Brasília no
sambódromo
*Por
Severino Francisco
Fiquei curioso com
o desfile que a Vila Isabel apresentaria, supostamente, para homenagear a
passagem dos 60 anos de Brasília no sambódromo da Marquês de Sapucaí. O enredo
Gigante pela própria natureza: jaçanã e um índio chamado Brasil é engenhoso. O
curumim Brasil se transforma em um grande guerreiro animado pela força
ancestral dos antepassados.
Brasília é a irmã
do Brasil, que nasce para trazer a esperança. “O objetivo do enredo é humanizar
o povo brasileiro. De leste a oeste, de norte a sul, o pequeno grande guerreiro
conhece todas as culturas para unificar isso e, singularmente, demonstrar a identidade
do povo brasileiro”, explicou o carnavalesco. Nenhuma palavra sobre Brasília.
O enredo, musicado
pelos compositores Cláudio Russo, Chico Alves e Júlio Alves, só fala de
Brasília no verso final: “Ô, viola! A sina de preto velho/É luta de quilombola,
é pranto, é caridade/ó, fandango!/Candango não perde a fé/Carrega filho e
mulher/para erguer a nova cidade”.
Os figurinos, as
alegorias e as coreografias eram bonitos. Mas, na verdade, Brasília só entra no
samba e nas alas de maneira incidental. O decorador Roberto Garrido
representava Juscelino em uma caracterização muito distante da imagem do
presidente.
Não sei se o
projeto foi prejudicado pelas desavenças entre a direção de Vila Isabel e o GDF
em relação a um acordo de cooperação. Pelo que li, o governo local não havia
prometido patrocinar o projeto, mas, sim, ajudar a agremiação a arrecadar
dinheiro com empresas pela Lei Rouanet. Mas, para quem conhece Brasília, foi
frustrante.
O governo
argumentou que o desfile seria muito importante para vender uma imagem positiva
de Brasília, despertar o interesse em outros brasileiros e alavancar negócios.
No entanto, tenho a impressão de que a chance de isso acontecer é próxima de
zero. Embora do ponto de vista plástico e coreográfico, o espetáculo tenha sido
belo, não houve nenhuma pesquisa sobre Brasília.
O enredo só tocou
em questões genéricas e já encenadas. E seria importante lançar um outro olhar
sobre Brasília neste momento em que a imagem da cidade está tão maculada pelos
corruptos e pelos ineptos. Estava bonito o desfile, mas preferi a performance
dos índios que, em 2017, atiraram 200 caixões pretos de papelão no gramado e no
espelho d’água do Congresso em protesto contra a invasão de suas terras e a sua
destruição.
(Vídeo)
(*) Severino Francisco – Colunista do Correio
Braziliense – Fotos/Ilustração: Blog-Google
(Vídeo)
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