Morre
jornalista e poeta TT Catalão, aos 71 anos. A trajetória de TT Catalão se
confunde com a da capital federal. Jornalista, poeta e militante cultural deixa
um legado de resistência e de amor à Brasília. TT Catalão dividiu a vida de jornalista com a de artista,
se envolvendo diariamente no meio cultural da cidade
Morreu, na
madrugada de quinta-feira (2/1), por volta das 2h30, o poeta Vanderlei dos
Santos Catalão, o TT Catalão, aos 71 anos. Jornalista, letrista, músico e
ativista cultural morava na capital federal desde 1972. TT foi vítima de uma
hepatite fulminante e insuficiência renal. O velório do jornalista acontecerá
na sexta-feira, (3/1), a partir das 10h no Espaço Cultural da 508 Sul. O
enterro está marcado para as 16h no cemitério Campo da Esperança.
A trajetória do poeta se confunde com a história de
Brasília. Ele chegou a ser figura de destaque no extinto Ministério da Cultura
(MinC), durante o governo Lula. Ele foi um dos mentores da construção coletiva
do Programa Cultura Viva, um dos projetos mais bem avaliados do
ministério.
TT Catalão morava no Rio de Janeiro, produzindo
reportagens para a revista O Cruzeiro, quando recebeu o convite para vir a
Brasília. Foi chamado para se tornar um dos instrumentistas da banda de rock
Portal, e aceitou. Aqui, encontrou as pessoas vivendo a cidade, uma grande
comunidade tão sonhada por Oscar Niemeyer. “(A cidade) Não tinha uma fronteira,
uma divisa muito delineada. Eram pessoas, em tribo mesmo, que experimentaram a
cidade enquanto espaço público. Isso é uma coisa muito importante. Não ficava
uma cidade tão sitiada nos seus guetos, nos seus ‘quadrados’, que isola. As
pessoas tinham a sensação de viver uma cidade comum”, comentou, em abril
passado ao programa Natureza Viva, da Rádio EBC. (Fotos: Na redação do Correio Braziliense em 1977), (Segundo a esquerda com outros poetas da cidade em 1983), (Em 2000 sendo homenageado na Câmara Legislativa do DF), Com a filha, Nanan Lessa Catalão), (Com a neta).
A vida na Brasília que buscava uma identidade
serviu de inspiração ao poeta, que logo se instalou na redação do Correio Braziliense,
ainda em 1976. Dividiu a vida de jornalista com a de artista, se envolvendo
diariamente no meio cultural da cidade. Logo se tornou referência. Em 1978,
coeditou e organizou suplementos e performances na Mostra do Horror Nacional,
com José Mojica, Fernando Lemos, Ivan Cardoso, Elyseu Visconti e Júlio
Bressane, em reação à censura no Festival de Brasília do Cinema
Brasileiro.
TT Catalão também participou do clássico filme
Idade da Terra, de Glauber Rocha, lançado em 1980. Em 1987, criou a política de
bolsas de estudos culturais e, dois anos depois, fundou e se tornou o primeiro
presidente eleito do Conselho de Cultura do Distrito Federal. Em 1993, criou e
geriu o Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul, pela Secretaria de Cultura. À
época, mantinha as atividades do local até a meia-noite. Ele permaneceu à
frente do espaço até 1997.
Entre os anos de 1997 e 2003, foi o editor de
Pesquisa e Informação do Correio. Nesse período, trabalhou como consultor de
conteúdo para o programa Cultura Ponto a Ponto, abordando sobre a cultura
popular brasileira. A exibição era realizada pela TVE-Rio e pela TV Cultura-SP
e, depois, acrescido para o laboratório Cultura Viva de Cinema e Vídeo com os
Pontos, na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Cultura viva: No Governo do Distrito Federal,
assumiu a chefia de gabinete da Fundação Cultural na primeira gestão
pós-ditadura. Entre 2007 e 2008, tornou-se o subsecretário de Políticas
Culturais e teve papel fundamental na aprovação da Proposta de Emenda à Lei
Orgânica do DF, que vinculou 0,3% da Receita Corrente Líquida do Distrito
Federal para o FAC (Fundo de Apoio à Cultura). Em 2010, assumiu a Secretaria de
Programas e Políticas Culturais do Ministério da Cultura (MinC), auxiliando a
implantação do Programa Cultura Viva como uma polícia de Estado, em 2014.
TT Catalão também foi colaborador do primeiro blog
do Noblat, do projeto Açougue Literário T-Bone, do BraXil, da Cultura Digital,
e da Revista Raiz-SP, sobre cultura popular. Durante 2003 e 2006, participou do
quadro Crônicas da Cidade, aos sábados, no DFTV.
Faça como ele: TT Catalão criou uma das capas mais
icônicas do Correio Braziliense, publicada em 23 de janeiro de 1998. Com a
manchete “Faça como eles, não faça como eles”, a primeira página do jornal destacava
o então governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, e a então deputada
federal Marta Suplicy atravessando fora do equipamento de segurança instalado
em via próxima ao Palácio do Buriti. O flagrante fotográfico aparecia abaixo da
imagem de capa do álbum Abbey Road, dos Beatles. Dessa forma, o Correio marcava
a entrada em vigor do novo Código de Trânsito Brasileiro, dois anos após
campanha de paz no trânsito liderada pelo jornal.
Repercussão: “TT Catalão chamava a atenção por sua
sensibilidade, sua poesia, seu amor à cultura, a Brasília e ao Brasil. Era um
desses seres iluminados, insubstituível. Perdi um amigo e uma pessoa a quem
admirava muito”. Rodrigo Rollemberg - Ex-governador do Distrito Federal
“Brasilia perde um pedaço de sua inspiração
poética, de nossa criatividade no uso do idioma e de nosso estoque em simpatia
tolerante”. Cristovam Buarque - Ex-senador
“Um belo samba diz que poeta que morre é semente.
Brasília chora e lamenta a morte de TT Catalão, poeta, músico, visionário,
figura marcante na cultura de Brasília, que nos deixa mais pobres, embora suas
palavras – às vezes de revolta, às vezes de esperança – continuem vicejando. TT
Catalão foi também servidor público, ocupando vários cargos, deixando sua marca
em projetos inovadores que incentivavam a produção e difusão cultural, tanto no
DF quanto em nível nacional. Carioca, encontrou em Brasília a musa inspiradora
de muitas de suas poesias; brasileiro, jamais perdeu a esperança de viver num
país melhor; humano, buscou sempre o melhor nas pessoas. Mas o luto pelo poeta
não sufoca a poesia. Como diz um de seus mais conhecidos poemas: “Ah/ esta
solidão celular/ ter tantos ao meu alcance/ e não ter com quem falar”. - Paco
Britto - Governador em exercício do Distrito Federal
Sepultamento: O velório de TT Catalão será na manhã
desta sexta-feira (3/1), às 10h, no Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul. O
sepultamento será a partir das 16h, no cemitério Campo da Esperança, também na
Asa Sul. A família faz o convite para que todos os que forem à despedida
compareçam de branco, em forma de homenagem ao poeta.
Sarah Peres - Severino Francisco - Fotos: Arquivo CB/Press - Paulo de Araújo/CB/D.A Press) - Correio Braziliense
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