Morar no centro é fazer Brasília
moderna de novo
Nos próximos meses, Brasília
completará 60 anos. Talvez o ícone maior do urbanismo modernista, nossa cidade,
no entanto, já não respira os modernos ares dos anos dourados.
Na década de
1960, o modernismo começava a dar sinais de falência nas maiores cidades do
planeta, mas, no Brasil e para muitos brasileiros, Brasília, símbolo de um país
que rumava para o futuro como grande potência mundial, era onde as ideias mais
brilhantes e o modo de vida mais moderno poderiam encontrar refúgio. O
modernismo e o moderno se fundiam na cabeça dos moradores da nova capital do
país.
Esse modernismo, no entanto, impôs
à cidade duas grandes características. A primeira era o zoneamento dos usos
definindo a ocupação da cidade – as atividades seriam “organizadas” no espaço
de forma a criar nichos para hospitais, hotéis, bancos, autarquias, garagens,
gráficas e comércio em geral. A segunda estabelecia o modo de transporte
rodoviário como a forma predominante de deslocamento pelas “vias” da cidade.
Apenas a zona residencial das
superquadras parece ter escapado da rígida organização: ali se projetaram
prédios para moradia, mas também escolas, bibliotecas, postos de saúde,
igrejas, clubes sociais, cinemas, postos de combustível, lojas de conveniência
e comércio local – quase sempre diversificado. Nesse espaço também se permitiu
às pessoas da vizinhança circular a pé em todas as direções por caminhos
verdes, calçadas largas e com mínima interferência dos automóveis.
Os anos se passaram, e essas áreas
residenciais parecem cada vez mais vivas. Além da ocupação planejada, quiosques
diversos se espalham pelas superquadras onde podem ser encontrados sapateiros,
costureiras, chaveiros, bancas de revista, centros culturais, cachorros-
quentes. As árvores cresceram, as pessoas fazem jogging ou passeiam com seus
pets nas calçadas. Os pilotis ainda são praticamente de livre circulação, e a
segurança é bastante razoável nos diversos períodos do dia e da noite.
Por seu lado, o centro da cidade,
com espaços destinados a usos específicos, não se comporta da mesma forma.
Vibrante durante o horário comercial em dias úteis, são praticamente desertos
durante a noite. Nos fins de semana, a desocupação ocorre em todos os horários,
exceção feita aos setores de diversões Norte e Sul.
Diagnóstico recente do centro da
cidade mostra outras faces dessa situação. Cerca de 5 mil salas estão vazias
nos vários setores, 1.600 somente no Setor Comercial Sul, onde sete edifícios
estão desocupados. São 70 os lotes para edifícios que se encontram vazios em
todos os setores centrais. Concentrando muitas atrações comerciais, o centro da
cidade não possui, mesmo com tais vacâncias, vagas para estacionamento de
automóveis.
Os carros não cabem nos espaços
oficiais e quase sempre invadem os espaços verdes ou as calçadas dos pedestres.
As ruas e os becos são ocupados por pessoas que vivem na rua, e muitas áreas se
transformaram em buracos para o consumo de drogas, inviabilizando a circulação
livre e segura das pessoas.
O centro do Plano Piloto está
envelhecendo rápido demais e não cabe mais no conceito de cidade moderna —
apesar de modernista. Sua área comercial mais densa já não se diferencia do
centro das grandes cidades brasileiras — Jane Jacobs certamente incluiria
Brasília no seu célebre livro, talvez invertendo o título para Vida e morte de
grandes cidades.
É preciso fazer reviver o centro
de Brasília, incorporando as pessoas durante todo o tempo na vida dos espaços
urbanos. Um exemplo de sucesso existe aqui e pode ser nossa referência: as
superquadras, onde os usos múltiplos estão cada vez mais presentes e a
modalidade de transporte principal pode ser o andar a pé ou de bicicleta.
Todos nós conhecemos pessoas que
prestam serviços trabalhando em apartamentos nas zonas ditas residenciais e já
não precisam de carro para o deslocamento diário.
É hora de discutir a moradia
no centro da cidade, para as mais diversas faixas de renda, de forma
complementar às demais atividades existentes, dinamizando seus lugares para a
ocupação segura das pessoas. Brasília precisa voltar a ser moderna de novo.
Bruno
Ávila, arquiteto e urbanista, do Instituto de Urbanismo Colaborativo (Courb),
Manuella de Carvalho Coelho, arquiteta e urbanista, do Movimente e Ocupe seu
Bairro (MOB) e Wilde Cardoso Gontijo Júnior , engenheiro, da Associação Andar a
Pé – o Movimento da Gente (Andar a Pé). Correio Braziliense -
Fotos/Ilustração: Blog - Google
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BRASÍLIA - DF
A crítica é pertinente em parte.A Capital quando estiver funcionando "plenamente" não pode dispensar as Áreas Centrais que exercem funções diretamente ligadas ao aparelho governamental. Moradias não podem ocupar o espaço que não foi previsto para recebê-las.As moradias foram propostas no Eixo Residencial, com a solução inovadora proposta por Lucio Costa nas Super Quadras, cada quatro delas formando uma Unidade de Vizinhança. Felizmente, isto está preservado, ou seja,nelas somente são previstos edifícios de 6 pavimentos sobre pilotis e com ocupação máxima até 15 blocos (a maioria optou por 11 blocos) O setor de habitações individuais foram propostos originalmente na margem oeste do Lago, com a descida do Plano para junto do Lago foi transposto para a margem oposta e cresceu DESMEDIDAMENTE.O que se percebe é que a Área Central não acompanhou corretamente as propostas originais e isto é percebido por todos.Não houve a devida participação posterior da Secretaria de Planejamento e a falta de Eixos Viários de Pedestres inexistem, os estacionamentos são sub dimensionados (e o número de carros o contrário), falta arborização dos setores (e excesso de árvores em locais errados).Por último, Brasília deveria observar a sua capacidade máxima projetada, 500 000 hab, ou POUCO mais pois o número 500 000 foi a meta do Concurso. O Centro "vazio" nos finais de semana podem ser tratados com a criação de atrativos diversos através de uma programação cultural/esportiva com a participação do Governo e da dita "Iniciativa Particular".Moradias NUNCA!!!
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