Quem ama cuida
Quase sempre que vou à W3 Sul
arrumo um tempinho para passar pelo Santuário Dom Bosco, na 702. É um dos meus
templos prediletos. Se a Catedral Metropolitana, obra-prima de Niemeyer
encravada na Esplanada dos Ministérios, é um portal para o infinito, o
Santuário Dom Bosco, do arquiteto Carlos Vasconcelos Naves, acolhe com a luz
azul dos vitrais do artista belga Hubert Van Doorne.
Ninguém fica imune à beleza
suntuosa do espaço, concebido meticulosamente para provocar o enlevamento
religioso. Até a pessoa mais cética se vê tentada a pronunciar uma prece azul.
Quando passou por lá, Clarice
Lispector ficou extasiada com a luz celestial, mas não gostou do megalustre,
constituído de 9 mil elementos de vidro brilhante em 3,5 metros de altura. Ela
achou a peça cafona e chegou a cogitar roubá-la à noite. No entanto, desistiu
quando pensou no peso do lustre.
O Santuário Dom Bosco é um dos
monumentos mais visitados pelos turistas no Brasil. Em 2016, o TripAdvisor,
site de planejamento e reservas de viagens, divulgou os vencedores do prêmio
Travellers’ Choice Atrações. O Santuário Dom Bosco ocupou o nono lugar; em
terceiro, ficou a Catedral Metropolitana de Brasília; o primeiro do Brasil foi
o Corcovado: “O prêmio destaca os pontos turísticos mais simbólicos do mundo,
de acordo com a opinião da nossa comunidade de milhões de usuários”, disse, à
época, a porta-voz do TripAdvisor no Brasil.
O templo da 702 Sul foi, também,
eleito uma das sete maravilhas de Brasília, em 2008, pelo Bureau Internacional
de Capitais Culturais, entidade sediada em Barcelona. Está incluído na rota
turística de Brasília pelo GDF.
Apesar disso, o Santuário Dom Bosco
necessita de reformas urgentes no momento em que está próximo de fazer 50 anos.
Cerca de 20% dos vitrais estão danificados e precisam ser substituídos. Os
outros 80% devem passar por restauro, limpeza e reparo nos rejuntes, informa o
caderno Cidades. A congregação salesiana, que cuida do templo, lançou campanha,
mas o dinheiro não foi suficiente.
O fato é que sucessivos
governantes descuidaram da manutenção de Brasília, seja de pontes, seja de
viadutos, seja de tesourinhas, seja de monumentos. Os monumentos viram
monumentos ao descaso. É uma obra coletiva de
vários governantes.
Os empresários que se locupletaram
com as oportunidades oferecidas pela nova capital poderiam também contribuir
devolvendo à cidade um pouco do muito que ganharam. Na passagem dos 60 anos de
Brasília, todos farão declarações de amor ardentes à capital. Mas quem ama
cuida.
Severino Francisco – Colunista do Correio
Braziliense – Fotos/Ilustração: Blog- Google
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RELIGIÃO