DF tem nove casos de transmissão
comunitária. Levantamento
da Secretaria de Saúde mostra que a forma de contágio pelo novo coronavírus no
Distrito Federal evoluiu de local e importada para comunitária. A pasta ainda
informa que a maioria dos casos está no Plano Piloto e no Lago Sul
O Distrito Federal tem nove
pessoas infectadas pelo novo coronavírus que não sabem dizer onde contraíram a
doença. Levantamento da Secretaria de Saúde mostra que a forma de contágio
evoluiu de importada e local para comunitária (leia Transmissões). Até então, a
maioria dos diagnósticos era de pacientes que voltaram de viagens
internacionais ou que entraram em contato com esses viajantes. Após 21 dias do
primeiro caso, a capital contabiliza, oficialmente, 203 notificações
confirmadas da Covid-19, no entanto, informações do gabinete de crise do
Governo do Distrito Federal (GDF) indicam que são 206 casos da doença.
Do total de contaminados, 47, a
maioria, mora no Plano Piloto, segundo balanço da Secretaria de Saúde que
avaliou o quadro da doença na quarta-feira. Em segundo lugar, vem o Lago Sul,
com 34 registros da doença. Uma moradora dessa região administrativa, uma
mulher de 52 anos, foi a primeira pessoa no DF a testar positivo para a
Covid-19, em 5 de março. Desde então, ela segue internada na unidade de terapia
intensiva (UTI) do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e está em estado
gravíssimo.
Apesar de o Lago Sul estar em
segundo lugar no ranking, a região administrativa é proporcionalmente a
primeira colocada. A incidência da doença é de 112,14 por 100 mil habitantes.
Em seguida, vem o Sudoeste que, com 17 pacientes diagnosticados, registra
incidência de 30,76 por 100 mil habitantes. Em terceiro lugar, fica o Plano
Piloto, que o valor da incidência por 100 mil habitantes é de 20,41.
Em algumas regiões administrativas,
ainda não há presença do coronavírus. Recanto das Emas, Varjão do Torto,
Candangolândia, Riacho Fundo II, Estrutural, Setor de Armazenagem e
Abastecimento Norte (SAAN), Fercal, Santa Maria, Itapoã e Brazlândia não têm
casos confirmados da doença. Além disso, Samambaia, Núcleo Bandeirante, Riacho
Fundo I, Sobradinho II, Paranoá, São Sebastião e Ceilândia têm apenas um caso
cada de coronavírus.
Infectados: Dados divulgados ontem pela Secretaria de Saúde
mostram que dos 203 casos confirmados de coronavírus no Distrito Federal, 12
estão em internação hospitalar, sendo seis graves e seis críticos. Os demais
são consideradas infecções leves ou estão em investigação, mas não exigem que o
paciente fique em unidades de saúde. Conforme informações do gabinete de crise
do GDF há 206 pessoas com a Covid-19 no DF, sendo 121 homens e 85
mulheres.
O levantamento da pasta também
considerou a faixa etária dos infectados. A maior incidência da doença acontece
em pessoas entre 31 e 40 anos, totalizando 58 casos. Em seguida, com 55
diagnósticos, vem o grupo de 41 a 50 anos. A taxa de infecção é menor em
crianças e adolescentes entre 11 e 20 anos, que representam sete notificações
da Covid-19.
Quarentena: Especialistas alertam: com a transmissão
comunitária, a velocidade de contágio é muito maior. Luciano Lourenço, clínico
médico e coordenador do pronto-socorro do Hospital Santa Lúcia explica que o
fator de infecção do coronavírus é de 2,5, o que quer dizer que, em média, cada
paciente com a doença pode transmiti-la a mais 2,5 pessoas. “O H1N1, por
exemplo, responsável pela pandemia de 2009 conhecida como gripe suína tem esse
índice em 1,5”, comenta Luciano.
Agora, mais do que antes, o
isolamento se mostra importante. “Tudo o que está sendo recomendado é para
evitar a disseminação de um número muito grande de pessoas infectadas em um
curto intervalo de tempo. Aqui no Brasil, nós temos a oportunidade de aprender
com os erros e acertos de outros países”, ressalta. “A China, inclusive já está
publicando estudos para orientar o mundo inteiro”, destaca. Ele lembra que a
taxa geral de letalidade está subindo. Antes esperada em 2,5%, hoje está entre
3,5% e 4%. Para idosos, pode chegar a 15%.
Na análise do médico, o fato de,
no DF, grande parte dos infectados residir em regiões como Plano Piloto e Lago
sul, está diretamente associada ao poder aquisitivo dos moradores. “A maioria
desses casos chega importado por pessoas que tiveram viagens recentes a regiões
endêmicas. Mas, sem dúvida, o vírus vai se alastrar e quem trabalha para esses
pacientes e moram em outras cidades vão levar a doença. Esse é o motivo do
isolamento: evitar que a contaminação aconteça em velocidade desproporcional”,
alerta Luciano.
Para o especialista em doenças
infecciosas e médico do Hospital de Base e das Forças Armadas (HFA), Hemerson
Luz, a transmissão comunitária era esperada pelos profissionais da saúde. “Essa
variação de números não significa que a situação esteja fora de controle. Em
algum momento, o tipo de transmissão mudaria. Por isso, é importante manter os
cuidados de higiene, principalmente no transporte público e com objetos
compartilhados”, frisa.
De acordo com o estudioso, a
quantidade de casos confirmados no DF está abaixo das curvas matemáticas
esperadas pelos especialistas. “Geralmente, o que acontece é um crescimento
exponencial. O estimado era de que a cada três dias o número de casos dobrasse.
Então, estamos dentro do previsto”, analisa. Hemerson ainda reforçou que a
discussão sobre os cuidados pessoais são necessárias para impedir que os
números aumentem.
Sobre a maior incidência de
infecção em homens, o infectologista acredita que seja algo relacionado ao
comportamento. “A dengue, por exemplo, atinge mais mulheres. O Aedes aegypti é
domiciliar e, como, geralmente, há mais mulheres dentro de casa durante o dia,
elas ficam mais expostas. No caso do coronavírus, pode haver falta de cuidado
por parte do homem”, avalia. Hemerson esclarece que a taxa de infecção é maior
na faixa etária dos 31 aos 50 anos porque é um público que está em atividade
comercial e social. “A ideia do isolamento é exatamente pegar essas pessoas
mais ativas e bloqueá-las”, completa.
Insumos e contratações: Tendo em vista o aumento de casos do coronavírus, o
Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IGES-DF) divulgou
a abertura de seleções para contratações de profissionais de saúde. Médicos do
trabalho, infectologistas, imunologistas, pneumologistas, psiquiatras, clínicos
gerais, psicólogos e fisioterapeutas serão convocados para trabalhar durante
seis meses.
De acordo com o informe do
instituto, a seleção “será feita com base em análise curricular e servirá para
atender as demandas de urgência e emergência da população na rede de saúde
pública no combate ao novo coronavírus”. Os salários variam entre R$ 3.783,93,
para psicólogos, e R$ 14.330,40, para médicos intensivistas.
A Secretaria de Saúde também
divulgou que abriu dispensa de licitação para compra emergencial de
equipamentos de proteção individual (EPIs). A medida publicada em edição extra
do Diário Oficial do Distrito Federal (DODF), na noite de quarta-feira, tem
como objetivo facilitar o combate à disseminação da Covid-19 no DF. A pasta
pretende adquirir macacões para pulverização, sapatilhas, luvas, avental,
capotes e máscaras para o abastecimento pelos próximos seis meses.
Aniversário adiado: O GDF
confirmou, na noite de ontem, a suspensão das festividades programadas para o
60° aniversário de Brasília, em virtude da pandemia do coronavírus. A decisão
foi tomada diante da previsão de pico da doença no período e da impossibilidade
de planejamento dos eventos. A festa ainda não tem nova data definida.
Transmissões: mHá três tipos de
transmissões pelo novo coronavírus: » Importada: acontece quando um viajante retorna ao país e
percebe-se que ele contraiu a doença durante uma viagem. » Local: quando uma pessoa tem contato com algum
infectado e contrai a doença na mesma cidade, sem viajar. Por exemplo, uma
pessoa que apresentou a enfermidade após entrar em contato com algum
diagnosticado. » Comunitária: é quando os órgãos
de saúde e o paciente não conseguem identificar a origem da infecção.
Por :
Mariana Machado - Alan Rios - Walder Galvão - Foto/Ilustração: Blog-Google -
Correio Braziliense