Câmara avalia hoje mudanças no
SIG. Distritais devem votar nesta tarde o projeto de lei do Executivo que
permite atividades de comércio e serviço no Setor de Indústrias Gráficas.
Governo do Distrito Federal aposta nas alterações para gerar emprego e renda
*Por Alexandre de Paula
A diversificação dos usos e da
ocupação do Setor de Indústrias Gráficas (SIG) está na pauta dos deputados
distritais. A proposta, do Executivo local, que atualiza as normas para a
região, deve ser votada hoje em plenário, de acordo com a definição do colégio
de líderes da Casa. Considerada prioritária pelo GDF pelo potencial de
movimentar a economia e gerar emprego e renda, a iniciativa conta com apoio de
entidades do setor produtivo e de urbanismo. O texto prevê a liberação para
atividades industriais, comerciais, de serviços e institucionais, com a
construção de prédios de até 15 metros (leia Mudanças).
O projeto de lei complementar que
estabelece as alterações foi encaminhado à Câmara Legislativa em junho do ano
passado. A proposição chegou a entrar na pauta outras vezes, mas a tramitação
foi adiada. Hoje, a expectativa é de que as comissões de Desenvolvimento
Econômico Sustentável, Ciência, Tecnologia, Meio Ambiente e Turismo e de
Constituição e Justiça aprovem a proposta pela manhã. Depois disso, o texto
segue para o plenário à tarde.
O secretário de Relações
Parlamentares, Bispo Renato Andrade, acredita que o projeto receberá hoje o
aval dos distritais. “É uma proposta de revitalização do SIG, que traz, claro,
atração de novos investimentos, gerando emprego e renda. Houve consenso, mesmo
porque os pareceres nas comissões são pela aprovação. Todos entendem que é o
melhor para a cidade”, frisou.
O presidente da Comissão de
Desenvolvimento Econômico, Eduardo Pedrosa (PTC), afirmou ontem, em entrevista ao
programa CB.Poder (leia na página 18), que o relatório da comissão está pronto
para votação. Acrescentou que é favorável à iniciativa do governo, com poucos
ajustes. “Devemos mudar detalhes do projeto do GDF, apenas. Existe ainda outro
fator: esse projeto também tramita na Comissão de Constituição e Justiça.
Dentro desse panorama, não sei o que vai mudar lá no projeto, porque são dois
relatórios distintos. Mas acredito que ele deve sair bem próximo àquilo que foi
encaminhado para a Câmara originalmente”, adiantou.
A discussão sobre a destinação do
SIG ocorre há mais de uma década. A ideia inicial era de que o tema fosse
debatido no Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCub),
projeto de lei que vai detalhar as normas de ocupação na área tombada da
capital federal. O governo, porém, entendeu que havia consenso para promover,
primeiro, mudanças na região.
Também contribuiu para a decisão
de acelerar as alterações no SIG o parecer favorável do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que elencou diversas razões para a
aprovação da iniciativa. “Dado o histórico de inadequação das normas do
Setor de Indústrias Gráficas aos usos que ali se desenvolveram de forma mais ou
menos espontânea, em razão da centralidade exercida pelo setor exclusivamente
institucional vizinho (que concentra as sedes dos poderes distritais), somado à
baixa representatividade desse setor em relação aos valores que sustentam o
reconhecimento de Brasília como patrimônio nacional, somos de opinião que a
revisão do regramento de uso do solo é bem-vinda”, informa o texto.
"Hoje, muita gente tem
problemas e dificuldades com alvarás (no SIG). Isso será resolvido pela
aprovação pela Câmara" (Francisco Maia, presidente da Fecomércio-DF)
Gabarito: Uma citação de Lucio Costa, no documento Brasília
revisitada (escrito na década de 1980), foi usada pelo Iphan para embasar as
alterações. Apesar de não se referir diretamente à região, observações do
urbanista, no entender do instituto, podem se aplicar ao SIG. “Não insistir na
excessiva setorização de usos no centro urbano — aliás, de um modo geral, nas
áreas não residenciais da cidade, excetuando o centro cívico. O que o plano
propôs foi apenas a predominância de certos usos, como ocorre naturalmente nas cidades
espontâneas”, escreveu Lucio Costa.
O arquiteto Pedro Grilo, do
Conselho de Arquitetura e Urbanismo do DF (CAU/DF), destaca que, há muito, o
SIG não se restringe a ser apenas um setor voltado para indústrias gráficas.
“Há diversos outros usos que estão consolidados. A alteração proposta pelo
projeto é até conservadora, ao aceitar os usos que estão lá. As mudanças no
gabarito também não são exageradas. A visão do CAU/DF é a mesma do Iphan”,
afirmou. Segundo o conselheiro, o projeto vai ao encontro de perspectivas mais
atuais de urbanismo. “As cidades vão tender a um uso mais diversificado. O
próprio Lucio Costa reconheceu isso no Brasília revisitada. Vamos olhar para a
frente.”
O projeto apresentado pelo governo
é, de fato, mais rígido do que as propostas do Iphan no parecer favorável. O
órgão entende que até a regularização para uso residencial poderia ser
autorizada, por causa das quitinetes destinadas para esse fim no setor. O
projeto encaminhado à Câmara Legislativa não prevê regularização dessas
ocupações. “Poderia ser um avanço também para uma cidade mais diversificada,
mas essa discussão foi deixada para outro momento”, acrescenta o conselheiro do
CAU-DF Pedro Grilo.
Alvarás: Criado em 1961, o SIG foi planejado para abrigar
apenas empresas gráficas, mas, nas últimas décadas, houve desvirtuamento na
ocupação. Lotes na região abrigam atividades comerciais e de serviços. Mas,
como não há previsão para esse tipo de uso, há dificuldade para emissão e
renovação de alvarás de funcionamento. Recentemente, o Ministério Público do
Distrito Federal e Territórios (MPDFT) recomendou a anulação das licenças
provisórias concedidos a microempreendedores individuais na Quadra 1 do SIG. O
MP justificou que os negócios contrariam as regras de atividades no setor.
Entidades como a Ordem dos
Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB/DF) — há diversos escritórios de
direito na região — e a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do
Distrito Federal (Fecomércio-DF) apoiaram o projeto. “Hoje, muita gente tem
problemas e dificuldades com alvarás. Isso será resolvido pela aprovação pela
Câmara”, ressaltou o presidente da Fecomércio-DF, Francisco Maia. Ele
acrescenta que as alterações vão gerar empregos imediatos para a capital. “Vai
trazer mais vagas de trabalho inicialmente, porque movimentará a construção
civil — um setor fundamental para a economia do DF — e, depois, com a chegada
de novas empresas.”
O líder do governo na Câmara
Legislativa, Claudio Abrantes (PDT), avalia que a diversificação do SIG
acontece na prática, mas o processo atualmente ocorre de forma desordenada.
“Então, o projeto chega justamente para organizar essa diversificação de
atividades, para regular uma área que tem demonstrado outras vocações, pois
isso não pode ocorrer ao largo do campo de visão do poder público”, defende.
Mudanças: Entenda a proposta que altera as normas no SIG » O Setor de Indústrias Gráficas foi criado em 1961, pouco depois da inauguração de Brasília » Ao longo dos anos, além de gráficas, comércios e serviços se instalaram na região. Mas os empresários têm dificuldade para obter alvará, pois os usos não estão previstos em lei » O Plano Diretor de Ordenamento Territorial de 2009 incluiu o SIG como área de estratégia de revitalização. Isso abriu brechas para mudanças na lei » Em abril de 2018, o Iphan deu parecer favorável à alteração das normas de ocupação do solo do SIG » A minuta do GDF prevê a liberação de atividades industriais, comerciais, de serviços e institucionais no SIG » O texto autoriza prédios de até 15 metros de altura no SIG.
(*) Alexandre de Paula - Foto:
Wallace Martins/CB/D.A.Press - CB.Poder - Correio Braziliense
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