(É preciso saber se proteger) - "Vire a chave da mudança de
cultura e adote providências já de isolamento social. Pare de ir a bar, a
festas noturnas" Lisandro Paixão dos Santos.
*Por Thaís Umbelino Matheus Ferrari
É preciso saber se
proteger. Em entrevista ao CB.Poder, o coronel explicou a importância das
medidas de contenção da transmissão do coronavírus no Distrito Federal
Com 26
casos confirmados de coronavírus no Distrito Federal, o comandante-geral do
Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, coronel Lisandro Paixão dos Santos,
comentou ontem os desafios e as medidas adotadas em relação ao isolamento
social para a prevenção da doença. O militar foi o convidado do C.B Poder dessa
terça-feira, parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília. “Não adianta
fazer depois que está todo mundo doente, porque a maioria das contaminações
acontece com pacientes assintomáticos. Eles são mais de 80%”, afirmou o
coronel.
Entre as
medidas adotadas pela corporação está o monitoramento da saúde de pessoas que
desembarcarem e embarcarem no Aeroporto Internacional de Brasília e na
Rodoviária Interestadual, com auxílio de medidores de temperatura por
infravermelho. “Vamos detectar passageiros que chegaram com algum dos sintomas,
principalmente a febre”, explicou Lisandro. Confira os principais trechos da
entrevista:
O
Corpo de Bombeiros cedeu aparelhos medidores de temperatura por infravermelho
para monitoramento da saúde de pessoas que desembarcarem e embarcarem no
Aeroporto Internacional de Brasília e na Rodoviária Interestadual. Como vai
funcionar esta operação? O Corpo de Bombeiros estará presente fazendo uma
série de ações de controle e de apoio ao combate ao coronavírus. Já temos
bombeiros em alguns locais fazendo triagem. O sintoma de maior prevalência do
coronavírus é a febre; depois, a tosse seca. Os passageiros que chegaram com
algum desses sintomas, principalmente a febre, vamos detectar um a um, e isso
está sendo articulado com a Inframerica e com a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária. Se a temperatura da pessoa estiver elevada, ela passa por uma
segunda fase, que é a triagem, para verificar exatamente qual é a temperatura.
Se tem outros sintomas, se está vindo de uma área endêmica, para que possa
receber o tratamento adequado e não acontecer de, mesmo sem consciência, sair
contaminando outras pessoas.
Já
estão comprando mais quipamentos? A principal triagem é a da temperatura, dos
sintomas, e, depois, do sistema de saúde. A questão do equipamento já é algo
mais rebuscado para, efetivamente, onde seja mais importante. Mesmo porque os
chips (do equipamento que detecta a doença no ar) são liberados de forma
regular e controlada de Cingapura, devido à demanda mundial. Não liberam mais
que 100 chips por semana. Vamos ter poucos chips para fazer esse teste e só nos
casos estritamente necessários. O maior trabalho é de conscientização da
comunidade. É o apelo que fazemos de que esteja consciente de fazer o
isolamento. Não frequentar locais com aglomerações de pessoas. De, ao sentir
sintomas, já se isolar em casa. Faça contato com os telefones de emergência:
190, 193 e 199. O cidadão pode ligar, tirar dúvidas e expor o que está
acontecendo. Quem atenderá será a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros e a
Defesa Civil. E tem mais uma equipe que o governador colocou em reforço, de
teleatendimento, com as orientações protocolares para dizer exatamente o que
fazer.
Vimos
muitos países fechando as fronteiras, suspendendo voos. O DF cogita, em
algum momento, fechar as divisas? O governador vem antecipando
medidas. Ele está em reunião todos os dias para tomar essas medidas, no momento
exato e adequado, além de antecipar para que haja esse isolamento e a
quarentena precoces. Não adianta fazer depois que está todo mundo doente, porque
a maioria das contaminações acontece com pacientes assintomáticos. Eles são
mais de 80%. Então, se não isolar antes, acaba transmitindo e a pessoa só vai
sentir os efeitos sete, 10, 14 dias depois. Então, tem que antecipar. O
governador está estudando, sim. Ele já afirmou que vai tomar as providências
necessárias para que a população esteja protegida.
O
presidente da França, Emmanuel Macron, disse que estamos em uma guerra. É
uma guerra? É uma
guerra. Tanto que a nossa preparação no CBMDF, e por isso estamos nesse
processo, é para uma guerra. Uma ameaça terrorista, biológica, química,
radiológica ou nuclear. Chamamos de QBRM. O exército tem equipes especializadas
nisso também. Entramos em apoio para identificar, saber as medidas que se
adota. Na ameaça biológica, como é o caso dessa, temos que identificar
rapidamente o agente, isolar e saber as medidas a serem adotadas. Medidas de
quarentena, colocar a pessoas que podem contagiar outras totalmente isoladas.
Como estamos lidando com comunidade, o isolamento está sendo dentro das
residências. As pessoas precisam ter consciência de que portam um agente
infeccioso e perigoso. Por mais que 80% das pessoas não sejam afetadas, as
pessoas suscetíveis a um risco maior, com comorbidades, como diabetes e outras
doenças preexistentes, são estas que estão morrendo no mundo.
A
sua orientação é completamente oposta ao que o presidente fez no domingo… A gente precisa lembrar de que os
acidentes e os incêndios continuam acontecendo. As pessoas continuam se
machucando. Então, o Corpo de Bombeiros permanece funcionando full time, dentro
da sua capacidade. A gente terá que suspender as férias dos bombeiros. Há uma
readequação de prioridades. A atenção e o combate à Covid-19 passa a ser
prioridade. Temos bombeiros também chegando da Europa, dos EUA, com sintomas… É
uma questão que acomete a todos nós. Estes, nós estamos isolando dentro de
casa, para que ele, ou faça teletrabalho ou permaneça em isolamento, com
dispensa médica, quando necessário. E nós precisamos preencher essa lacuna com
os bombeiros que, com as suas férias suspensas, possam trabalhar também.
Qual
o tamanho da corporação? Hoje, somos 5.735 bombeiros em atividade, divididos
em diversas atividades de combate a incêndio, salvamento, atendimento
pré-hospitalar, mergulho, salva vidas…
É um
contingente suficiente? Com certeza, porque os bombeiros estão bem
preparados. Nós temos militares que fizeram curso no exterior ao longo dos
anos, nós sempre nos preparamos para uma situação dessas. Então, à medida que
evolua a situação, nós temos como adequar prioridades e efetivos
especificamente para atender. O CBMDF estará disponível atendendo a sociedade
inclusive em questões que não fazemos no dia a dia, mas que nós estamos
colocando à disposição agora para o Sistema de Saúde.
Vimos
até agora que a maioria dos infectados no DF e em boa parte do país pertence
às classes mais altas. Como será quando o vírus chegar às populações
carentes? Nas
reuniões com o governador ele fala sobre isso, sobre como proteger essas
populações. É muito mais com informação e com orientação. Por isso o governo e
suas várias secretarias estão produzidos muito material para divulgar essas
informações, para que as pessoas efetivamente tomem consciência do perigo e
saibam como fazer para se proteger. E a estrutura do Estado estará pronta para
isso, para chegar às regiões, aos domicílios.
Conversando
com especialistas e economistas eles dizem que têm duas opções:
salvam-se vidas ou prejudica-se a economia. Até agora a economia está
sendo prejudicada. A prioridade é salvar vidas, certo? Tem que avaliar todas as
possibilidades. Por isso que a linha é muito tênue. Até onde eu vou? Como é que
eu salvo vidas? Porque, se parar a economia toda, pode trazer prejuízos também,
até morrer pessoas. É muito difícil essa avaliação. Por isso é preciso todos os
especialistas se reunirem e fazerem um brainstorm de tudo o que está
acontecendo e tomar as melhores decisões. Aqui no DF, nós estamos
privilegiados, porque o governador vem tomando antecipadamente as ações e nós
estamos um pouco mais protegidos.
Se
tivesse que dar um conselho hoje para a população, para que realmente entenda o
tamanho da crise que nós estamos vivendo, quais recados o senhor daria? Para quem ainda não tem
consciência, abra a internet e assista a alguns vídeos do que está acontecendo
na Itália, no Irã e em outros países que passam profundamente por essa crise
para ver que há possibilidade de nós chegarmos nesse nível. Segundo: adote as
medidas, vire a chave da mudança de cultura e adote providências já de
isolamento social. Pare de ir a bar, a festas noturnas, pare de realizar
festas, solenidades, eventos que aglomerem pessoas e adotem as medidas de
isolamento.
Entrevista completa - 03 vídeos:
(*) Thaís
Umbelino Matheus Ferrari - CB.Poder - Foto: Ed Alves/CB/D.A.Press - Correio Braziliense
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