Os mais atingidos
Em termos de capital, a quarentena preocupa, sobretudo, o setor produtivo. Francisco Maia, presidente da Federação de Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF) defende a reabertura, ainda que gradativa, do comércio antes do prazo dado, a partir de 3 de maio. “Ao menos 15% dos restaurantes do DF não irão funcionar mais”, lamenta. “E a gente tem que se organizar para orientar. Reabrir o comércio não significa que as pessoas vão correr para as lojas, porque ainda fica o temor de ir à rua.”
Segundo
levantamento da instituição, a área de turismo deve ser a mais afetada, com
potencial de reduzir 295 mil empregos em apenas três meses. “É uma devastação
total, porque existe uma cadeia. Ela começa nos eventos que trazem milhares de
pessoas para as cidades. Ali, há muito freelancer trabalhando, e então o
desemprego cresce”, ressalta. Com o Congresso Nacional operando em home office,
ocupações em hotéis também reduzem, além do cancelamento de voos, que deixam de
trazer turistas para a capital.
Dono de uma
empresa que produz eventos, o empresário Frederico Barros, 37 anos, sentiu o
baque. Com 10 trabalhos já marcados, e que precisaram ser cancelados, ele
calcula prejuízo de R$ 300 mil. Contratações temporárias, como de
recepcionistas, organizadores e produtores, também foram suspensas. “Conosco,
ao menos 60 pessoas deixaram de trabalhar por dia. Ao todo, foram pelo menos
200 pessoas”, calcula.
Ele está
conseguindo manter os contratados formais, assim como estagiários, por meio do
corte de despesas. “Existe uma linha de crédito do BNDES, junto ao governo
federal, para pagar o salário dos funcionários”, destaca. Além disso, aposta,
na criação de um aplicativo para eventos on-line, com shows de artistas a
preços populares, o que irá gerar renda para produtores, músicos e causas
sociais.
Três perguntas para César Bergo, presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-DF)
Três perguntas para César Bergo, presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-DF)
Já é possível saber se houve
aumento do desemprego no DF,em decorrência da crise do coronavírus? Do
ponto de vista de emprego físico não tem como ver, até pela dinâmica de apuração
desses dados. Alguns setores estão prejudicados e outros demandam mão de obra
em função da crise: saúde, limpeza e manutenção predial. Que a crise vai
atingir sobretudo o emprego informal e autônomo, não há dúvidas. Alguns setores
foram atingidos de frente: área de hotelaria e restaurante. Mas, supermercado
aumentou (a demanda), porque as pessoas cozinham mais em casa. A crise é
alegria de alguns e tristeza para outros, na questão de economia. Brasília é
uma cidade muito dependente do serviço público, e esse não vai demitir. Se a
gente tratar do mercado local, há grande manutenção no emprego federal e no do
GDF. Isso já é um alento, em comparação a outras capitais.
Sabemos que o
isolamento social é importante, mas queele gera impactos na economia. Como podemos
diminuir os prejuízos? Já existia uma
mudança no trabalho, o vírus só antecipou a coisa. As pessoas estão arrumando
formas novas de trabalho. Brasília é cidade de alto risco, então o isolamento é
fundamental, e as pessoas vão acabar revendo a forma de trabalho. Do ponto de
vista de mobilidade urbana, é algo positivo. Mas por outro lado, nem todo mundo
tem essa oportunidade. Algumas funções estão sendo criadas em termo de
atividades e prestação de serviço. Brasília tem espaço para a criatividade e
para as pessoas se reinventarem. Vai ter para todo mundo? Não. Temos problemas,
mas acho que, em termos de emprego, a gente vai ter uma queda absurda;
estimamos algo em torno de 20% a 30% de desemprego acima da taxa que estava
anteriormente.
O que é possível
fazer para contornar asituação e evitar aumento nos índices de
desemprego? O Estado tem que ser indutor do desenvolvimento,
então, nesse primeiro momento, ele terá um papel fundamental no estímulo ao
emprego. É necessário apoio aos empresários. O BRB tem disponibilizado crédito
às micro e pequenas empresa, que são as maiores empregadoras do país, mas
existe muita burocracia. Os paradigmas têm que ser quebrados.
Olhando o lado
dos trabalhadores, tem que haver proteção para eles. O que a gente tem visto é
empresário com discurso de demissão, e isso gera intranquilidade. Muitas
pessoas não têm a cobertura da seguridade social. Não tem como buscar
hospital.
Por último,
tem de haver diálogo entre os poderes Executivo e Legislativo. Que esqueçam essa
guerra ideológica para cuidar do povo, pensando unicamente em salvar o máximo
possível das pessoas, ao invés de disputar no palitinho quem vai ganhar alguma
coisa.
A dor vai ser
grande. O pior não passou ainda, está por vir. Você tem que adotar medidas que
protejam o empregado. A gente não tem essa segurança porque tudo é novo. Nesse
momento, a economia tem que mostrar os instrumentos, porque os valores são
humanos. O investimento tem que, sobretudo, recuperar o turismo, o transporte e
as empresas de evento.
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