Orquestra
Sinfônica homenageia profissionais da saúde. “Oboé de Gabriel”, trilha de
Morricone para filme “A Missão”, lembra trabalho de quem atua na linha de
frente contra o coronavírus
Há muitos tons de verde no vídeo que a Orquestra
Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro produziu para homenagear nesta
Sexta-Feira da Paixão (10) todos os profissionais da saúde em sua luta contra o
coronavírus (Covid-19). O maestro Cláudio Cohen e a maioria dos 65 músicos que
aparecem na gravação trocaram os trajes de gala por peças simples na cor que
remete à saúde e esperança no dia que a fé cristã celebra a compaixão.
“Estipulamos um figurino verde, numa homenagem que
segue a linha de ação do GDF ao iluminar os monumentos com essa cor”, explica o
regente, que volta a aparecer também ao violino, seu instrumento.
A música escolhida foi “Oboé de Gabriel”, trilha
que Ennio Morricone compôs para o filme de Roland Joffé “A missão” (Mission,
1986). A opção pela trilha do longa, que encena a luta de padres jesuítas
contra os colonizadores portugueses para salvar vidas indígenas nas missões
(aldeamentos) do século XVIII, na América do Sul, pretendeu também se cobrir de
simbolismo.
“Entendemos ser muito árdua essa outra missão, a
dos profissionais da saúde, na luta pela vida, num momento em que situação
tende a se agravar”, afirma Cohen. Ele lembra que “Morricone é um mestre da
arte musical no século XX, responsável pelas mais famosas trilhas sonoras do
cinema, sobretudo em melodias que ressaltam as emoções dos personagens”.
O trompista da Sinfônica Ellyas Lucas Souza e Veiga
voltou a dividir os ensaios no sopro com o trabalho de tratar digitalmente sons
e imagens e editar o vídeo de 3:26 para as redes sociais, para onde a sinfônica
migrou, durante o fechamento do Cine Brasília, com a missão de ajudar a dar
conforto às pessoas em quarentena forçada.
O músico gastou 25 horas renderizando os arquivos.
“Tive até de aumentar a memória do meu computador para dar conta do material”,
relata. Ele juntou virtualmente os colegas, cada um executando sua parte de
casa. “Fiquei muito feliz com o resultado. Oboé de Gabriel é um tema muito
belo, e ficou muito tocante ouvir a orquestra quase inteira se apresentando
desse jeito”, diz.
O “editor”, como é visto pelos colegas da
Sinfônica, desta vez aproveitou para inserir imagens da capital da República,
que surge solene em seus 60 anos próximos de se completar, com horizontes em
tons de alvorada, tomadas do Mastro e Pavilhão Nacional na Praça dos Três
Poderes e planos fechados de profissionais da saúde no final da peça, quando a
música cede lugar ao silêncio, antes do texto de agradecimento a eles.
O oboísta José Medeiro Rocha Neto, que faz o solo
da peça de Morricone, ressalta na melodia “o tema lindo, na fronteira entre a
tristeza e a paz”. Sobre o oboé, destaca o timbre do instrumento, “que vai
fundo, conseguindo mobilizar a emoção das pessoas”. (Vídeo)
Ele acredita que a música reflete bem o momento que
o mundo atravessa diante da ameaça da pandemia. Afirma que, como no filme, em
que Gabriel (o padre interpretado pelo ator inglês Jeremy Irons) surge tocando
seu instrumento, isolado na mata, junto a um riacho, “estamos todos nos
sentindo sozinhos, mas ao mesmo tempo conectados, uns ajudando os outros. É
essa a mensagem que queremos que o vídeo deixe”.
* Com informações da Secretaria de Cultura
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