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SEGURANÇA PÚBLICA » Criminalidade cai, mas Feminicídio ainda é desafio


Criminalidade cai, mas feminicídio ainda é desafioBalanço mostra queda nos números de 11 dos 15 tipos de ocorrência monitorados pelo GDF de janeiroa outubro, entre eles homicídio, latrocínio e roubos a residência e em comércio. Já o assassinato de mulheres na capital cresceu 8% (*Por Jéssica Eufrásio)

Para o secretário de Segurança, Anderson Torres, o trabalho integrado das forças policiais contribuiu para a redução da violência

Dados apresentados pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) mostraram redução nos índices de criminalidade desde o início do ano. Em comparação com o mesmo período do ano passado, o levantamento de janeiro a outubro de 2019 mostrou queda em 11 de 15 tipos de ocorrência. A diminuição dos assassinatos atingiu o menor patamar dos últimos 20 anos, como adiantou ontem o Correio Braziliense. Foram 386 mortes intencionais.

No entanto, quatro tipos de delitos ainda representam um desafio para o poder público, uma vez que apresentaram aumento nos registros. São eles: furto a pedestre, tentativa de homicídio, tentativa de latrocínio e feminicídios. Na sexta-feira passada, o DF alcançou a mesma marca do ano passado, com 28 mulheres assassinadas por motivo de gênero. A quantidade é a maior desde 2015, quando esse tipo de crime se tornou uma das qualificadoras do homicídio.

A vítima mais recente foi Renata Alves dos Santos, 29 anos. O principal suspeito do assassinato é o marido dela, Edson dos Santos Justiano Gomes, 43. Ele acabou preso em flagrante e levado para a 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião). A mãe e uma amiga de Renata relataram que ela sofria agressões constantes por parte do companheiro. Ela deixou dois filhos, frutos de relacionamentos anteriores.

Ainda segundo o levantamento da SSP/DF, o total de vítimas de crimes violentos letais intencionais foi 12,6% menor nos 10 primeiros meses deste ano em relação a 2018. As informações levam em conta homicídios, feminicídios, latrocínios e lesão corporal seguida de morte (veja Ocorrências). Em relação aos seis crimes contra o patrimônio monitorados, a queda foi de 13% nesse mesmo intervalo.

O secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, avalia que os resultados positivos decorreram, principalmente, do trabalho integrado de todas as forças. “O novo comando da Polícia Militar entendeu (as demandas da população) e tem direcionado melhor o efetivo, estudado as microrregiões e cancelado o expediente administrativo para colocar mais gente nas ruas. A Polícia Civil tem feito investigações eficazes; quase 100% dos feminicídios estão esclarecidos”, declarou (leia Três perguntas para).

Políticas públicas: Especialista em segurança pública, o professor de direito do Centro Universitário de Brasília (UniCeub) Julio Hott considera que a queda nos índices pode permanecer se houver reforço no policiamento comunitário. Em relação aos crimes contra o patrimônio, Julio avaliou que há um caráter “difícil de lidar” por, muitas vezes, haver relação com o crime organizado. “Isso é preocupante, principalmente no aspecto do latrocínio. É preciso identificar se os delitos patrimoniais como furto e roubo têm relação com organizações criminosas, como aquelas que se instalaram no Entorno e no DF”, analisou.

Quanto à sensação de insegurança, o professor comenta que os números representam uma “amostra relativa”, embora considere relevante a diminuição. “Quando olhamos para a sociedade, ainda existe uma sensação que permanece. Mas ajuda se a mudança começar pelos pequenos crimes patrimoniais e pelo foco na comunidade. A presença de policiamento ainda inibe os infratores. É preciso trabalho de políticas públicas para atuar em cima desses números, para além das estatísticas”, completou Julio.

Repressão: A taxa de feminicídios por cada grupo de 100 mil mulheres colocou o DF em quinto lugar no ranking do 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, de 2019. Para Jolúzia Batista, assessora técnica do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFemea), campanhas de combate à violência doméstica são importantes, mas não podem ser a única política pública aplicada. “Há um cenário bastante complicado a médio e longo prazo para erradicarmos esse problema. O debate tem sido centrado na questão da punição, não tanto na ação preventiva ou na própria educação”, critica.

Para o Distrito Federal, Jolúzia cobra a presença de mais defensoras públicas, além de outras delegacias com foco no atendimento a mulheres vítimas de violência. Ela chama a atenção para aprimorar o aparato de assistência social e de acompanhamento das famílias e dos agressores. “Não podemos só maquiar os conflitos. Há questões sérias e graves; padrões culturais que estão envolvidos nisso; um movimento de redomesticação das mulheres. Precisamos de grandes campanhas, que tragam de volta a concepção de que elas têm direito ao ‘não’ e que têm o domínio de si próprias”, ressalta.

Três perguntas para Anderson Torres, secretário de Segurança Pública do DF
A que a SSP/DF atribui o aumento da quantidade de crimes como tentativas de latrocínio e de homicídio, além dos furtos a pedestre? São espécies de crime diferentes. A tentativa, quando vejo aumento, trata de um crime falho, que não deu certo por circunstâncias alheias a quem estava praticando. Também pode ser devido à ação do Estado. Se falhou, é sucesso para o Estado. Quanto ao furto a pedestres, temos trabalhado bastante com presença da Polícia Militar. É um tipo de crime muito praticado por menores, e temos dificuldade para mantê-los apreendidos. Mas, nesses casos, a PMDF tem se dedicado muito, principalmente na análise das manchas criminais.

Os casos de feminicídio também aumentaram e bateram recorde. A campanha deste ano destaca que a melhor arma contra o feminicídio é a colher. Essa ação tem sido eficiente? Em relação ao feminicídio, fizemos um estudo sobre esse tipo de crime, e a conclusão a que chegamos é de que se trata de um crime de dificílima prevenção. No âmbito da Secretaria de Segurança Pública, soltamos a campanha depois de descobrir que a maioria dos casos acontece em casa, com arma branca. A campanha tem sido eficiente, pois estamos recebendo mais denúncias, mas combater esse crime ainda é muito difícil.

Quais medidas podem ser intensificadas para evitar que as taxas de criminalidade voltem a subir e, em alguns casos, continuem em alta?Temos procurado repor efetivo das forças. Estamos com a Academia da Polícia Militar, de praças e de oficiais, funcionando na plenitude. Estamos com o concurso da Polícia Civil no forno, prestes a sair. A reposição de efetivo é importante. Também estamos trabalhando com o aumento salarial das forças. É importante e será extremamente merecido, vai trazer incentivo. Agora, é trabalhar para continuarmos com bons resultados. Temos feito um esforço muito grande, com o governador Ibaneis (Rocha) junto, ajudando a pensar a questão da segurança como um todo. A nossa ideia é fazer uma cidade cada vez melhor para se viver.
(*) Por Jéssica Eufrásio - Fotos: Ana Rayssa/CB/D.A.Press - Carlos Vieira/CB/D.A.Press - Correio Braziliense



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