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E agora???


E agora???

*Por Jane Godoy

“O valor de uma civilização é medido não pelo que sabe criar, mas pelo que sabe conservar” (Edouard Herriot)

Os leitores mais antigos e assíduos devem se lembrar bem do recurso que sempre usei para conscientizar essa ou aquela autoridade sobre algo que estava acontecendo ou sobre alguma providência que precisava ser tomada, urgentemente, para beneficiar a cidade, a população, um bairro, um logradouro ou o que mais necessitasse naquele momento.

Eram os então famosos recadinhos que, acreditem, davam certo. A partir deles, diretamente enviados às pessoas competentes, raramente não eram atendidos. Temos em nosso currículo e na história desta coluna um sem número de conquistas e vitórias, ao longo desses quase 17 anos em que visitamos, todos os dias, os lares de centenas de leitores.

Alcançado o objetivo, atendida a reivindicação, todos ganhavam aqui, com muita alegria, outra sessão, que batizamos de Aplauso!. Sempre seguido de uma foto do local ou da pessoa em questão, e um texto empolgado e feliz.

Só que o ato de louvar é, muitas vezes, chamuscado por tantas outras situações negativas e preocupantes, que nos levam ao dever de apontá-los e colocá-los contra a parede, para que possamos encará-los e admiti-los com sangue frio e a lucidez tão necessária para discernir sobre aquilo que não anda bem e, em caráter emergencial, buscar uma solução para o que tanto nos aflige.

Hoje, estou aqui, diante de meu teclado, considerando que, talvez, este seja o texto que mais me inspira cuidados na sua elaboração.

Difícil mesmo, pois o assunto, além de desagradável para quem tem um mínimo de educação e (ou) preocupação com o futuro de nossos jovens, nos deixa inseguros.

O recadinho de hoje ou, como eu prefiro, pedido de socorro, será enviado para o ministro da Educação, Abraham Weintraub, e para o secretário de Educação do Distrito Federal, João Pedro Ferraz dos Passos. Seguido das “perguntas que não querem calar”: O que fazer? Como fazer? Como agir? Como reagir?

Como solucionar esse problema que assola a educação no país e nos municípios, que está conduzindo alunos e professores às raias da extrema falta de respeito, de hierarquia, de disciplina, de valores?

O que foi que aconteceu ou o que fizeram com a educação neste país, que levou nossos jovens a não mais terem noção de quem é ele e quem são os professores, fazendo das salas de aula uma verdadeira arena, onde vence o mais desbocado, o mais mal-educado, o mais violento?

Atenta e preocupada com tudo isso, há anos, desde que a escola passou a ser um pátio para shows de mau comportamento e desrespeito por parte de alunos e de professores, venho observando e ouvindo uns e outros, além de pais, para tentar descobrir e entender o que fizeram com a educação de nosso país.

Além de precária, insuficiente, que não capacita ninguém para a vida diária e muito menos profissional, começa a criar funções e atitudes que não têm nada a ver com a real finalidade da escola: a de ensinar matérias exigidas pelo currículo escolar.

Em vez disso, não sabemos até hoje por conta de quem ou do que, enveredando por terrenos obscuros, que nunca foram de sua alçada ou função. Violam a autoridade e a criação familiar, “metendo o nariz onde não são chamados!”.

Deixando esse perigoso explosivo de lado, o assunto hoje é o relato de alunos de uma escola, numa cidade do DF, num curso noturno para adolescentes e adultos, quando uma professora, irritada com os alunos que ela não consegue educar e disciplinar, sem saber impor respeito, os manda “tomar naquele lugar”, seguido do gesto obsceno que identifica o destino indicado.

Melhorou a situação? Claro que não! E a pobre e indefesa representante da sala, uma das mais velhas da turma, impotente e com medo de represálias inimagináveis, se cala amedrontada. Torna-se vítima, então, dos colegas que a qualificam dos menos elogiosos e impublicáveis adjetivos.

Eis a questão: tentar estudar, apesar do que vai sofrer na escola, ou deixar a capacitação para a próxima encarnação?

Sempre fui, e continuo sendo, a maior defensora dos professores, como uma delas que fui, dando uma matéria importante que é a educação moral e cívica, como contei aqui várias vezes.

Os professores de nossos filhos sempre tiveram o nosso apoio e a cumplicidade na orientação educacional deles. Cobrávamos respeito, obediência e total cumprimento de seus deveres para com a escola e, em contrapartida, recebíamos dos professores o mesmo que nossos filhos levavam para a escola: respeito e a consciência sobre quem era quem naquele contexto.

Armazeno histórias incríveis ocorridas no período escolar dos nossos filhos, dos quais muito nos orgulhamos e sentimos saudades.

Hoje, são cidadãos, profissionais trabalhadores e competentes. Sorte deles (e nossa) terem vivido numa época em que o respeito mútuo e a verdadeira atribuição família-escola obedeciam ao que, desde os primórdios da civilização, os romanos ensinavam: “Honeste vivere — viver honestamente; alterum non laedere — não lesar a outrem; sun cuique tribuere — dar a cada um o que é seu”.

Hoje, temos netos. Angustiados, nos perguntamos: “E agora?”.

(*) Jane Godoy – Coluna 360 Graus – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google


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