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Julgamento sobre 2ª instância não acabará com injustiça no país - (Família de Brasília)


Julgamento sobre 2ª instância não acabará com injustiça no país. Será a terceira vez que o STF se debruça sobre o tema (2009/2016/2019). Casal que perdeu 2 filhos em acidente espera por justiça há 9 anos - (*Por Lilian Tahan)

Na próxima semana, todas as atenções estarão depositadas no resultado do julgamento que vai definir se a segunda instância é, afinal, condenação suficiente para determinar a prisão de réus. 

Será a terceira vez que o Supremo Tribunal Federal (STF) se debruça sobre o assunto (2009/2016/2019).

No jargão adolescente: tira o casaco, põe o casaco, tira o casaco.

No país dos muito notáveis versus os absolutamente ignorados, o que está na pauta é o destino de 4.895 presos, diversos deles estelares, acusados de crimes rumorosos e movimentações financeiras volumosas. Não que a repercussão recaia apenas sobre os bem-aventurados que derraparam, foram pegos e caíram em desgraça.

Todas as almas vivas pensantes, no entanto, sabem que este tema só entrou na agenda dos ministros supremos porque mexe, antes de tudo, com presos poderosos. Então, justiça seja feita.

Mas, senhores delegados, promotores, juízes, deuses do Olimpo da magistratura: e a Vyviane? E o Marcos? (os dois na foto em destaque) O que o Estado tem a dizer a esse casal?

Em dezembro, completam nove anos que esses pais perderam dois filhos em um acidente de carro.

Eles viajavam de Brasília para Rio Verde, em Goiás, rumo à casa dos pais de Vyviane. Passariam o Natal juntos. Mas, no meio do caminho, um motorista em alta velocidade e durante uma ultrapassagem proibida atingiu o veículo da família Moraes.

Todos ficaram gravemente feridos e foram levados ao hospital. Vyviane e Marcos acordaram do coma. Os meninos, não. João Marcos tinha 3. Pedro Lucas, 7. Em muitos momentos, o casal desejou morrer. Lutaram para sobreviver e, posteriormente, para recomeçar a viver.

Hoje, eles são pais de outros dois filhos. Mateus nasceu em um dia de Páscoa. Depois veio o irmão, Marcos Júnior.

Em uma década, Vyviane e Marcos provaram o que há de mais duro nesta vida. Perderam tudo: a saúde, as crianças, a paz, a razão de viver. Chegaram a se separar. Mas a vontade de recomeçar os atraiu de volta. E reconstruíram, tijolo a tijolo, a vida.

Ele voltou para a gerência do Banco do Brasil. Ela retornou para a sala de aula. Recentemente, decidiram se aposentar e levar uma rotina pacata no interior do país. Juntaram os meninos, venderam o apartamento na Asa Sul, centro de Brasília, e construíram uma casa em Santa Fé do Sul, no interior de São Paulo. Querem dar uma infância segura e serena para Mateus e Júnior.

Nessa sexta, Vyviane me escreveu contando sobre a nova vida, a alegria dos meninos, os planos de dar aulas de artesanato. Esta guerreira já salvou muitas mulheres da depressão com sua arte. 

Desde que contei pela primeira vez a história de luta destes pais em busca de respostas, punição e reparação, acompanho os desdobramentos do caso na Justiça. E aqui vem o estarrecedor. Passados nove anos desde o acidente com fortes evidências de dolo apontadas pela perícia, até hoje o Estado não deu respostas para estes pais.

O motorista que provocou a tragédia que vitimou duas crianças nunca foi julgado. Nem em primeira, tampouco em segunda, sequer instância alguma.

Estes pais decidiram seguir porque têm uma força divina que transborda. Mas o Estado, em todas as camadas, é devedor destes brasileiros. Quantos mais estão à espera de Justiça? 

Que tipo de país é este que não é capaz de dar uma resposta ao Marcos e a Vyviane? Eles são tão cidadãos quantos os 4.895 presos que vão merecer a análise minuciosa (e pela terceira vez) de suas excelências, os ministros do Supremo


 *Por Lilian Tahan - Foto: Giovana Bembom - Metrópoles



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