Uma construção ousada e um conteúdo recheado de memórias de Brasília. Instituto Histórico e Geográfico do Distrito
Federal reúne acervo de livros, documentos e objetos raros que contam tudo
sobre os primeiros anos da nova capital do país
Do lado de fora, colunas que lembram uma aranha – ou
uma espaçonave, ou uma Catedral invertida –, o busto de Juscelino
Kubitschek e um espelho d’água castigado pela seca de setembro. Dentro,
cadeiras do saudoso Cine Bruni (que talvez você nunca tenha ouvido falar), o
Jeep onde Bernardo Sayão, Lucio Costa e Israel Pinheiro andavam para visitar as
obras de construção da nova capital e a cadeira onde JK se sentou para assistir
a primeira missa da cidade, na Praça do Cruzeiro.
Memórias,
histórias e um apanhado de curiosidades sobre a fundação e os primeiros anos de
Brasília fazem parte do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal
(IHG-DF), localizado na 703/903 Sul, na Asa Sul. Apesar da grandiosidade
arquitetônica do prédio projetado por Milton Ramos – que deixou seus traços no
Teatro Nacional, no Itamaraty e no Hospital de Base –, o espaço que reúne museu
e escola passa despercebido por grande parte da população. Inaugurado em junho
de 1964, se junta a outros institutos de outros estados, além do nacional,
sediado no Rio de Janeiro.
O propósito é reunir o acervo da fundação de Brasília – e de seu
fundador. É um primo público do Memorial JK, entidade privada em homenagem ao
ex-presidente do Brasil idealizador de Brasília. Aliás, há muito de Juscelino
por lá. Se os restos mortais do mineiro estão hoje no memorial do Eixo
Monumental, no Instituto Histórico e Geográfico está a lápide que cobria a sua
sepultura antes da exumação do corpo.
Peças
raras: Jeep Willys 1952 branco que transportava os construtores pelas obras da
cidade.
O museu do
instituto é um caso à parte. Além do atlas apontando a região onde seria
construída Brasília, há um baú usado pela comissão Cruls – que visitou a região
para estudar o melhor ponto de instalação da nova capital, o Jeep Willys 1952
branco que transportava os construtores pelas obras da cidade, a cadeira onde
Juscelino Kubitschek se sentou para assistir a primeira missa, ainda em
1957, além dos enormes projetos de extinto Cine Bruni.
Objetos pessoais de JK e parte da exposição do centenário do
ex-presidente, criada por Elifas Andreato, também estão abertas aos
visitantes. As aulas assistidas pelos estudantes são ministradas em um
auditório com as poltronas originais da sala que funciona no Setor Bancário
Norte – no tempo em que ainda era permitido fumar dentro delas.
Turistas curiosos em saber mais sobre a cidade aparecem por lá, mas são
as crianças e os adolescentes – e até os adultos, do curso de pedagogia da
Universidade de Brasília (UnB) –, em visitas agendadas, o público alvo do
instituto.
Cadeira onde JK se sentou para assistir a primeira
missa.
A palestra,
seguida de visitação e de atividades lúdicas ocorrem nos turnos da manhã e da
tarde às segundas, quintas e sextas-feiras. Até dezembro de 2019, a agenda de
visitações gratuitas está lotada – e ainda há fila de espera. Até agora, 90 mil
estudantes já passaram por lá.
Escolas: Desde 1994, a história da cidade é ensinada a quem vai ensiná-la.
Disposto a diminuir a carência de conhecimento sobre a história e geografia
local, o Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal fez um acordo com
a Secretaria de Educação. A parceria resultou na criação do programa
educacional Distrito Federal: Seu Povo, Sua História.
Até agora, 90 mil estudantes já visitaram por lá.
O IHG-DF
disponibiliza seu espaço, instrumentos, equipamentos e acervo
histórico-museológico e bibliográfico. Em contrapartida, a pasta libera
professores das áreas de história, geografia e pedagogia com perfil para
educação patrimonial em museu.
Anualmente, são mais de seis mil alunos atendidos pelo programa. A
professora Denise Coelho, 48 anos, e mais três colegas: Ivana Caldeira, Otávio
Oliveira e Luiz Gustavo Leonel, são os responsáveis por ampliar os
conhecimentos dos alunos que visitam o local.
“O programa foi criado pela dificuldade das escolas em encontrar
material didático que traga o conteúdo, além disso, muitas escolas trabalham a
história do Brasil e não fala da história do Distrito Federal. Às vezes outras
pessoas de outras regiões conhecem mais sobre a capital que os próprios
moradores”, frisa Denise.
Formação: Todas as terças-feiras, professores da rede pública assistem aulas no
curso Distrito Federal – seu povo, sua história, com carga horária de 180
horas. Dali, saem prontos a expandir os conhecimentos do que formou a Brasília
de hoje. As atividades acontecem em parceria com a Secretaria de Educação.
“Brasília ficou de fora dos livros no período do governo militar.
Ajudamos a resgatar muito do que ficou pra trás”, explica a
secretária-executiva do Instituto Histórico e Geográfico do DF, Agnês de Lima
Leite, há 24 anos na instituição.
A equipe de professores do instituto ainda promove um clube de leitura
aberto à comunidade em que ao menos um dos títulos lidos trate da história de
Brasília. Um trabalho semestral também é feito com alguma unidade de ensino em
que os alunos, depois de quatro meses, fazem uma apresentação sobre um tema
específico da capital. Neste semestre o protagonista é o Lago Paranoá.
Experiências: A professora Daniane
Bevenito já levou mais de dez turmas para participar da ação.
A professora de geografia Daniane Carvalho
Bevenito, 42 anos, já levou mais de dez turmas para participar da ação, como os
estudantes do 7º ano do Centro Educacional 04 do Guará. “Todo ano trago alunos
aqui. Complementa o meu conteúdo. O material é ótimo e sempre há mudanças nos
temas trabalhados.”
A estudante Isa Vitória de França Saraiva, de
13 anos, aprovou a iniciativa. “Toda escola deveria trazer os alunos aqui
porque possibilita mais aprendizado”, defende. Para ela, aprender a contar a
história de própria cidade é importante, ainda mais sendo a capital do Brasil.
“Temos que conhecer não só o presente, mas também o passado. Agora tenho mais
conhecimentos que poderei passar para meus familiares. Eles também vão gostar
de saber”, disse.
Galeria de Fotos: https://bit.ly/2m4cMlC ,
Hédio Ferreira Júnior - Emanuelle Coelho - Agência Brasília - Fotos: Renato Araújo - Paulo H. Carvalho