Ana
Saggese diz que muitas cidades se parecem com outras, mas que Brasília “se
parece com Brasília”. “Você pode gostar ou não, mas ela tem sua própria
personalidade”, diz.
Ana Saggese vive um roteiro de sonho na cidade
Roteirista, ela veio de São Paulo, mora na 108 Norte e considera o desenho
limpo e organizado da cidade, ao mesmo tempo, estranho e sedutor. “Tudo isso
embalado por um céu azul imenso”, elogia
36 dias
para os 60 anos de Brasília Em homenagem à capital federal, formada por gente
de todos os cantos, a Agência Brasília está publicando, diariamente, até 21 de
abril, depoimentos de pessoas que declaram seu amor à cidade.
Se alguma
vidente tivesse me dito que eu moraria em Brasília, eu teria dado risada. Minha
vinda de São Paulo para cá foi decidida de forma muito rápida e em um mês eu já
estava morando aqui. No caminho do aeroporto para o hotel, olhando pela janela
do táxi, eu fiquei encantada com a beleza da paisagem.
Para quem
vem de uma realidade mondrianesca como São Paulo, as árvores floridas, o recuo
dos prédios e a escala dos edifícios são como um respiro. O desenho limpo e
organizado da cidade é, ao mesmo tempo, estranho e sedutor. Tudo isso embalado
por um céu azul imenso.
Em São
Paulo não se vê céu, mas outdoor, balão de propaganda, poste de iluminação –
que às vezes até se confunde com uma lua cheia. Aqui, a natureza é generosa e
alivia qualquer tensão. Na minha quadra, a SQN 108, tem abacateiro, amoreira,
goiabeira, e... acabaram de fazer uma horta.
Poucas cidades têm um Parque
Nacional com piscinas de água mineral. Já vi bandos de macacos e uma infinidade
de pássaros por lá. Aqui, a natureza é generosa e alivia qualquer tensão.
Na minha
quadra, a SQN 108, tem abacateiro, amoreira, goiabeira, e… acabaram de fazer
uma horta. Da janela, posso ouvir as crianças brincando e até chamá-las. Minha filha
desce e anda de patins entre os pilotis. Ela chegou aqui com sete anos e se
adaptou tão bem, que não podemos falar em voltar. Muitas cidades se parecem com
outras, mas Brasília se parece com Brasília. Você pode gostar ou não, mas ela
tem sua própria personalidade.
Aos
poucos fui conhecendo o Plano e os problemas foram aparecendo. Não acho que
seja um lugar fácil para quem não é funcionário público. É caro e, em muitos
aspectos, os encontros são difíceis. Quase não se vê gente na rua e a vida para
quem não tem carro é complicada. Mas posso me programar. Levo pouco tempo de um
lugar a outro. E consigo fazer mais de uma coisa por dia, o que seria
impossível em São Paulo.
Quando eu
conheci a UnB, minha vida tomou um rumo inesperado. Comecei a fazer mestrado em
Comunicação e um novo mundo se abriu. A universidade é um lugar de encontro e
ainda há um clima de utopia muito presente. É impossível não se lembrar de
Darcy Ribeiro e do que o Brasil poderia ter sido. E, talvez, algum dia, ainda
possa vir a ser.
Ana Saggese, 53 anos, é roteirista e mora na 108 Sul
Agência
Brasília - Foto: Lúcio Bernardo Jr.
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BRASÍLIA 60 ANOS