Um assunto muito importante
Projeto de passarela subterrânea
em frente à Câmara Legislativa do Distrito Federal
*Por Jane
Godoy
“A gente tem que
sonhar, senão as coisas não acontecem. A vida é um sopro!” (Oscar Niemeyer)
Mês de fevereiro, depois do
carnaval.O movimento na cidade começa aos poucos a se acentuar, devido à volta
das pessoas de suas férias de fim de ano, descanso de carnaval e volta às
aulas.
O trânsito, portanto, passa a se
intensificar, a cada dia que passa, mostrando aos brasilienses que o cuidado e
a atenção precisarão ser maiores.
Num dia desses, voltando a pé de
meu treino matinal na academia, já de longe comecei a observar uma senhora que,
diferente dos outros apressados pedestres, tentava atravessar a primeira pista
da EPDB, no sentido Gilberto Salomão, ponte Costa e Silva, com extrema
dificuldade, pois usava um par de muletas canadenses, daquelas que se apoiam
nos braços, acima dos cotovelos.
Não tirei mais os olhos daquela
senhora. Diminuí minha marcha, sempre atenta. Com alívio observei que ela
conseguiu atravessar a primeira pista, quase que flutuando sobre o asfalto, tal
a velocidade que empreendeu com aquelas muletas, num intervalo curto e perigoso
entre os carros que “voavam” tão afobados naquela pista molhada, pois há pouco
havia chovido.
E eu de olho nela, esquecida do
ritmo adequado a uma saudável caminhada. Atenta e já aflita, vigiando a
travessia daquela senhora de muletas, no meio do capim (onde deveria ser grama)
alto e molhado, naquele imenso canteiro central, entre folhas mortas, terra,
buracos e sabe-se lá o que mais!
Finalmente, cansada, ela chega ao
meio-fio do lado de baixo do canteiro central, bem em frente ao ponto de
ônibus. Para. Espera, espera e espera. Na pista, como num autódromo, os carros
passam às pressas e seus motoristas sequer percebem que, à beira do meio-fio,
há uma deficiente física solitária e tensa, a se equilibrar em suas muletas,
cujas borrachas de apoio estavam sujas de barro.
Tomei, então, a decisão mais
importante dos últimos tempos. Respirei fundo, já indignada e morrendo de pena
daquela senhora. Esperei um hiato maior entre um carro e outro e, imbuída de
muita coragem, parti toda empinada para o meio da pista, braço esquerdo
levantado, bem alto, e o direito com aquele movimento de sobe e desce, de quem
está mandando os carros pararem, diante do espanto e olhos arregalados da
senhora de muletas. Ao mesmo tempo eu olhava firme para ela e dizia que ficasse
calma e me esperasse, porque eu iria buscá-la. Uma cena que jamais vou me
esquecer!
O primeiro carro, do Corpo
Diplomático, parou. Comecei a rezar para que os de trás estivessem atentos e
parassem também, diante daquela situação inusitada, com “uma louca” de malha de
ginástica fechando aquele trânsito, com o mesmo gestual dos fiscais do Detran.
Tive medo de causar um grande engavetamento entre os mais desatentos.
Todos parados (ufa!), ainda com o
braço esquerdo levantado, bem no meio da pista, me dirigi à senhora, estendi-lhe
a mão direita e propus que atravessasse comigo. Afobada e tensa, ela começou a
correr, calada, incrédula talvez, com aquelas muletas, até que eu pedi que
ficasse calma, pois estava segura. Ao chegarmos e só depois que ela subiu na
calçada, “liberei” o trânsito com um largo sorriso de agradecimento e aquele
gesto conhecido, flexionando o braço direito “tipo” pode passar.
Lembrei-me, então, de quando eu
era Fadinha, aos 10 anos de idade, postulante ao posto de futura Bandeirante.
Tínhamos um cumprimento, com os dedos médio e indicador juntos e dizíamos, uma
para as outras: “FAS — Fada ajuda sempre!” Devíamos praticar uma boa ação
todos os dias.
Já avó, tive uma bela oportunidade
de praticar os ensinamentos de meus tempos de criança. E senti uma sensação de
plenitude indescritível, ao praticar a minha boa ação naquele dia.
Por isso, senhor governador e
administradores regionais, volto aqui, mais uma vez, em 17 anos, pedir que
todos voltem sua atenção e pensamento para esses pedestres que, neste autódromo
chamado Brasília, ficam como aquela senhora, ainda que sem usar muletas. Uma
dificuldade para atravessar as pistas de rolamento, pois são sequer vistos ou
sentidos pelos motoristas em seus bólidos apressados.
Entre pontos de ônibus, saídas de
colégios e órgãos públicos (na L2 por exemplo) em que as travessias não só são
perigosas, mas atravancam o trânsito com semáforos que se fecham a todo
momento, façam passagens subterrâneas decentes, iluminadas e seguras. Campanhas
educativas e intermitentes convencerão os pedestres a usá-las, evitando
acidentes e problemas para atravessar as pistas.
Exemplo de passagem subterrânea,
que serve para ciclistas e pedestres, nos canteiros centrais, ligando as duas
pistas
Nos canteiros centrais, façam
calçadas com o padrão exigido, justamente onde as pessoas pisoteiam todos os
dias e mostram por onde elas precisam passar, ou seja, onde estão feitas as
trilhas que facilitam a descoberta do melhor lugar para atravessar.
Se ostentamos o título de cidade
com a melhor qualidade de vida, que tal nos aproveitarmos disso e possibilitar
tamanho conforto e segurança para todos os brasilienses? O trânsito ficará mais
livre, fluirá melhor e os pedestres atravessarão as pistas em segurança e com
mais rapidez. Todos em harmonia e segurança total.
Um sonho que, se concretizado,
deixará nossa cidade sexagenária com o título de cidade que mais cuida e
respeita os seus pedestres. E motoristas também.
Grandes e graves problemas de
trânsito serão eliminados, num piscar de olhos. Mergulha Brasília
(*) Jane Godoy – Fotos: Iano
Andrade/CB/D.A.Press – Correio Braziliense
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