Uma das propostas do Governo do
Distrito Federal é de que a reabertura das escolas públicas comece pelo ensino
médio, mas pais resistem à ideia de volta às aulas
Educação elabora plano para
reabrir escolas. Planejamento é um pedido do governador Ibaneis Rocha e levanta
debate sobre riscos e possibilidades de flexibilização do distanciamento
A Secretaria de Educação elabora
um planejamento para a reabertura das escolas públicas do Distrito Federal. O
plano técnico é um pedido do governador Ibaneis Rocha (MDB), que deu prazo de
10 dias, começando ontem, para a pasta finalizar o estudo. No documento que
será entregue ao chefe do Executivo local até 1º de maio, a secretaria deverá
detalhar formas de promover aulas presenciais, com segurança da saúde dos
alunos em meio à pandemia do novo coronavírus. Atualmente, são 460 mil
estudantes na rede, número que preocupa especialistas. O Conselho de Saúde do
DF emitiu nota contra a retomada das atividades, enquanto associações e
infectologistas mencionam incertezas e a necessidade de discussões amplas sobre
a flexibilização de medidas de distanciamento social.
As aulas presenciais estão
suspensas desde 12 de março por causa da Covid-19. As instituições de ensino só
voltariam a abrir em 1º de junho, de acordo com decretos publicados no Diário
Oficial do DF. Porém, após reunião no Palácio do Planalto entre o presidente
Jair Bolsonaro e Ibaneis, na segunda-feira, o governador declarou estudar a
antecipação do retorno às aulas nos colégios militares e cívico-militares.
Essa possibilidade, no entanto, também será analisada pelo plano pedido
por Ibaneis. Na ocasião, pais de alunos reagiram. Uma petição on-line reuniu
mais de 17 mil assinaturas contra a reabertura.
Joana Lopes, 38 anos, é mãe de
estudante do Colégio Militar de Brasília. Para ela, a medida é precipitada. “As
crianças não têm as instruções necessárias para esse retorno, e as escolas não
estão preparadas para esse momento”, avalia. Tiago Pessoa, 38, é pai de aluna
do Colégio Militar Dom Pedro II, e diz que, caso as aulas retornem, não levará
a filha para a escola. “Temos crianças com problemas respiratórios, diabéticos,
pessoas do grupo de risco em casa. A última coisa que deve voltar é a aula
presencial”, defende.
Em entrevista coletiva no Palácio
do Planalto, na tarde de ontem, Ibaneis declarou que a proposta de volta às
aulas será estudada em toda a rede pública do DF, mas defendeu que o
planejamento só será executado se o GDF garantir a segurança dos estudantes.
“Demos um prazo de 10 dias para que a Secretaria de Educação e a Secretaria de
Saúde possam fazer um cronograma de retorno, a partir do ensino médio. Isso vai
depender da compra de máscaras para todos os alunos e profissionais da área da
educação, de empresas de desinfecção e de programas de comunicação para que
possamos informar a população e trazer segurança aos alunos na retomada das
aulas”, detalhou o governador.
Reações: Grupos de pais, especialistas e sindicatos do DF reagiram de diferentes
formas ao pedido do governador. Para a Associação de Pais e Alunos das
Instituições de Ensino (Aspa), a transparência deve ser pilar deste momento para
que todos saibam as reais condições de combate ao coronavírus nas escolas. “É
essencial a apresentação, para a comunidade escolar, de protocolo específico de
conduta para cada unidade, que contemple procedimentos como os cuidados com os
alunos que apresentem doenças crônicas e agravantes, a testagem de exames para
a Covid-19 de estudantes, professores e funcionários e medidas de
distanciamento de carteiras e de áreas comuns, como pátios”, informou a Aspa,
em nota. A entidade pede que a comunidade participe do debate.
As escolas privadas também
acompanham as discussões. O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos
Particulares de Ensino (Sinepe), Álvaro Domingues, ressalta que a decisão deve
ser técnica e analisada pelos profissionais da saúde. “Acreditamos que o
retorno seja possível, mas com absoluta segurança. Caso as aulas voltem, que
sejam acompanhadas de um rigoroso protocolo de segurança profilática e de um
monitoramento da eventual ocorrência de novos casos e respectivos tratamentos”,
reforça.
O Conselho de Saúde do DF, órgão
vinculado à Secretaria de Saúde, se posicionou contra as atividades presenciais
de ensino. O órgão destaca que os casos de coronavírus ainda não atingiram o
pico epidemiológico no DF por causa das medidas de isolamento “adotadas em
tempo oportuno e à frente de outras unidades da Federação”, o que possibilitou
melhor enfrentamento da pandemia. “Recomendamos que o governador, nesta
importante data em que celebramos os 60 anos de Brasília, continue adotando com
rigor as medidas de isolamento e distanciamento social, que foram exemplo para
o país, e, assim, proporcione condições de uma resposta adequada do Sistema
Único de Saúde do DF, preservando vidas da população e protegendo os
trabalhadores”, solicitou, em nota.
Wildo Navegantes de Araújo,
professor de epidemiologia e membro do Comitê Gestor do Plano de Contingência
da Covid-19 (Coes) da Universidade de Brasília (UnB), não considera prudente a
possibilidade de reabertura dos colégios. “É necessário que o GDF esclareça qual
é a base científica que está levando em conta para cogitar essa reabertura. O
efeito dessa medida não será sentido de imediato, pode demorar até 14 dias para
observarmos. Mas não tenho dúvidas que, caso as aulas voltem, haverá aumento no
número de casos de Covid-19 no DF”, opinou.
A Secretaria de Educação informou
que “o governo deverá considerar, entre outras coisas, o quadro de evolução da
pandemia na ocasião de sua decisão”. E ressaltou que o GDF dialoga para que
nenhuma ação gere impactos negativos. “Neste momento, as áreas estão voltadas
para fazer uma proposta de retorno, que leve em conta as recomendações médicas
e não ofereça riscos à saúde”, esclareceu.
Palavra de
especialista: “Transmissão facilitada” - “Aqui no Distrito Federal, a
gente tem uma série de características que favoreceram o controle da nossa
curva de crescimento de casos. Temos uma população com renda per capita muito
mais alta do que o resto do país, uma população de funcionalismo público que
consegue manter home office e salário integral e menos participação de
profissionais liberais e do comércio na economia. Além disso, começamos ações
de distanciamento muito cedo, isso fez com que a curva de casos ficasse muito
achatada. Desse modo, é importante que exista alguma liberação de atividades
para que o vírus circule de maneira controlada — com o serviço de saúde
conseguindo atender a essa demanda — e para que aconteça a imunidade de
rebanho, que é o que, em última análise, vai permitir que a gente saia dessa
situação de distanciamento, de quarentena. Mas escolas são ambientes em que a
transmissão é muito facilitada, porque as crianças não fazem a higiene de mão
adequadamente, se aglomeram, não usam máscara. Isso pode levar a uma
disseminação maior de casos. Dessa maneira, talvez fosse melhor que essa
abertura começasse, de forma controlada, por outros setores, como parece ser o
plano do GDF” (» Alexandre Cunha,vice-presidente
da Sociedade Brasileira de Infectologia do DF)
(*) Alan Rios – (* Colaborou Ana
Luísa Santos* *estagiária sob supervisão de Guilherme Goulart) – Foto: Ed
Alves/CB/D.A.Press – Correio Braziliense
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