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Projeto de lei cria “botão do pânico” em carros de App no DF


Projeto de lei cria “botão do pânico” em carros de app no DF. Ideia é que motoristas possam informar à polícia a localização em tempo real. Proposta foi lida na CLDF após assassinatos na capital. (*Por Suzano Almeida)

Com os dois assassinatos no fim de semana e o aumento de roubos a motoristas de aplicativos no Distrito Federal, a Câmara Legislativa se mobilizou e, nesta terça-feira (15/10/2019), apresentou um pacote de medidas para tentar aumentar a segurança dos trabalhadores. 

Entre as medidas propostas em projeto de lei, estão a obrigatoriedade de foto no cadastro do usuário, a instalação de câmeras nos carros para o monitoramento das viagens, o rastreamento via satélite e a instalação de um “botão do pânico“: em caso de emergência, o motorista acionaria o dispositivo para informar à polícia a localização em tempo real. 

A ideia é que o botão fique em um lugar escondido do passageiro, mas de fácil acesso ao profissional, para que seja possível utilizá-lo sem que o usuário perceba.

De acordo com a proposta, as imagens gravadas pelas câmeras serão mantidas em sigilo pelas empresas, como Uber, Cabify e 99, podendo ser usadas após solicitação da Justiça ou da polícia em caso de violência. O prazo mínimo de armazenamento seria de dois anos. 

Outro pedido dos motoristas contemplado na proposta é que, no momento em que o profissional aceitar a corrida, seja mostrado o destino do passageiro. Hoje, o trajeto só aparece quando a viagem é iniciada. A medida adotada pelas empresas de transporte tem o intuito de evitar que os profissionais cancelem a solicitação do usuário.

“Acreditamos que a proposta pode reduzir os crimes. Estamos disciplinando a lei existente, pois todos estão vendo a vulnerabilidade que é trabalhar como motorista de aplicativo”, disse o deputado Daniel Donizet (PSDB), autor da proposta.

Ainda de acordo com o deputado, a ideia é que os trabalhadores possam escolher ir naquela viagem e se querem receber ou não em dinheiro. “Antes, quando o pagamento era apenas no cartão, havia toda uma base de dados para proteger as duas pontas”, defendeu o tucano. 

O projeto de lei prevê ainda indenização para os familiares em caso de morte do motorista. O valor será baseado no quantitativo médio arrecadado pelo profissional. A matéria prevê também a redução do lucro das empresas durante a madrugada. De acordo com Donizet, a proposta é que o lucro caia em 30%, sendo repassado aos trabalhadores.

Assassinatos: No último fim de semana, dois motoristas de aplicativo morreram no Distrito Federal. O corpo de Henrique Fabiano Dias Coelho foi encontrado no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) na madrugada desse domingo (13/10/2019); e o de Tiego Cavalcante, na sexta-feira (11/10/2019), em Samambaia. 

Henrique foi esganado por adolescentes e não resistiu. Os seis suspeitos foram presos. Um taxista o viu caído no Setor de Cargas, nas proximidades da Cidade do Automóvel, segundo a Polícia Militar do Distrito Federal. O Corpo de Bombeiros foi ao local e verificou que a vítima estava sem vida. No caso de Tiego, ele teve o celular e a carteira roubados ao ser assassinado na Área de Desenvolvimento Econômico (ADE) de Samambaia.

Na sexta-feira (11/10/2019), Tiego recebeu a última chamada para uma corrida às 17h40. Cerca de três horas depois, ele foi encontrado sem vida, de barriga para cima, com um tiro no rosto, na Quadra 517 de Samambaia. 

Segundo o delegado Pedro Luís de Moraes, chefe da 32ª Delegacia de Polícia (Samambaia), a solicitação da corrida veio de uma mulher já identificada. “Temos a qualificação dessa pessoa, mas não conseguimos contato ainda”, disse. Para os policiais, ela pode ter emprestado a conta para os bandidos que cometeram o crime. 

Onda de sequestros: A violência que vitimou Henrique e Tiego ocorreu uma semana após o Metrópoles noticiar o aumento dos sequestros-relâmpago envolvendo motoristas de apps no DF.

Segundo levantamento feito pela Polícia Civil, ao qual a reportagem teve acesso, a quantidade de condutores das marcas Uber, 99 e Cabify vítimas de roubo com restrição de liberdade ou sequestro-relâmpago, como o crime é popularmente conhecido, saltou de 22 casos em 2017 para 71 episódios apenas nos seis primeiros meses deste ano. 

Para se ter uma ideia, no primeiro semestre de 2018, foram computadas apenas 14 ocorrências policiais. Na prática, isso significa que, neste ano, todo mês praticamente 12 condutores foram sequestrados durante corridas no DF. O balanço expõe a vulnerabilidade de quem depende do trabalho para sobreviver ou encontrou na atividade uma forma de conseguir mais dinheiro para complementar a renda. 

Os números podem ser ainda mais alarmantes, uma vez que a PCDF disse não ter recorte específico que aponte o total de motoristas vítimas de outros crimes. À reportagem, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) atribuiu o aumento desses registros ao fato de que os criminosos estariam mantendo os condutores como reféns para evitar que a polícia seja comunicada sobre os delitos. 

O que dizem as empresas: Em nota, a Uber disse usar tecnologia para bloquear viagens suspeitas. Segundo a empresa, a ferramenta usa algoritmos que aprendem de forma automatizada a partir dos dados e bloqueia viagens consideradas potencialmente mais arriscadas, a menos que o usuário forneça detalhes adicionais de identificação. 

A empresa disse ter lançado, também, modalidade que reúne os recursos de segurança para motoristas parceiros, inclusive um botão para acionar a polícia em situações de risco ou emergência, diretamente do app. 

A respeito do cadastro, respondeu que exige do usuário que quiser pagar somente em dinheiro informações como CPF e data de nascimento, que são checados na base de dados do Serasa. “Nossos parceiros contam com um número de telefone 0800 para registrar e solicitar apoio da Uber depois que tiverem comunicado incidentes às autoridades e estiverem em segurança”, frisou. 

A Cabify, por sua vez, diz que “repudia qualquer ato de violência que ponha em risco a segurança de seus motoristas parceiros” e acrescentou: “A segurança é prioridade nas operações da empresa”. De acordo com a companhia, há investimento em tecnologias a fim de melhorar a segurança das viagens para passageiros e motoristas. 

Segundo a Cabify, em situações mais críticas, a empresa orienta seus condutores a acionarem as autoridades responsáveis. Pontuou ainda que desabilita a função de pagamento em dinheiro em locais e horários específicos. “É disponibilizado, também, um Seguro de Acidentes Pessoais a Passageiros (APP) em casos de morte ou invalidez para todos envolvidos dentro do veículo que cobre despesas médicas”, disse no comunicado. 

Outra a defender a questão da segurança como “prioridade” foi a 99. O aplicativo afirmou ter diminuído em 53% o índice de ocorrências por 1 milhão de corridas, na comparação de agosto de 2019 com o mesmo mês do ano anterior. Em 2018, o número de casos caiu 82% por 1 milhão de viagens de janeiro a dezembro, segundo informou. 

Para prevenir que os colaboradores sejam vítimas de crimes, a 99 garantiu que, antes das chamadas, os motoristas recebem informações sobre o destino, a nota e a frequência do passageiro, além de o app pedir ao solicitante do percurso que inclua CPF ou cartão de crédito antes da primeira corrida. Os condutores podem, ainda, escolher não receber pagamento em dinheiro. 

“Durante as corridas, existem câmeras conectadas à central de segurança do app e a possibilidade de compartilhamento de rota com parentes e amigos em tempo real. Para depois das viagens, a empresa possui uma central telefônica de emergência 24h, sete dias por semana, que responde prontamente em caso de necessidade. Os motoristas estão protegidos em suas corridas realizadas pela 99. Desde o aceite até a finalização da viagem, eles são cobertos por um seguro contra acidentes pessoais”, finalizou.

Por Suzano Almeida - Foto: Myke Sena - Metrópoles - Colaboraram Victor Fuzeira, Ana Karolline Rodrigues, Isadora Teixeira e Carlos Carone.



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