JK nos anos 60 de
Brasília
Ainda era
madrugada quando, trazido pelos primeiros raios de sol, chega a Brasília, como
por encanto, o presidente Juscelino Kubitschek. A cena é inesquecível.
Levitam com ele, como num cortejo angelical descidas de um céu que vai clareando aos poucos, figuras, conhecidas como Israel Pinheiro, Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Athos Bulcão, Ceschiatti, Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, Ernesto Silva, Iris Meinberg, Bernardo Sayão, Vera Brant, Ildeu de Oliveira, Afonso Heliodoro, Sarah, Márcia e alguns vultos que iam se materializando aos poucos, saídos da neblina da madrugada do 21 de abril de 2020.
A névoa da pandemia ia se dissipando com a passagem deles. Impossível descrever a energia daquele encontro inusitado e carregado de emoção dos construtores da nova capital do Brasil com a cidade do futuro que completava 60 anos. Extasiado com a beleza do Memorial erguido em sua homenagem, JK não quis entrar. Não porque as portas ainda estivessem fechadas, porque eles poderiam atravessá-la como um raio de luz. Mas era emoção demais para reviver ali tantas lembranças.
Sobrevoando a cidade, JK e seus amigos percebem as flores da cidade-parque, as cores do Lago Paranoá, elogiam a Ponte JK e se emocionam com a beleza da Esplanada, dos palácios que construíram. O Alvorada, o Palácio do Planalto, da Justiça, o Itamaraty, a Catedral são de tirar o fôlego. O fundador olha, distante, para a Torre Digital, que Oscar explicou ter sido seu último projeto, e depois, sem esforço, vê o Plano Piloto de cima, no formato de quem faz o sinal da cruz ou, como disse Lúcio Costa, o gesto de quem toma posse de um novo lugar. Na verdade, a cidade que ele ousou construir reinventou o conceito de cidade, revolucionou a arquitetura mundial e tomou posse do tempo e do espaço.
Os ilustres visitantes se dirigiram à Praça dos Três Poderes, e JK viu-se uma última vez no parlatório onde pronunciou o discurso da inauguração de Brasília, 60 anos atrás. Depois, foram até a Praça do Cruzeiro, onde tinham participado da primeira missa, e passaram de passagem pelo Catetinho, onde, nas noites do cerrado, tinham feito tantas serenatas e onde Vinícius e Tom Jobim compuseram juntos a “Sinfonia da alvorada”. JK, com sua voz inconfundível, falou alto os primeiros versos: “Antes, era o ermo, uma imensa solidão sem mágoas”.
E sem mágoas se lembrou da sua saudação imortal: “Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará no cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo, com uma fé inquebrantável e uma confiança sem limite, o seu grande destino”.
A cidade agora já estava acordada e duvidaram que existisse um metrô embaixo da Asa Sul, quando um comboio saiu do chão e foi rápido na direção de Águas Claras e Taguatinga, que eles contemplaram, orgulhosos.
Alguém deu a ideia de irem encontrar o Hely Valter Couto, que, aos 93 anos, abre todos os dias sua loja na W3, ou então ir até a casa do Carlos Murilo, primo de JK, para tomar o café da manhã, ou comer pão de queijo na casa do Osório Adriano, mas, como mineiro é cauteloso mesmo depois de morto, JK resolveu não desagradar a ninguém e disse que era hora de partir. Ele pensou na Maristela, nos netos e bisnetos, e sentiu que era hora de partir.
Levitaram outra vez, cada vez mais alto, e a cena agora era magnífica porque todos voavam pra cima e olhavam pra trás, tentando ver a cidade uma última vez, tentando percebê-la real, e sorriam para a história, tinham saudade do futuro, lembravam do passado impossível e, impassíveis, foram desaparecendo para a cidade que haviam construído e pela qual se tornaram imortais.
Neste aniversário sem festas, de doenças e dores, Brasília lembra ser a Capital da Esperança. Brasília comemora seu aniversário lembrando-se dos pioneiros, lembrando a saga dos mil dias de obras, dos desafios e das aventuras de uma utopia. Eles não sabiam que era impossível, e aí vieram e construíram a nova capital.
E as pessoas, energizadas pela visita inesperada e surreal, mágica, perceberam que, para serem dignos de viver em Brasília, era preciso ter, sempre, a mesma tenacidade e determinação, para vencer desafios daqueles que a construíram.
Por fim, finda a visita, as pessoas lembraram que JK fez de Brasília o símbolo de um novo Brasil, integrado, desenvolvido, democrático, capaz de vencer as adversidades, um Brasil cheio de esperança e de pessoas felizes.
Levitam com ele, como num cortejo angelical descidas de um céu que vai clareando aos poucos, figuras, conhecidas como Israel Pinheiro, Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Athos Bulcão, Ceschiatti, Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, Ernesto Silva, Iris Meinberg, Bernardo Sayão, Vera Brant, Ildeu de Oliveira, Afonso Heliodoro, Sarah, Márcia e alguns vultos que iam se materializando aos poucos, saídos da neblina da madrugada do 21 de abril de 2020.
A névoa da pandemia ia se dissipando com a passagem deles. Impossível descrever a energia daquele encontro inusitado e carregado de emoção dos construtores da nova capital do Brasil com a cidade do futuro que completava 60 anos. Extasiado com a beleza do Memorial erguido em sua homenagem, JK não quis entrar. Não porque as portas ainda estivessem fechadas, porque eles poderiam atravessá-la como um raio de luz. Mas era emoção demais para reviver ali tantas lembranças.
Sobrevoando a cidade, JK e seus amigos percebem as flores da cidade-parque, as cores do Lago Paranoá, elogiam a Ponte JK e se emocionam com a beleza da Esplanada, dos palácios que construíram. O Alvorada, o Palácio do Planalto, da Justiça, o Itamaraty, a Catedral são de tirar o fôlego. O fundador olha, distante, para a Torre Digital, que Oscar explicou ter sido seu último projeto, e depois, sem esforço, vê o Plano Piloto de cima, no formato de quem faz o sinal da cruz ou, como disse Lúcio Costa, o gesto de quem toma posse de um novo lugar. Na verdade, a cidade que ele ousou construir reinventou o conceito de cidade, revolucionou a arquitetura mundial e tomou posse do tempo e do espaço.
Os ilustres visitantes se dirigiram à Praça dos Três Poderes, e JK viu-se uma última vez no parlatório onde pronunciou o discurso da inauguração de Brasília, 60 anos atrás. Depois, foram até a Praça do Cruzeiro, onde tinham participado da primeira missa, e passaram de passagem pelo Catetinho, onde, nas noites do cerrado, tinham feito tantas serenatas e onde Vinícius e Tom Jobim compuseram juntos a “Sinfonia da alvorada”. JK, com sua voz inconfundível, falou alto os primeiros versos: “Antes, era o ermo, uma imensa solidão sem mágoas”.
E sem mágoas se lembrou da sua saudação imortal: “Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará no cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo, com uma fé inquebrantável e uma confiança sem limite, o seu grande destino”.
A cidade agora já estava acordada e duvidaram que existisse um metrô embaixo da Asa Sul, quando um comboio saiu do chão e foi rápido na direção de Águas Claras e Taguatinga, que eles contemplaram, orgulhosos.
Alguém deu a ideia de irem encontrar o Hely Valter Couto, que, aos 93 anos, abre todos os dias sua loja na W3, ou então ir até a casa do Carlos Murilo, primo de JK, para tomar o café da manhã, ou comer pão de queijo na casa do Osório Adriano, mas, como mineiro é cauteloso mesmo depois de morto, JK resolveu não desagradar a ninguém e disse que era hora de partir. Ele pensou na Maristela, nos netos e bisnetos, e sentiu que era hora de partir.
Levitaram outra vez, cada vez mais alto, e a cena agora era magnífica porque todos voavam pra cima e olhavam pra trás, tentando ver a cidade uma última vez, tentando percebê-la real, e sorriam para a história, tinham saudade do futuro, lembravam do passado impossível e, impassíveis, foram desaparecendo para a cidade que haviam construído e pela qual se tornaram imortais.
Neste aniversário sem festas, de doenças e dores, Brasília lembra ser a Capital da Esperança. Brasília comemora seu aniversário lembrando-se dos pioneiros, lembrando a saga dos mil dias de obras, dos desafios e das aventuras de uma utopia. Eles não sabiam que era impossível, e aí vieram e construíram a nova capital.
E as pessoas, energizadas pela visita inesperada e surreal, mágica, perceberam que, para serem dignos de viver em Brasília, era preciso ter, sempre, a mesma tenacidade e determinação, para vencer desafios daqueles que a construíram.
Por fim, finda a visita, as pessoas lembraram que JK fez de Brasília o símbolo de um novo Brasil, integrado, desenvolvido, democrático, capaz de vencer as adversidades, um Brasil cheio de esperança e de pessoas felizes.
José Roberto
Arruda - Ex-governador do Distrito Federal – Foto: Arquivo Público do
Distrito Federal – Ilustração: Blog-Google
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BRASÍLIA 60 ANOS