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As muitas razões para o brasiliense amar e odiar Oscar Niemeyer


As muitas razões para o brasiliense amar e odiar Oscar Niemeyer Neste domingo (15/12/2019), o arquiteto de Brasília completa 112 anos – entenda por que o verbo está no tempo presente. (*Por Conceição Freitas)

Neste domingo (15/12/2019), o mais importante arquiteto brasileiro e um dos mais importantes do mundo completa 112 anos. Completa, no presente, porque Oscar Niemeyer não morre – plagiando o jornal que manchetou na edição de 9 de abril de 1973: “Picasso não morreu. Picasso não morre”.

Ninguém entende mais de Niemeyer do que os brasilienses. Nós habitamos Niemeyer, ele nos compõe. Talvez só uma outra cidade tenha uma relação tão visceral com um arquiteto. Barcelona com Gaudí. E mesmo assim, a arquitetura de lá tem várias camadas de tempo.
Brasília é cidade congelada no calendário das eras. Os brasilienses do Plano Piloto e arredores têm a frieza do concreto das obras de Oscar (Oscar é como os arquitetos mais próximos o chamam). Nossa fruição estética tem as linhas da arquitetura de Oscar (e não só dele). Aqui, fazemos fofocas sobre a vida de Oscar e disputamos quem sabe mais sobre o arquiteto, como se ele fosse um BBB. Oscar são dois, me atrevo a dizer, na mera condição de alguém que há mais de 35 anos se entrelaça com Brasília.
Oscar é a arquitetura moderna, colonial e barroca do Palácio da Alvorada. É o esplendor do Itamaraty, mas é também o Museu da República, monstrengo de que os brasilienses tanto gostam, porque se incorporou à paisagem como uma pedra que esconde o nascer do Sol.
Oscar é a Igrejinha, versão lírica de uma igreja de Le Corbusier, e é a Torre Digital – que, como disse o arquiteto Carlos Magalhães, de arquitetura não tem nada. Oscar é genialidade em estado puro – dizem os arquitetos que ele, quando desenhava à mão livre seus projetos, já os esboçava com as volumetrias e as proporções exatas, como se nele houvesse também um matemático, um engenheiro e um artista plástico.
Oscar se recusou a envelhecer e a morrer. A morte deve ter se aproveitado de uma distração do gênio de 105 anos, cansado e cego, naquele 5 de dezembro de 2012. (A última coisa que pediu foi um café). Havia muito tempo que o arquiteto estava morto. As obras de seus últimos 30 anos são pastiches arquitetônicos, são recusas às novas tecnologias. Oscar se perdeu na veleidade dos gênios que se apaixonam por si mesmos.
Dizem que só se conhece o outro comendo do mesmo sal. Só quem trabalha ou mora num projeto de Oscar, conhece o Oscar. Como os poetas, o que ele fez não tem nenhuma função, a não ser a de nos tirar de nossa condição mortal e nos conduzir ao sublime. Oscar foi um poeta concreto, como Ferreira Gullar, como os irmãos Campos, como João Cabral de Melo Neto, que não era exatamente concreto, mas lidava com as palavras como se elas fossem feitas de brita e cimento.
Como disse Clarice Lispector, nós, os brasilienses, habitamos a alma de Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Estamos imersos no sublime. E na pobre condição humana da qual ninguém escapa, nem mesmo Oscar.
… Hoje, 15/12, é Dia do Arquiteto e Urbanista.
*Por Conceição Freitas – Metrópoles


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