" Quem tem de aprovar ou
desaprovar (o modelo de escola militarizada) não são os professores, é a população.
E ela está feliz com esse processo"
*Por Ana Maria Campos - Alexandre de Paula
O aparelhamento da máquina pública e as velhas
práticas enraizadas nas secretarias fizeram o governador Ibaneis Rocha (MDB)
chegar ao ponto de acreditar que o Governo do Distrito Federal não tinha jeito.
Novo na política, a pressa e a vontade de executar do emedebista esbarraram nos
entraves cotidianos. Em entrevista concedida ao Correio em seu gabinete, no
Palácio do Buriti, o governador garantiu, no entanto, que a sensação passou e
que agora a gestão começou a entrar nos trilhos.
“Entramos em outro ritmo. Os secretários
pegaram bem qual é o espírito do governo”, assegurou.
Na conversa, o
governador defendeu o projeto de militarização de escolas na capital e afirmou
que não tem dúvidas de que a população aprova o modelo, questionado por alguns
colégios e pelo Sindicato dos Professores. “Eu fui eleito para entregar alguma
coisa melhor do que o passado entregou”, disse. Para o emedebista, a segurança pública é um dos
setores em que o governo deu certo. Os índices de criminalidade, observa,
diminuíram, e o governo trabalha em busca de caminhos para tratar a questão do
feminicídio. Em contrapartida, desenvolvimento social e educação são as áreas
que mais precisam de evolução, na visão dele.
Ibaneis também comentou a polêmica com o Tribunal
de Contas da União (TCU). Decisões do órgão de controle impuseram impacto
severo ao orçamento do Distrito Federal. Em reação, Ibaneis fez declarações
duras contra ministros da Corte e recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Frisando que busca apoio do governo federal para
diversos projetos do DF, o chefe do Buriti comentou o comportamento do
presidente Jair Bolsonaro (PSL). O emedebista não concorda com todos os
posicionamentos dele, mas elogia a autenticidade. “Ele não está traindo o
eleitor”, avaliou.
Advogado, Ibaneis fez também críticas à atuação da
Operação Lava-Jato: “Ela precisa ser corrigida. Se não, o que poderia ser o
maior exemplo da República no combate à corrupção pode se tornar o maior ato de
perseguição política da história do Brasil”, afirmou.
O MP, junto ao TCU, questionou o uso de
policiais nas escolas militarizadas. Como o senhor viu isso?
Eu resolvo isso
já.
Na Justiça?
Não. Eu estou
fazendo o que tenho de fazer: política. Estou trabalhando na Presidência da
República, com quem tem interesse de que as coisas funcionem.
Transformou-se
num projeto nacional, né?
Claro. Se eles
querem impedir, por que não fazer a representação contra a União, que botou
todos os governadores para aderir ao projeto? Essa turma com salário de R$ 40
mil, que não pensa no país, tinha que, primeiro, olhar a necessidade das
pessoas.
Existe uma
aceitação muito grande do projeto das escolas militarizadas. O que
aconteceu nas duas escolas que rejeitaram o modelo?
No que diz
respeito às escolas, o primeiro erro foi do ex-secretário (Rafael Parente) de
querer tratar educação com muita democracia. Algumas coisas têm de ser
determinação de governo. Eu fui eleito para entregar alguma coisa melhor do que
o passado entregou. Então, eu não tenho dúvida de que a política está correta e
de que a população aprova. Quem tem de aprovar ou desaprovar não são os
professores, é a população. E ela está feliz com esse processo. Os resultados
naqueles locais em que existe há mais tempo são muito positivos, e, no Distrito
Federal, nós vamos mostrar que também são. O que temos de deixar com muita
clareza é que é um modelo. Ele não precisa ser implementado em todas as
escolas. Agora, eu estudei em escola que não era militarizada, mas você
chegava, cantava o Hino Nacional, vestia o uniforme, tinha obrigação de estar
com uniforme limpo. Hoje, perdeu-se esse sentimento de que você tem de fazer as
coisas corretas, inclusive dentro das escolas. Coloquei o projeto de criar 40
escolas assim até o fim do governo. Quero dar para as crianças uma oportunidade
diferente.
Haverá gestão
compartilhada com a Justiça também?
A nossa ideia é
que a Justiça também possa ajudar nisso. Nós temos um grande número de
magistrados e servidores dos tribunais, de membros do Ministério Público que
têm altíssima capacitação, não estão mais na ativa e gostariam de voltar mesmo
que por um salário menor. Voltando à polícia, um policial civil ou militar se
aposenta por volta dos 55 anos. O que uma pessoa dessa, que tem expectativa de
vida de 75 anos, segundo as pesquisas, vai fazer? Então, esse é um projeto que
tem como usar essa mão de obra qualificadíssima para servir à sociedade. Quero
trabalhar com isso não só nas escolas. Vamos levar para a área administrativa
de delegacias e quartéis para colocar mais policiais da ativa nas ruas, além de
fazer com bombeiros, agentes penitenciários, professores e na saúde. É um
projeto que tem de ser expandido. Vamos diminuir, nesse momento de crise, nosso
gasto com contratações e trazer mão de obra qualificada a um custo menor.
O orçamento de 2020
prevê menos gastos com pessoal. Como isso será feito?
A ideia é
exatamente essa. Nós temos de criar iniciativas e soluções. Conversei com um
representante do Ministério da Economia, e nós vamos disponibilizar mais
serviços pela internet, vamos nos integrar com o projeto que existe no governo
federal. Nós vamos enxugar a máquina com tecnologia. Então, o nosso processo
agora é de transformação. A maioria dos serviços que estão no balcão poderiam
ser feitos pela internet. Com isso, reduz-se muito os gastos com terceirizados,
com servidores e incentiva-se as áreas meio e nas áreas fim que são as mais
importantes para a população.
Isso deixa o
processo mais rápido também...
Esse é o futuro:
as pessoas resolverem as coisas pela internet. Tudo muito mais rápido e
econômico. Assim, economiza-se com pessoal, com a máquina pública, com o
custeio e, aí, você vai ter dinheiro para investir na ponta, que é aquilo o que
realmente interessa.
A proposta de
investimento é ousada: R$ 12 bilhões nos próximos três anos.
Vai chegar a mais.
Basta a gente ter uma resposta positiva, principalmente do empresariado. Hoje,
o empresariado, por conta dessa incerteza mundial que se agrava com a crise do
petróleo, ainda está um pouco reticente. Mas estive, por exemplo, no Noroeste e
vi vários prédios sendo construídos. Coisa que não se via havia muito tempo.
Estão retomando as obras, as coisas estão voltando. Prova de que o
empresariado, mesmo o mais tradicional do setor imobiliário, do setor de
veículos, está voltando a investir. Passando essa instabilidade, acho que,
virando o ano, vamos ter muito desenvolvimento, muita arrecadação e condições
de preparar o DF para crescer.
Como está a
discussão para editar uma medida provisória que mude a gestão dos
aumentos para os servidores pagos pelo Fundo Constitucional?
Eu tenho
trabalhado muito com a minha assessoria, com o Anderson Torres (secretário de
Segurança Pública), o André Clemente (secretário de Economia) e o Gustavo Rocha
(secretário de Cidadania). Tenho dito para eles: “Vamos trabalhar junto com a
Presidência da República”. Esse modelo que foi criado pelo Fundo Constitucional
ficou no passado. Eles estão estudando com os técnicos da Presidência, do GDF e
algumas pessoas do Ministério da Economia uma fórmula que garanta a aplicação
correta do Fundo Constitucional para evitar os erros do passado. Nesse ponto,
eu concordo com o Tribunal de Contas da União. Houve muitos erros. Eles só não
precisavam querer que eu resolvesse tudo no início do meu governo (em
referência a decisões do TCU sobre o Fundo Constitucional com impacto
bilionário para os cofres do DF).
Não é algo que dá
para se resolver de uma vez...
Até porque, antes
mesmo dessas últimas decisões, tinha sido editado o decreto da Presidência para
a discussão do Fundo Constitucional, e nós tínhamos indicado a nossa equipe
para acompanhar. Então, foi um ato, na minha visão, até mesmo de desprestígio
ao próprio presidente da República, que editou o decreto. Eu sou muito
explosivo e, com aquele sentimento de revolta, tenho certeza, até, que exagerei
na reação que tive naquele momento, mas foi o exagero de alguém que nunca foi
da política e chegou para resolver problemas e não encontrou nenhuma parceria.
Depois, o senhor
tratou desse assunto de maneira bem mais calma, bem mais
contida.
O Tribunal de
Contas é um fato isolado, não trato mais. Deixa os procuradores tratarem.
O senhor suspeita
que exista alguma ação política na ação do Tribunal para impedir o
sucesso do governo?
Não do meu
governo. São algumas vontades, algumas coisas pessoais. Eles são muito
politizados. Eu acho até que o Tribunal deveria ser repensado. Com tantas
indicações políticas, eles terminam tendo suas paixões. Hoje, sou defensor de
uma revisão do TCU do ponto de vista das indicações.
E como seria essa
revisão?
Eu penso que tem
de se pensar num novo modelo, que privilegie a parte técnica. Talvez até
indicações como funcionam nos tribunais superiores, nos TRFs, STJ, TST, com vagas
destinadas a todos os setores. Você pega, por exemplo, a Ana Arraes, que era do
PSB, e, por muito tempo, não deixou os procedimentos andarem porque o (Rodrigo)
Rollemberg estava no governo. Para um Tribunal que deveria ser técnico, o
ambiente não está legal.
"Não há dinheiro para
investir em mobilidade, porque tudo vai no Passe Livre, nas gratuidades e nas
absorções. Se eu aumento tarifa para investir em mobilidade, todo mundo
reclama"
O senhor assistiu à
entrevista do ex-presidente Michel Temer no Roda Viva?
Vi. Ele está muito
bem. E está se mostrando agora o que tem sido a Lava-Jato (que prendeu Temer).
Ela precisa ser corrigida. Se não, o que poderia ser o maior exemplo da
República no combate à corrupção pode se tornar o maior ato de perseguição
política da história do Brasil. Perseguição maior até do que na ditadura,
porque na ditadura as coisas eram feitas às claras. O presidente da República
mandava o nome, e o Congresso cassava. Agora, as pessoas são cassadas com
utilização da Justiça, do Ministério Público e da Polícia Federal. Isso é
escandaloso. Com isso, você transforma o combate à corrupção em algo muito
ruim. A Lava-Jato pode criar o maior mártir da história do Brasil: Luiz Inácio
Lula da Silva. Se o Supremo anular uma condenação ou colocar qualquer pecha em
cima da Lava-Jato em relação à prisão do presidente Lula, ele vai ser um
presidente preso injustamente. Imagine o Lula fazendo uma campanha nas ruas
dizendo que foi preso injustamente.
Com o olhar de
advogado, o senhor acha que a Lava-Jato foi uma boa
causa?
O preço da
democracia é atender a Constituição e as leis. Não existe ninguém que está
acima da Constituição e das leis da República. E o Ministério Público se achou
acima disso. Nós apontávamos isso lá atrás. Quando eu estava na diretoria da
OAB, dizíamos que os métodos da Lava-Jato não estavam corretos. Só que nós não
tínhamos acesso à informação, até porque elas estão nos órgãos de controle. Tem
de se corrigir, mas isso não quer dizer que os processos não possam voltar, e
essas pessoas serem condenadas, mas condenadas dentro de um processo legal.
Esse é o preço da democracia.
As mensagens
divulgadas deixam claro isso, que houve irregularidades?
Mais do que claro.
Imagine a situação em que um advogado e um juiz trocassem mensagens combinando
a sentença ou o que deveria ser feito para colocar uma determinada investigação
em xeque, que o Ministério Público estivesse conduzindo. Estavam presos o
advogado e o juiz.
Em alguma situação,
como advogado, o senhor esteve tão próximo assim de
um juiz?
Não. Eu tenho
relações honestas. Passei 25 anos na advocacia e sou amigo de diversos
magistrados, mas não existe isso. Não existe. De maneira nenhuma.
O senhor comentou
que o secretário de Segurança Pública, Anderson Torres,
ajuda na relação com a Presidência. Ele está cotado para a direção da Polícia
Federal. Ele fica no governo?
Ele detém a
confiança exatamente do presidente por ter sido uma pessoa correta ao longo
desse tempo. Agora, posso afirmar que ele é um profissional muito correto.
Posso garantir também que ele é um grande gestor da segurança pública e vai
fazer muito bem à Polícia Federal, vai ajudar a oxigenar a corporação. Gostaria
muito que ele continuasse como secretário ao longo de todo o governo, mas isso
é um desejo pessoal.
A segurança é uma
das áreas que já deram certo em seu governo?
Sim. Nós
diminuímos quase todos os índices. “Ah, mas e a questão do feminicídio, que é o
que mais aparece?”. O feminicídio não aumentou nem diminuiu. Ele apareceu, é um
crime recente, que passou a ser qualificado a partir da lei e que ganhou
determinada visibilidade por ser contra as mulheres e, geralmente, em situação
em que elas estão sendo diminuídas dentro do seio da família. Nós estamos
trabalhando muito.
Combater o
feminicídio é difícil…
É, mas nós vamos
aprender. Eu pedi para fazer pesquisa, aqui no âmbito do governo, para que
possamos tomar orientação das campanhas que temos feito.
Algo similar ao
que ocorre com o
suicídio? Quanto mais se fala mais se incentiva?
Isso. Eu estou
muito preocupado com essa questão até para orientar as nossas divulgações. Pedi
para reunir uma equipe de psicólogos e psiquiatras para que nos orientem. É um
momento em que todos nós estamos atônitos. É um crime que envolve toda a sociedade.
Pedi para que as campanhas tenham a participação de todas as secretarias para
que nós pudéssemos avançar pelo menos no que está dentro da nossa capacidade.
Nós precisamos muito compreender o que é isso. Não consegui ninguém que
conseguisse achar uma saída.
O senhor fez uma
reunião com todos os secretários esta semana, com muitas
cobranças. Como foi?
Foi uma reunião
muito feliz. Olha, até o mês de julho, início de agosto, eu estava muito
preocupado. Em alguns momentos, eu pensei que isso aqui não tinha jeito. Nos
últimos mês e meio, dois meses, entramos em um outro ritmo. Os secretários
pegaram bem qual é o espírito do governo. Está todo mundo acelerando, mas com
muita tranquilidade. O segundo e o terceiro escalões começaram a entender
também a mensagem. Tem muita coisa para ser quebrada que vem desde a época do
(ex-governador Rogério) Rosso, talvez um pouco atrás. As políticas não são
implementadas com a velocidade que a gente gostaria. Mas estão começando a
chegar lá.
"Se o Supremo anular uma
condenação ou colocar qualquer pecha em cima da Lava-Jato em relação à prisão
do presidente Lula, ele vai ser um presidente preso injustamente. Imagine o
Lula fazendo uma campanha nas ruas dizendo que foi preso injustamente"
Esse modelo que o
senhor criou com a Secretaria de Governo e a Casa Civil deu mais liberdade para
fazer política?
Deu mais
tranquilidade. Tem alguns problemas que são internos, que precisam ser
resolvidos e que eu estava me desgastando muito para fazer andar. Então, hoje,
converso com o Valdetário (Monteiro, chefe da Casa Civil), e ele vai cuidando
dessa questão interna, principalmente no que diz respeito a licitações,
contratos. Essa é uma grande reclamação que tenho. Recebi um relatório que
mostra um contrato feito em 2010 e, de lá para cá, nunca mais foi licitado. É
uma empresa que recebeu R$ 500 milhões do GDF por meio da Secretaria de Saúde.
Eu determinei que isso acabe. Nós temos de ter licitações regulares, em que as
empresas realmente tenham preços justos. Vamos editar dois decretos para tratar
daqueles pagamentos que estão em contrato de indenização.
O que esses
decretos vão prever?
Vai haver um prazo
para que seja feita licitação, mesmo que emergencial. No mesmo dia do
lançamento da licitação emergencial, vai ter de se soltar a licitação regular —
ou, no máximo, em 30 dias —, e eu vou responsabilizar o gestor pelos
pagamentos de contratos dessa natureza. Vou regularizar todos os contratos,
mesmo que, para isso, tenhamos de mudar muito dentro da máquina.
O senhor falou
sobre a Secretaria de Saúde, é uma das áreas mais difíceis, com mais
reclamações. O que dá para fazer para avançar?
Dá para fazer
muito. Está sendo feito muito. A população sente isso. Existia uma estrutura
com atendimento muito grande e recursos altos, mas não havia uma cultura da
cobrança, e nós vamos ter de implementar isso: uma cultura de cobrança, de bom
atendimento, de prestação de serviços. Nós estamos treinando servidores que vão
falar com as pessoas na porta do hospital para saber como foi o atendimento,
quanto tempo demorou, o que vai ser feito. Nós vamos implementar essa nova
cultura. Estamos usando o instrumento que nós temos, que é o Instituto de
Gestão Estratégica da Saúde do DF (Iges-DF). Ele está funcionando muito bem,
mas pode melhorar muito. A partir do próximo ano, o Instituto vai passar a
orientar a gestão dos hospitais públicos.
Como se fosse uma consultoria
do Instituto para os outros hospitais?
Isso. Nós vamos
começar escolhendo um deles, menor, e vamos cobrar índices, ver o que está
faltando, se é medicamento, se é pessoal, e levar o modelo do Iges para dentro
dos hospitais da rede pública sem interferir na gestão direta. Vai ter diretor,
que vai ser público, vai ter o superintendente da regional, que vai ser
público, mas nós vamos ter o acompanhamento dos índices de gestão e
monitoramento pelo instituto.
A gestão nesses
hospitais não vai ser feita diretamente por causa da
polêmica que houve em relação a isso?
Não, mas porque eu
acho que não pode ser tudo privado. O que nós temos de criar é modelos. No
início, o senhor queria implementar em mais hospitais… Naquele momento,
era SOS. Eu precisava fazer alguma coisa em relação à saúde. Então, a vontade
era pegar todos. Hoje, com esse período de governo, eu acho que dá para fazer
essa experiência de pegar o que deu certo no Iges-DF e aplicar na rede pública.
Tem alguma área que
está abaixo da sua expectativa?
Nesse período,
acho que a área social foi a que mais sofreu. Eu acabei de trocar o secretário
de Desenvolvimento Social justamente por isso. Não que o ex-secretário fosse
ruim, mas ele não conseguiu ter gestão sobre a pasta. É uma estrutura grande,
ele ficou ali e não conseguiu colocar os programas para funcionar, programas de
fácil implementação, como o Pão e Leite e Mãe Crecheira. Custam muito pouco,
eram um compromisso de campanha e parece que não tinham lido o meu compromisso.
Então, dei um prazo de 90 dias para que sejam implementados. Outra área que tem
de melhorar muito é a Educação. Tem um orçamento de R$ 10 bilhões. Fiz uma
reunião na semana passada e pedi que economizassem R$ 500 milhões para investir
em sala de aula e creche, e os servidores não sabem de onde tirar. Então, pedi
para trazerem as planilhas, e eu mesmo vou dizer onde cortar. Vão trazer, mas
eu sei de onde tirar.
De onde?
No transporte de
alunos. Tem locais em que se transporta 80% dos alunos. Então, gasta-se R$ 180
milhões, no todo, para poder transportar os alunos, e uma escola naquela
localidade custaria R$ 4 milhões. Com três meses de transporte que se
economizasse, daria para construir a escola.
O secretário João
Pedro Ferraz continua acumulando as pastas de Educação e Trabalho?
Sim, porque estou
seguro dele na Educação, mas não estou em relação ao destino da Secretaria de
Trabalho. O Ministério do Trabalho foi extinto, e eu vi anunciado que o
presidente Bolsonaro está pensando em fazer algumas reformulações. Então, quero
aguardar um pouco para fazer algo semelhante. Preciso de alguém que nos ajude
na busca por empregos, e isso não vai funcionar se não for em parceria com o
governo federal.
O senhor citou
muito a busca por apoio do governo
federal. Como está essa relação? Está próxima, melhor?
A nossa relação
com o governo federal é excelente. Somos muito bem recebidos por todos os
ministros. O presidente Bolsonaro tem mostrado um carinho muito grande pelo
Distrito Federal. E eu posso não concordar com muita coisa que o presidente
Bolsonaro fala, e até digo que não concordo, mas ele não está falando nada que
a população não tenha ouvido ao longo da campanha. Ele está sendo sincero com
os seus compromissos. Isso é muito bom, muito salutar num homem público. Ele
não está traindo o eleitor dele. Vejo também muita boa vontade em acertar, só
que a máquina pública é muito difícil de se movimentar, porque está toda
aparelhada e, para desaparelhar, não é fácil.
O plano de presidir
o MDB nacional não avançou?
Desde o início, eu
tenho dito que não tinha nenhum projeto de ser presidente de partido. Eu fui
convidado por líderes partidários — um convite que partiu do presidente José
Sarney, que eu respeito muito — para tentar fazer a máquina do MDB voltar a
funcionar. Eu acho que cumpri o meu papel, tanto que outras pessoas se
colocaram como candidatos.
Então, o senhor
não pensa em sair do MDB?
Eu gostei do
partido. É um partido que tem aceitação muito forte no Distrito Federal, e eu
vi isso nas ruas. A memória é muito forte para a população, principalmente a
mais carente. A parcela que não gosta do MDB é a que está mais à esquerda e que
jamais vai mudar seu pensamento. Hoje, a população não tem a visão de que o MDB
é um partido corrupto. Ela entende muito bem que a corrupção foi sistêmica e
ocorreu em todos os partidos.
Foi noticiado que o
senhor gostaria de assumir a Presidência do Flamengo. É
verdade?
Vieram me
perguntar qual seria o meu futuro em 2022. E eu disse que sou uma das únicas
pessoas hoje na política que pode escolher o que vai fazer. Mas só vou decidir
isso no fim do próximo ano. Eu vou analisar. Passadas as eleições municipais,
vou fazer pesquisas, sempre trabalhei assim, e vou ver se estou bem, se a
população aceitou meu trabalho. Eu quero saber qual aceitação da população em
relação à política pública que estou implementando. Com o povo, você vai a
qualquer lugar. Então, posso ser candidato à reeleição. E posso ser candidato
ao Senado, que talvez seja a situação que eu menos queira. Tenho dificuldades
com o parlamento, porque gosto de executar. Também posso voltar para o meu
escritório. Falei isso, me perguntaram o que eu queria, e eu disse: “Se não
ficar na política, quero ser presidente do Flamengo. Vou viver de alegrias”.
Mas não é nada sério, o (Rodolfo) Landim está fazendo um excelente trabalho na
Presidência do nosso time.
Naquele episódio
com o Vasco, pesou o coração de flamenguista?
Ali, reconheci que
errei. Eu estava ao lado de uma criança. O pai dele trabalha na administração
de Ceilândia, ele tinha um sonho de ver um jogo e foi comigo no camarote.
Quando terminou, ele virou para mim e disse: “Governador, vamos dar uma zoada
no time do Vasco”. Eu pensei que era para mostrar para os colegas da escola.
Não imaginei nunca que teria uma repercussão daquelas, mas deveria ter
imaginado. Meu erro foi exatamente esse.
Depois que vira
governador tem de pensar em cada palavra, né?
As pessoas não
estão acostumadas com sinceridade. Nós vivemos uma época do politicamente
correto. Eu sou um ser humano como qualquer um, que tem emoção, que tem
chateação, que toma remédio para pressão, para depressão, para tudo. Eu tenho
uma vida e não posso acabar com ela porque sou governador. Daqui a quatro anos,
isso aqui passa, e eu voltar para a sociedade.
O presidente Jair
Bolsonaro, às vezes, exagera nisso, não?
Não digo que ele
exagere. Ele sempre foi assim como parlamentar, durante anos. Nunca escondeu
suas convicções. Então, a população queria isso.
Mas falar de cocô e
o episódio com a mulher do Macron…
Ele exagera um
pouco. Como estou dizendo, não concordo com tudo. Quando ele falou da Maria do
Rosário, se comparar com a história do cocô, foi muito pior. Mas não dá para
reclamar que ele não seja autêntico e, talvez, o país precisasse de um
presidente autêntico para saber de que lado ficar. Inclusive, de lado nenhum.
Como está a relação
com a Câmara Legislativa? O presidente Rafael Prudente (MDB)
está conduzindo bem?
Está muito boa. O
Rafael, como dizemos lá no Nordeste, é muito jeitoso. Ele tem suas posições e
soube conduzir com muita firmeza esses primeiros meses, mesmo com uma Câmara
difícil, com 18, 19 partidos. Estou muito satisfeito. Em alguns momentos, há
reações que do ponto de vista da sociedade são estranhas, mas respeito.
Quais reações?
Não querer
discutir a questão de redução de gastos no transporte público, por exemplo, e
algumas coisas que poderiam ser mais bem debatidas. Mas do jeito que eles têm
os arroubos deles, eu tenho os meus. Está tudo tranquilo.
O senhor faz
referência aí à questão do debate
do Passe Livre Estudantil. Continua nos planos discutir isso?
É bom que se
discuta. Eu queria que se criasse esse ambiente de debate. Nessa história de
gratuidade demais, alguém está pagando a conta. Agora, por exemplo, eu absorvi
R$ 30 milhões do reajuste dado às categorias para não aumentar tarifa. Esse
dinheiro está vindo de algum lugar. Nós temos de pensar nisso. Não há dinheiro
para investir em mobilidade, porque tudo vai no Passe Livre, nas gratuidades e
nas absorções. Se eu aumento tarifa para investir em mobilidade, todo mundo
reclama. De onde vem o dinheiro? Essa é a grande pergunta que temos de fazer.
Estou buscando, do nosso lado, fazer economia, mas todo mundo deveria fazer
isso.
(*) Ana Maria
Campos - Alexandre de Paula - Fotos: : Marcelo Ferreira/CB/D.A Press) -
Correio Braziliense
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