Brasília vai se
mostrar mais forte
*Ibaneis Rocha
Brasília
faz, hoje, 60 anos. Uma das mais jovens capitais do mundo. Se fosse gente,
estaria chegando à terceira idade. Uma jovem senhora. Carrega alguns traços da
idade e continua bela, muito bela. Hoje tem desafios urgentes a
enfrentar. A mim, governante, cabe ter um foco nesses dias de tantas
preocupações: cuidar de Brasília. Zelar pelo seu povo. Manter vivas as alegrias
e as esperanças em um futuro breve.
Nesta
comemoração das seis décadas, as avenidas deveriam estar lotadas com muita
gente — idosos, crianças, famílias, cachorros, barraquinhas, artistas,
turistas, vendedores, curiosos. Estarão vazias. O colorido e o barulho do dia
de festa darão vez ao silêncio interrompido por automóveis e os passarinhos.
Alguns se arriscarão pelas quadras usando máscaras de proteção. A maioria
ficará resguardada nas residências. Um cenário que nenhum dos mais engenhosos
escritores de ficção ousou imaginar para nós.
Tão celebrada,
capa de tantas revistas, modelo das mais icônicas fotos, tema de livros, a
aniversariante Brasília faz parte da história do mundo. Hoje, porém, mais do
que isso, Brasília vive o mesmo drama do mundo: aqui também se combate a
doença, a pandemia, a peste que parece nunca abandonar de vez a humanidade,
desta vez com o nome de novo coronavírus. Ou Covid-19.
No território
de Brasília, o Distrito Federal, vive um povo que já nasce com o valor de ser
de vanguarda, com a missão de liderar. De estar à frente das questões
brasileiras que precisam ser resolvidas urgentemente. Agora lidamos com a doença.
Precisamos enfrentá-la e vamos vencê-la.
A um
governador cabe tomar decisões graves que impactam, de uma hora para outra,
milhões de pessoas. Deliberações que precisam levar em conta múltiplos fatores:
a sobrevivência da população, os vínculos familiares, os empregos, a maneira de
ganhar o pão de cada dia, as rotinas, as aspirações, os medos, as angústias.
Fechar lojas, restaurantes, parques, orientar que tantos fiquem em casa
são decisões que geram solidariedade, união e cooperação. Mas também críticas e
perplexidades.
É necessário
também que milhares continuem no trabalho, para manter Brasília viva. São os
entregadores, os agricultores, os frentistas, o pessoal da limpeza, da
zeladoria, as mulheres e homens dos bombeiros, da segurança pública. A cada um
deles, Brasília agradece para sempre.
Ainda é
preciso pensar nas contas públicas, nas folhas de pagamento, na capacidade de
recuperação econômica, nos empreendedores que estão com os negócios fechados. E
nos que não contam com trabalho fixo, nos sem-teto, nos que lutam por comida
diariamente e para os quais a quarentena não é opção. É preciso,
continuadamente, fazer escolhas que geram aflição a milhares.
E, sobretudo,
é preciso ficar junto ao sistema de saúde. Fazer projeções, monitorar os
leitos dos hospitais, o pessoal, a chegada dos insumos. É necessária uma
dedicação imensa de todos para que a cadeia da saúde acomode não apenas as
vítimas da pandemia, mas também mantenha os procedimentos da pesada rotina de
todas as semanas do ano. Para cada paciente que recebe alta, nós devemos aplaudir
de coração aos profissionais que os salvam. A eles, homens e mulheres,
dedicamos os 60 anos de Brasília.
Por mais que
tenhamos especialistas, assessorias, estudos, as decisões mais graves a serem
tomadas neste tempo são solitárias. É momento de diálogo com a própria
consciência. Nossos pareceres afetam o morador do Plano Piloto, os mais de 400
mil habitantes de Ceilândia, a sempre movimentada Taguatinga, os arranha-céus
de Águas Claras, as comunidades carentes do Sol Nascente e do Itapoã, entre
tantas outras. Mais: a verdade é que a decisão a ser tomada aqui provavelmente
será replicada em tantos outros lugares do país. Daí a responsabilidade se
multiplica.
Não são
decisões frias, apenas técnicas. São ordens e orientações que carregam mudanças
radicais nas trajetórias de tanta gente. O que nos guia neste período é que as
decisões têm um norte: as pessoas, a vida. O que, no conjunto, será o melhor
para todos.
De uma
perspectiva histórica, Brasília foi vitoriosa em todas as batalhas que
enfrentou. Sua própria construção e fundação, a linha de frente da
interiorização do Brasil, a volta da democracia, o novo marco constitucional, a
estabilidade econômica, a implantação dos programas para combater a pobreza. Em
tudo isso fomos bem-sucedidos. Estamos vivendo uma guerra nova, de tamanho e
perspectiva ainda não completamente conhecidas. Mas vamos vencê-la, assim como
vencemos tantas outras.
Brasília. Uma
civilização que nasceu de um sonho, da utopia, em breve vai se reencontrar, se
reinventar, para sonharmos de novo. Comemoraremos juntos, nas ruas,
muitos outros aniversários, sem medo de darmos as mãos e trocarmos beijos e
abraços. Por enquanto, encoste seu cotovelo no meu.
(*) Ibaneis Rocha
- Governador do Distrito Federal - Foto/Ilustração: Blog- Google
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