Impunidade ainda é problema, diz Moro. Segundo o ministro, combate
à corrupção deve ser visto como missão do país, e não de uma força-tarefa
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, disse ontem que
o número de crimes recuou no Brasil desde o início da sua gestão, mas afirmou
que a impunidade continua sendo um grande problema no país. Em palestra durante
evento dirigido a investidores, em São Paulo, Moro admitiu ainda que, em algum
momento, a Operação Lava-Jato deve terminar, porém observou que o combate à
corrupção tem de ser tratado como questão institucional. “Meu trabalho na
Lava-Jato acabou, mas permaneço firme nas minhas crenças”, disse.
De acordo com o ministro, estatísticas oficiais mostram que, neste ano,
houve queda “significativa” entre os principais tipos de ações criminosas. “O
crime cresceu nos últimos 20 anos, mesmo em períodos de boa situação econômica.
A impunidade segue sendo um grande problema. O grande desafio é tornar
permanentes as quedas nos índices de criminalidade. Os números remanescentes
ainda são muito ruins”, ponderou.
Moro atribuiu a queda na criminalidade a uma série de iniciativas
tomadas pelo governo federal, entre eles a criação do banco nacional de perfis
genéticos. “O banco genético servirá para cruzamento de dados nas investigações
de crimes. Não é uma invenção tupiniquim. Estados Unidos têm banco de dados com
cerca de 12 milhões de perfis. No Reino Unido, são 6 milhões”, argumentou.
O ex-juiz também defendeu uma atuação mais presente do governo federal
junto aos entes estaduais no combate à criminalidade. “O governo federal não
pode ignorar criminalidade na rua, que é responsabilidade da Polícia Militar.
Estamos montando força tarefa federal, estadual e municipal em cidades mais
violentas”, observou o ministro.
Lava-Jato: O ministro da Justiça admitiu que a Operação
Lava-Jato acabará em algum momento, porque tem “começo, meio e fim” e “nada
dura para sempre”. Para ele, o que está em jogo não é a operação em si, mas,
sim, o combate à corrupção como um todo, que, na sua visão, tem de ser visto
como uma missão do país, e não de uma força-tarefa.
A declaração foi dada no fórum, após o tema ser levantado por um
participante da plateia. Moro falava sobre iniciativa para o combate aos crimes
cibernéticos, quando uma pessoa perguntou em voz alta: “E a Lava-Jato?” O
ministro acenou para que a pessoa aguardasse um pouco e, alguns minutos depois,
começou a falar sobre a operação, embora já tivesse feito alguns comentários
sobre o tema durante o seu discurso.
“Existem grandes desafios que são permanentes, tanto no avanço contra a
corrupção como contra a criminalidade. (Podem achar) que não é tarefa do
governo federal, que cabe à Lava-Jato, mas temos de avançar de forma
institucional, como país, contra a corrupção, contra a criminalidade, o que
ajuda no ambiente de negócios”, afirmou o ministro.
Moro, então, começou a discorrer sobre direitos humanos, mas, de
repente, voltou a falar sobre a Lava-Jato, ao afirmar que é preciso “resgatar a
autoestima dos brasileiros”. “Não podemos retroceder nesses avanços, virar de
costas e incorporar certos discursos, que não fazem sentido”, afirmou. “Há
analistas que dizem que a operação é culpada por problemas econômicos. Ah, pelo
amor de Deus. É a velha história de culpar o policial por descobrir o cadáver
do assassinato”, disse.
Sérgio Moro é recorrentemente citado como potencial candidato à
Presidência da República. Ele ganhou notoriedade por ter sido juiz em primeira
instância da Lava-Jato. Logo após a vitória de Jair Bolsonaro na eleição
presidencial, em 2018, foi convidado a assumir o Ministério da Justiça e da Segurança
Pública. Desde então, tem tocado uma agenda de combate à corrupção e à
criminalidade violenta, simbolizada pelo pacote anticrime, que tramita com
dificuldade no Congresso.
Diálogo: O ministro disse que espera uma melhora nas “condições
de diálogo” com o Congresso sobre o pacote anticrime após o encaminhamento da
votação da Reforma da Previdência no Senado, mas evitou estimar prazos.
Questionado sobre a existência de alguma articulação em andamento entre os
poderes Executivo e Legislativo para colocar o tema em análise no Congresso,
Moro respondeu que “a pauta do Legislativo e ele pertence”. “Estamos buscando
denominadores comuns”, disse. Moro apresentou o projeto anticrime, no início do
governo, como um conjunto de medidas para combater a criminalidade violenta e a
corrupção.
Correio Braziliense do Dia – 12/10/2019 - Foto: Leco Viana-Estadão
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JUSTIÇA