*Victor Dornas
A tese conspiratória sobre a possibilidade
de a China ter intencionalmente criado uma arma biológica a meu ver é das mais
insossas pela simples razão da maior potência do mundo ser a principal
interessada em averiguar isso. Se houvesse a mais remota possibilidade de o
vírus ter sido criado ou manipulado em laboratório isso já estaria sendo usado
no cenário geopolítico, uma vez que a China é quem agora enriquece a partir da
venda de materiais e no próprio mercado de ações que permite a aquisição por
baixo custo. Antes mesmo de surgirem notícias acerca da possibilidade de
substâncias como a cloroquina serem eficazes no tratamento da doença covid-19
se noticiava que não havia sido encontrado nenhum traço de manipulação do vírus.
Os Estados Unidos frequentemente são
chamados de polícia do mundo por exercerem domínio de influência em órgãos de
cooperação internacional e se insurgirem nos mais diversos conflitos na Ásia
sob a justificativa de conter ameaças potencialmente danosas em escala global.
Ora, esse vírus é uma arma biológica que parou a economia do mundo, porém não é
uma arma intencionalmente criada e isso faz dele a arma perfeita contra a
referida polícia do mundo. Os Estados Unidos estão acuados em razão de sua
incapacidade retaliar a China, ao menos diretamente, por não poderem
responsabiliza-la como inimigo declarado ou responsável direto pelo vírus.
Dizer que essa pandemia de SARS resulta do descaso do governo chinês por
permitir que surtos recorrentes ocorressem em regiões que cultivam mercados
insalubres de animais exóticos, tais como em Wuhan, é diferente de dizer que
houve dolo em sua acepção mais óbvia na criação de uma arma biológica e, assim,
poder retaliar com auxílio dos demais países prejudicados.
Não dá pra dizer também que a pandemia
resultou de um azar. Médicos e cientistas chineses têm alertado a questão há
bastante tempo, porém numa ditadura não há imprensa e só se divulga ao mundo
aquilo que importa ao seu ditador. No nosso direito chamamos essa tipo de
irresponsabilidade com fim trágico de dolo eventual, ou seja, quando por
negligência, o infrator permite que um dano ocorra, isto é, um mal evitável.
Sendo assim, não é forçoso inferir que a China apresenta todas as
características da conduta dolosa neste prisma da eventualidade, contudo isso
não costuma bastar no cenário internacional para justificar uma guerra. Os
Estados Unidos agora são classificados como novo foco da doença covid-19, haja
vista que a China há algum tempo tem noticiado ter conseguido neutralizar o
contágio.
A China agora exporta materiais para o seu
maior inimigo comercial, materiais para ajudar a conter o vírus, além de alguns
dos seus empresários do grupo responsável pela famosa rede "Ali
Express" estarem doando muitas cargas de suprimentos e materiais aos
locais mais afetados. Como se declara guerra contra um país que coopera dessa
forma? Por ironia do destino, talvez um destino decorrente de uma omissão
dolosa, os Estados Unidos agora amargam uma situação onde são diariamente
golpeados, mas são incapazes de nomear um inimigo além daquele ser microscópico
que não tem pátria. O presidente Trump ensaia formas de retaliar a China com
provocações como a alcunha do vírus SARS como “vírus chinês”, porém ele sabe
que entrou numa sinuca de bico, pois o gigante que regula o mundo agora apanha
sem poder revidar da forma como está acostumado a fazer.
Os Estados Unidos possuem armas para lidar
com qualquer tipo de ameaça estrangeira, exceto uma especificamente denominada
como “força maior”. Talvez isso signifique alguma coisa. A China acelera sua
escalada ao topo.
Não há impérios imunes à
imprevisibilidade da vida.
(*) Victor Dornas – Colunista do Blog do Chiquinho Dornas –
Foto/Ilustração: Blog-Google