do Distrito Federal (GDF) com base no que ocorreu no primeiro semestre, quando quatro colégios adotaram a gestão compartilhada entre as secretarias de Educação e Segurança Pública. A partir de agora, começam as tratativas para a implementação do modelo. A mudança ocorre de forma gradativa e envolve pelo menos três etapas. Primeiro, há o alinhamento interno entre os dois órgãos envolvidos. Nessa fase, os representantes discutem os procedimentos a serem adotados. Em um segundo momento, há a adaptação com professores e servidores, como maior rigidez no horário de entrada. Por último, começa o envolvimento com os alunos com o modelo militarizado. As escolas que se somam as outras quatro com gestão compartilhada são: Centro Educacional 1 do Itapoã (CED 1), Centro de Ensino Fundamental 19 de Taguatinga (CEF 19), CEF 407 de Samambaia, CEF 1 do Núcleo Bandeirante e Centro Educacional Condomínio Estância III, em Planaltina.
9 - Total de escolas militarizadas no Distrito Federal
Ana Viriato – Fotos: Sarah Peres/CB/D.A.Press –
Correio Braziliense