Informação e diagnóstico contra câncer de mama.
Instituto Brasileiro de Câncer estima que o número de mulheres com câncer de
mama no Brasil será próximo de 60 mil este ano. Para especialistas, é preciso
aumentar as campanhas de esclarecimento e prevenção, Joana Jeker:
experiência levou à criação de ONG
(*) Por Catarina Loiola* » Cristiane Noberto*
Uma em cada oito mulheres terá câncer de mama ao longo da vida, de
acordo com o Instituto Brasileiro de Câncer (Inca), que estima em 59,7 mil o
número de ocorrência da doença no Brasil em 2019, o que significa que, de cada
100 mil mulheres, 56 vão desenvolver a doença.
Sem considerar os tumores de pele não melanoma, esse tipo de câncer é o
primeiro mais frequente nas mulheres das Regiões Sul (73,07 em cada 100
mil), Sudeste (69,50/ 100 mil), Centro-Oeste (51,96/100 mil) e Nordeste (40,36/
100 mil) e Norte (19,21/100 mil).
Para a chefe do Serviço de Mastologia do Hospital do Câncer III ,
unidade exclusiva para tratamento de câncer de mama, doutora Fabiana
Tonellotto, é preciso fazer campanhas mais efetivas, disseminar com mais
clareza as informações e melhorar o treinamento dos médicos e profissionais de
saúde para que estejam aptos a fazer diagnósticos de forma adequada, além de
melhores políticas públicas.
“É preciso avançar as campanhas, para a população em geral, relacionadas
à melhora da qualidade de vida, como, controle da obesidade, principalmente em
pessoas mais velhas, uso de álcool, atividades físicas regulares, entre
outros fatores”, disse. Segundo ela, atividade física regular pode reduzir em
30% o risco de desenvolver a doença.
Além disso, a médica esclarece que diagnóstico precoce é fundamental.
Além disso, segundo ela, é preciso iniciar o tratamento o mais rápido possível
e, sobretudo, ter acesso ao tratamento. Segundo ela, quando a doença ocorre
antes dos 40 anos, fatores genéticos podem explicar o desenvolvimento da
doença, embora fatores hereditários representem apenas 10% dos casos.
Outros fatores que influenciam o aparecimento da doença são o
envelhecimento da população, sedentarismo, alimentação, não ter filhos ou
tê-los em idade mais avançada, uso de álcool e obesidade após a menopausa são
alguns dos fatores que influenciam a disfunção.
Ativismo: Joana Jeker foi diagnosticada em 2007, aos 30 anos. Na época, ela estudava na Austrália e voltou para o Brasil em busca de tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS). Ela conta que, pelo fato de a mãe e uma tia terem desenvolvido a doença, esteve sempre atenta e, durante um autoexame, sentiu um nódulo diferente. “Quando você é muito jovem, é muito sofrido. A fase do diagnóstico é muito difícil, mas tive apoio da família, amigos e de Deus”, contou.
Ela lembra que o diagnóstico precoce foi essencial para o sucesso do
tratamento, que durou seis meses, entre quimioterapia e cirurgia de
reconstrução da mama. Joana transformou a dura experiência em ativismo e fundou
a organização não governamental (ONG) Recomeçar, em 2010. “O cabelo cresceu e
fundamos a ONG. Hoje a vida tem outro significado. Eu nem precisei fazer
radioterapia e fiz apenas uma etapa de quimioterapia”.
Os objetivos da ONG são incentivar a autoestima, conseguir doação de
próteses de silicone no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) e fazer parcerias
com a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de apoio à Saúde
da Mama (Femama), e outras agências governamentais, para a coordenação e
alinhamento dos estados para criar uma agenda nacional para o combate ao câncer
de Mama.
A Recomeçar também incentiva o desenvolvimento de políticas públicas,
como o projeto de lei aprovado no Senado no último dia 10, que que
fixa prazo de 30 dias para a realização de exames de diagnóstico de câncer pelo
SUS. A matéria segue para sanção presidencial. A mudança será incluída na Lei
nº 12.732, que estipula o início do tratamento pelo SUS em, no máximo, 60 dias
a partir do diagnóstico.
Diagnosticada aos 68 anos, a aposentada Neide Maria Teixeira, hoje com
74, conta que a doença foi um período difícil, mas que conseguiu superar com
tranquilidade e apoio de familiares. Ela descobriu o tumor por meio de uma
mamografia, em 2013. “Não sentia nada pelo toque porque o tumor estava bem
pequeno ainda. Fazer o exame foi essencial”. Assim que descobriu o câncer, ela
tomou a decisão de se submeter à mastectomia para a retirada das duas mamas.
Ela conta que enfrentar a doença a deixou mais forte e mais decidida a
ajudar outras mulheres. Atualmente, Neide é voluntária na Associação
Brasiliense Paciente Câncer, onde auxilia outras mulheres. “Tem que ter muita
fé e acreditar que tudo vai melhorar. Se a pessoa não tiver tranquilidade, e
não receber apoio da família ou de associações como a nossa, pode ser mais
difícil superar”.
Exames periódicos e estilo de vida saudável:
De acordo
com médica especialista Fabiana Tonellotto, a informação é fundamental na
prevenção contra o câncer de mama e o diagnóstico precoce, no tratamento. Ela
explica que a doença se desenvolve devido a uma proliferação de células no
tecido mamário, relacionada ao hormônio feminino estrogênio. “Não há sintoma
fora da mama. O diagnóstico é feito somente pelo exame local.”
Segundo ela, as mamografias são indicadas para mulheres entre 50 anos e
69 anos, que não têm sintomas, mas a doença pode ocorrer em qualquer idade.
Entre as dicas de prevenção, além de exames periódicos, está a amamentação,
para mulheres que têm filhos, que funciona como uma proteção. A reposição
hormonal depois da menopausa também pode contribuir para o aparecimento das
células, já que a doença está diretamente ligada ao estrogênio. “Existe a
possibilidade de ocorrência em casos em que a menstruação ocorreu cedo, antes
dos 12 anos, ou em casos de menopausa tardia, pois, quanto mais tempo a mulher
ovula, mais tempo ficará sob o efeito do hormônio estrogênio”, explicou.
Outras conselhos de Fabiana para reduzir as chances de desenvolver a
doença são manutenção do peso, evitar álcool, alimentação saudável, exercícios
físicos regulares e mamografia a cada dois entre os 50 e 70 anos de idade. “A
mulher deve sempre ficar atenta às mamas e examiná-las regularmente. Se notar
qualquer alteração na forma, deverá procurar um médico imediatamente. Elas
devem conhecer a própria mama e não ter medo do diagnóstico. Quando a doença é
diagnosticada no início, tem 90% de cura”, diz.
Por » Catarina Loiola* » Cristiane Noberto* ~* Estagiárias sob
supervisão de Cláudia Dianni, Fotos: Barbara Cabral/CB/D.A.Press - Fernando Lopes/CB/D.A.Press - Correio Braziliense
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