Ao CB.Poder, secretário diz que
estuda uso do Centrad e do Hospital da PM para a Covid-19. Pico da doença deve
ocorrer em 30 dias
*Por Alan
Rios
“Estar à frente dos problemas.” As
ações de combate ao coronavírus no Distrito Federal terão essa finalidade,
segundo o secretário de Saúde, Osnei Okumoto. Ele foi o entrevistado de ontem
no CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília — e comentou sobre as
medidas tomadas na capital e aquelas que estão em estudo para mitigar a
proliferação da doença na capital. Entre as ações futuras, o secretário
antecipou que analisa a utilização do Centro Administrativo do Distrito Federal
(Centrad) e do Hospital da Polícia Militar para internação de pacientes com
suspeita de infecção pela Covid-19, caso exista necessidade de leitos. Okumoto
também detalhou a situação dos hospitais referências do Distrito Federal, a
proximidade com o pico de contaminações e os decretos do governador Ibaneis
Rocha (MDB).
Estamos enfrentando
uma situação muito complicada em relação ao coronavírus. Dentro da
Secretaria de Saúde, como está a situação dos hospitais e dos profissionais?
Eles estão protegidos e têm capacidade para atender a população? Sim.
Primeiramente, todos os profissionais são treinados dentro das universidades
para se proteger e ter os programas de biossegurança para atender pacientes com
doenças contagiosas. Posteriormente, temos de trabalhar a questão de poder
oferecer cursos de reciclagem dessas pessoas para elas se atualizarem e devemos
oferecer os equipamentos de proteção individual. Não estamos tendo falta disso
e adquirimos mais equipamentos. Estamos comprando sempre 50% a mais dos
produtos de que precisamos, como máscaras, porque não sabemos o número de
atendimento que vamos enfrentar. O governador Ibaneis está pedindo para que a
gente saia na frente e busque sempre antecipar o problema, para não enfrentar
uma medida ainda mais urgente, que temos no mundo inteiro.
Não chegamos ao pico da
doença no DF? Não. Em 30 dias, devemos ter o pico da doença; por isso, é
importante fazer essa antecipação e ter vigilância em saúde, fazendo todos os
procedimentos de vigilância dos pacientes positivos, e trabalhar a assistência,
o tratamento. Temos hoje o Centro de Operações de Emergência (COE), com vários
profissionais que fazem tomadas de decisão na Secretaria de Saúde, melhorando o
nosso plano de contingência a cada dia.
Os decretos que o governador
editou nas últimas semanas, inicialmente, foram alvo de críticas. O senhor
considera que eles são efetivos? Sim. O governador foi muito feliz
com os decretos. Observamos que, nos outros países, houve crescimento de
transmissão muito rápido, com uma reta ascendente de infecções. Quando a gente
toma essas medidas de proibir aulas, diminuir possibilidades de transmissão em
locais públicos, isso é muito importante, porque diminui aglomerações e
possibilita que essas contaminações aconteçam raramente ou aos poucos. Então, a
gente achata essa linha de transmissão, e ela acontecerá em períodos mais
longos, sem sobrecarregar o sistema de saúde.
Quando chegarmos ao pico de
infecções, quais as alternativas da Secretaria de Saúde para atendimento, além
do Hospital de Base e do Hospital Regional da Asa Norte (Hran)? É
importante lembrar que as pessoas não precisam ter pânico. Cerca de 80% vão
adquirir e não vão precisar de internação. Então, 20% precisarão de
atendimento. Hoje, estamos com esses dois hospitais muito bem conversados e
organizados para o atendimento. Temos observado notícias falsas que levam as
pessoas ao pânico. A gente estava na fase de contenção, agora está na fase de
mitigação, quando temos mais de 100 exames positivos no país. A partir desse
momento, todos os hospitais devem estar preparados. Como temos uma rede que
ficou muito tempo sem aumento de leitos, fizemos mudanças no Hran. Hoje, temos
10 leitos de UTI específicos para atendimento de coronavírus e estamos
conversando com rede privada, que tem grande quantitativo de leitos. Então,
vamos chegar a quase 400 leitos de UTI dentro da nossa rede, mas contando com a
rede privada e os 2,8 mil leitos da UTI. Se tiver algum problema a mais, ou
seja, nos antecipando desde já como o governador pede, estamos vendo o Hospital
da Polícia Militar, que está pronto, mas não tem o mobiliário necessário, os
equipamentos para o atendimento. Estamos estudando montar leitos de enfermaria
dentro dos 29 quartos que eles têm, mais 22 leitos de UTI. Também fomos hoje
(ontem) ao Centrad pela manhã e fizemos um estudo com a Vigilância Sanitária
para olhar o ambiente e ver o que pode ser feito lá, caso exista necessidade
muito grande de leitos.
"A gente estava na fase de
contenção, agora está na fase de mitigação, quando tem mais de 100 exames
positivos no país. A partir desse momento, todos os hospitais devem estar
preparados"
Quando a pessoa deve comparecer a
uma unidade de saúde e fazer um teste de coronavírus? O que nos traz
preocupação é quando o paciente tem dificuldade respiratória. Qualquer
dificuldade, ele deve procurar uma unidade hospitalar. Outros tipos de
pacientes, com febre, tosse e coriza, podem procurar uma UPA nossa e fazer os exames,
caso necessário.
Caso a pessoa tenha sintomas e
queira evitar o hospital, ela pode pedir atendimento em casa? O que
fizemos agora para melhorar o atendimento é ter pessoas treinadas para atender
nos números 190, 193 e 199. Caso seja necessária uma informação mais técnica, o
cidadão será direcionado para outro telefone, com especialista que dará
orientações. Caso exista necessidade de coletar amostra, ela será orientada
sobre como e onde fazer essa coleta. Mas é preciso ressaltar que quem está com os
sintomas de dificuldades respiratórias devem procurar uma unidade de saúde.
A manifestação do
vírus acontece em quanto tempo? Ela pode acontecer em seis ou sete
dias, com sintomas, mas em até 14 dias eles podem se manifestar. Quem chega de
viagem internacional é importante se guardar nesse período. Conversei com
várias pessoas que tomam cuidado de não chegar perto de crianças e idosos.
É recomendado evitar contato
até no núcleo familiar dentro de casa? Toda vez que a pessoa retorna
para casa, ela deve saber que pode ter tocado em algum material ou se
contaminado sem saber quando alguém falou e expeliu grande quantidade de
gotículas. Então, ao chegar em casa, é preciso fazer a higienização antes de
ter esse contato.
Há uma grande preocupação das
pessoas com o transporte público, que anda diariamente abarrotado de gente.
Quais medidas são eficazes para
dar segurança a
elas? Trabalhamos sábado e domingo direto para poder minimizar os casos de
transmissão. Ontem, estive com o secretário de Transporte, dentro da sala de
gestão do governador, e discutimos isso. Os ônibus serão higienizados por
álcool 70 e água sanitária. Foi orientado a tirar a sujidade de onde as pessoas
colocam as mãos e depois realizar o tratamento com álcool ou água sanitária.
A paciente 01 estava em
um hospital particular e foi ao Hran. Por quê?Todos os hospitais
precisam ter leitos de isolamento, são obrigados. Os pacientes internados não
precisam ser transferidos. Mas o hospital em questão disse publicamente que não
estava em condições de fazer esse acolhimento; então, a rede pública teve de
acolher para dar o atendimento necessário.
Ainda é comum ouvir que
o coronavírus é uma gripe como outra qualquer. Tivemos pessoas indo
às ruas no fim de semana, e o presidente Jair Bolsonaro rompendo o isolamento e
encontrando os manifestantes. O que há de diferente do coronavírus em relação
às outras gripes? Temos vírus respiratórios mais letais, mas eles têm
vacinas produzidas todos os anos. No caso do coronavírus, por ser novo, por mais
que seja menos letal, precisa de cuidado. Hoje, o que acontece é que estamos
entrando no outono, quando vai ter circulação de até 21 tipos de vírus. As
pessoas adquirem e não sabem qual é o vírus; então todo o cuidado é necessário,
porque eles podem agravar os pacientes que têm algumas doenças bases, como
asma, diabetes, hipertensão. Quem fuma e fica com pulmão comprometido também
precisa ter um cuidado maior.
Na Itália, quase 400 pessoas
morreram. O que foi feito de errado que não pode se repetir
aqui? A população de lá é mais idosa, e eles estavam em um inverno muito
severo, quando o vírus tem essa propensão maior para acometer os pacientes.
Houve um conjunto de situações que culminou com esses óbitos. Temos de tomar
cuidado com essas pessoas idosas, que não podem ir a aglomerações, por exemplo.
O idoso precisa ficar em casa, em
isolamento, ou pode fazer caminhada, ir a restaurante? O ideal é que ele
não saia de casa para locais com aglomerações. Sair para o ar livre, sem muitas
pessoas por perto, tudo bem. Digo que o supermercado perto de fechar é
essencial, porque está mais vazio. Caminhada é possível, mas restaurante cheio
é melhor evitar. Tem gente pedindo comida pela entrega, por exemplo, que é uma
opção.
Dos 14 pacientes confirmados com a
Covid-19, todos viajaram para fora do país. Mas a transmissão
comunitária vai começar? Pode começar a qualquer momento. Estamos
tomando todos os cuidados, no aeroporto e em todos os ambientes. Quem não sabe
que está portando o vírus pode transmitir aqui dentro do DF para outras
pessoas. Por isso, o trabalho da informação é importante. As medidas do Ibaneis
(Rocha) possibilitam que a gente ainda não tenha transmissão aqui. O DF tem
muitas embaixadas, pessoas que viajam para o exterior em congressos, de férias.
Esse fluxo é muito grande aqui.
Haverá contratações de
profissionais no DF? Sim. Baseado nos decretos de emergência e na medida
provisória do governo federal, vamos chamar mais médicos, que são
especialistas, clínicos, enfermeiros, intensivistas, pneumologistas,
infectologistas, cirurgiões gerais, traumatologistas, sanitaristas e
anestesistas, que chamamos 51 agora do nosso concurso. Durante a passagem de
ano, muitos se aposentam, entram de férias ou pedem demissão; então, temos de
fazer essa reposição. Ontem (domingo), saiu um comunicado do Ministério da
Saúde, que chamou mais de 5 mil médicos, isso é muito importante.
"Estamos tomando todos os
cuidados no aeroporto e em todos os ambientes. Quem não sabe que está portando
o vírus pode transmitir aqui dentro do DF para outras pessoas. Por isso, o
trabalho da informação é importante
"Voos são propícios para
as infecções. O que os passageiros devem fazer na viagem para
evitá-las? As recomendações são: quem está com infecção respiratória e vai
viajar, utilize máscara. Os demais viajantes, são cuidados básicos. Eles terão
contato com as poltronas; então, tem de utilizar álcool em gel, lavar bem as
mãos. Se alguém passar mal dentro do avião, temos um regulamento internacional
que diz que o comissário avisa o piloto, que avisa a torre de controle, e a
aeronave faz um taxiamento diferente para que ele possa ser atendido pela
ambulância e seja levado ao hospital.
Alan Rios - Fotos: Tailana Galvão/CB/D.A.Press - CB.Poder - Correio
Braziliense
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