Acidente fatal na Estrada Parque
de Indústrias e Abastecimento: 44 motociclistas morreram nas vias da capital
nos seis primeiros meses deste ano
Sinal amarelo para os
motociclistas.Quase um terço das vítimas em acidentes fatais ocorridos neste
ano conduziam motos. O crescente número de pessoas fazendo entregas por meio de
aplicativos preocupa o Detran
A série histórica de acidentes de
trânsito com mortes no Distrito Federal traz dados preocupantes para
motociclistas. Apenas no primeiro semestre do ano, 44 morreram nas vias da
capital, 30,5% das vítimas em acidentes fatais. Neste século, o pior índice de
um ano inteiro ocorreu em 2017, quando 26,37% das colisões vitimaram
motociclistas. Só os pedestres morrem mais do que condutores de motos. Os dados
são do Departamento de Trânsito (Detran-DF).
Apaixonado por moto, Audinei
Freire gostava da liberdade de dirigir sem pegar engarrafamentos nem precisar
sair de casa horas antes do trabalho, como pedreiro. “Nós dois tínhamos acabado
de ter uma filha, em 2015, quando recebi a notícia de que um carro tinha batido
nele e o meu marido não tinha resistido”, lembra a viúva, a técnica de
enfermagem Luciene de Carvalho, 21 anos. Audinei tinha 18.
O bebê do casal tinha oito meses
quando o pai morreu. “Depois do nascimento dela, pedi muito para que ele
comprasse um carro e a gente pudesse ficar mais tranquilo, até porque o Audinei
já tinha caído e se machucado, mas a moto era uma praticidade grande que ele
tinha, por morar em Santo Antônio do Descoberto (GO) e trabalhar no Lago Norte,
na Asa Sul e em outras cidades de Brasília”, conta Luciene.
Para a técnica de enfermagem,
atitudes de conscientização poderiam diminuir de forma considerável o número de
acidentes. “Parece que os motoristas dos carros têm raiva dos motoqueiros e
vice-versa. Mas, no trânsito, não pode ser assim, tem que existir respeito e
cuidado com o outro condutor”, defende.
Um pedido recorrente dos
motociclistas são faixas exclusivas, de acordo com Luiz Carlos Galvão,
presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais do DF (Sindmoto-DF).
“Há anos temos essa reivindicação, mas todos os que já foram responsáveis pela
mobilidade do DF prometeram projetos que não saíram do papel”, lamenta. Algo
que vem dando certo e poderia ser ampliado, na visão de Luiz, são os bolsões
para motoqueiros na frente dos carros, em semáforos. “Isso impede que a gente fique
parado nos corredores e deixa o trânsito mais seguro e fluido”, afirma.
Veículos em corredor: motociclitas
reivindicam faixas exclusivas - Trabalho arriscado: O número de motoristas que usam o
próprio veículo para trabalhar aumentou com o surgimento de empresas de
transporte por aplicativo. Motociclistas que fazem entrega de comidas e outros
produtos, por exemplo, são constantemente vistos no trânsito sem cumprir as
especificações necessárias para o serviço. De acordo com o Artigo nº 139 do
Código Brasileiro de Trânsito, que fala sobre o motofrete, é necessária uma
autorização do Detran para o transporte remunerado de mercadorias (leia O que
diz lei). “Muita gente sem emprego recorre a esse meio, sem as condições
necessárias para isso, o que acaba aumentando a estatística de mortes. Para
realizar entrega, o motociclista deve cumprir regras, como ter mais de dois
anos de habilitação, mas tem muita gente que nem tem carteira dirigindo, porque
não há fiscalização necessária”, opina Galvão Luiz.
O diretor de Educação de Trânsito
do Detran-DF, Marcelo Granja, reconhece o problema. “O crescimento de entregas
por aplicativos tem feito com que a gente pense em novas estratégias de
conscientização e fiscalização. Há normas de segurança que são colocadas para
preservar a vida do motociclista. A moto tem que ter um registro específico e o
entregador deve ter curso necessário, por exemplo”, observa.
Marcelo também cita que a forma
como são transportados os produtos causa vários acidentes, pois muitos motociclistas
usam mochilas de grande peso, em vez do baú acoplado à moto. “Isso desequilibra
o condutor, causa derrapagens e acidentes graves. Fazemos bons trabalhos de
conscientização em múltiplos setores, tanto que temos obtido bons resultados
com pedestres e outros motoristas, mas ampliaremos ainda mais as fiscalizações
com os motociclistas.”
O que diz a lei » Segundo
o Artigo nº 139 do Código de Trânsito, “as motocicletas e motonetas destinadas
ao transporte remunerado de mercadorias — motofrete — somente poderão circular
nas vias com autorização emitida pelo órgão ou entidade executiva de trânsito
dos Estados e do DF (Incluído pela Lei nº 12.009, de 2009)”. No DF, a
autorização é obtida no Curso de Formação para Motofrete. O interessado deve
ter mais de 21 anos; ser habilitado, no mínimo, há dois anos na Categoria A;
não estar cumprindo penalidade de suspensão ou cassação do direito de dirigir,
bem como não estar impedido judicialmente de exercer o direito de dirigir; ter
realizado o Curso de Formação para Motofrete.
Fatalidade: Confira as vítimas de acidentes
com morte no primeiro semestrede,2019: Pedestres 55; Motociclistas 44; Passageiros 18; Ciclistas 10; Demais
condutores 10
Idade das vítimas: Até 9
anos 3; De 10 a 19 anos 3; De
20 a 29 anos 25; De 30 a 39 anos 38; De 40 a 49 anos 27; De 50 a 59 anos 24; 60 anos ou mais 21; Não informada 3
Batida fatal em Santa Maria: Um
motociclista de 31 anos morreu após colidir com um caminhão Santa Maria, às
7h30 de ontem, na DF-290, no Polo JK. Duas viaturas e oito militares foram
acionados para participar do atendimento, mas Igor Pereira de Jesus morreu na
hora. O motorista do caminhão, de 40 anos, não se feriu e prestou depoimento à
Polícia Civil. Uma perícia realizada no local vai determinar a causa do
acidente. A motocicleta colidiu contra o parachoque traseiro do caminhão.
Por Alan Rios
- Fotos: Antonio Cunha/CB/D.A.Press - Breno Fortes/CB/D.A.Press
- Correio Braziliense
Tags
BRASÍLIA - DF



