Paixão de
Cristo alimenta a fé. Tradicional celebração religiosa ganhou formato diferente
neste ano. Com transmissão on-line, cristãos acompanharam o rito pascal em
casa. Em alguns lugares, a adoração à Santa Cruz foi feita na porta dos fiéis.
Morro da Capelinha foi monitorado por forças de segurança
*Por Cibele Moreira - Matheus Ferrari
Em isolamento
social, fiéis acompanham as celebrações da Semana Santa dentro de casa. Desde o
último domingo, o rito pascal tem ganhado um novo formato com a transmissão
on-line das missas e adaptações das atividades religiosas para evitar a
aglomeração de fiéis. Na Sexta-feira Santa, momento em que é recordado a morte
de Cristo, a tradicional encenação da Via-Sacra deu lugar a uma celebração
solene da Paixão de Cristo. Centenas de cristãos acompanharam pela internet a
liturgia da Palavra e a leitura da Oração Universal.
A transmissão
ao vivo ocorreu nas redes sociais de diversas igrejas do Distrito Federal, pelo
YouTube e no site da Rádio Nova Aliança. A celebração teve início às 15h. Na
Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, no centro de Brasília, a cerimônia
foi transmitida diretamente do altar da igreja. No momento em que seria
realizada a procissão, os padres celebraram o rito de adoração à Santa Cruz com
a leitura da Via-Sacra. No Santuário São João Bosco, na 702 da Asa Sul, a
trajetória de Cristo nos momentos finais foi narrada de forma cantada. Fotos
dos fiéis foram colocadas nos bancos da igreja, como uma maneira de acolhê-los.
Durante a
Oração Universal, foi feita uma prece pelas pessoas que padecem com a pandemia
da Covid-19. “Oremos ao Deus da vida, salvação do seu povo, para que sejam
consolados os que sofrem com a doença e a morte, provocadas pela pandemia do
novo coronavírus; fortalecidos os que heroicamente têm cuidado dos enfermos; e
inspirados os que se dedicam à pesquisa de uma vacina eficaz”, disse o
celebrante em texto proposto pela arquidiocese de Brasília.
Pela primeira vez em 47 anos,
Morro da Capelinha não recebeu público. Após a celebração, os frades do
Santuário São Francisco de Assis saíram em procissão com a Santa Cruz, para que
os fiéis pudessem fazer a adoração na porta ou pela janela de casa. Eles
percorreram todas as quadras da Asa Norte, rezando a crucificação de Cristo. Os
frades utilizaram um carro de som para levar a mensagem aos fiéis. Hoje pela
manhã, o santuário fará uma transmissão sobre a ressurreição, ao vivo, às 10h,
pelo perfil no Instagram da paróquia. A Vigília Pascal será exibida pela página
do Facebook.
Outras
paróquias transmitiram as celebrações, ao vivo, pelas redes sociais. Foi o caso
da Divino Espírito Santo, em Planaltina. Devoto, o professor Jeferson Queiroz,
28, acompanhou o rito. Entretanto, apesar de aprovar as transmissões, ele
acredita que a iniciativa ainda não atinge a todo o público que frequenta as
cerimônias presenciais. “Eu acompanhei. Acho essas atitudes bacanas. Mas sou um
caso de pessoa que tem acesso à internet. Boa parte das pessoas não terão esse
canal ou afinidade com as redes. São boas atitudes, mas que não conseguem
atingir a todos”, pontuou. Mesmo saudoso, ele reconhece que a tecnologia tem
sido um alento no momento. “É diferente, mas é alguma coisa”, disse.
Vazio: O Morro da Capelinha, em Planaltina, teve o vazio como cenário, ontem,
na Sexta-feira da Paixão. A tradicional encenação da vida, crucificação e
ressurreição de Jesus Cristo, que chega a levar cerca de 150 mil pessoas ao
local ao longo do dia, não ocorreu e fiéis não puderam assistir ao evento, como
de costume, em virtude do isolamento social imposto pela pandemia global do
coronavírus.
A encenação da
Via-Sacra foi cancelada ainda em março e, durante toda a sexta-feira, forças de
segurança estiveram na região do Morro da Capelinha, para evitar aglomeração de
fiéis, como orientam os órgãos oficiais de saúde. Policiais e Bombeiros
Militares estiveram a postos para orientar fiéis que fossem ao local. O
Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) também atuou e impediu
o acesso de veículos, com rondas preventivas, nas proximidades. De acordo com a
Secretaria de Segurança Pública, não houve registro de ocorrências.
Morador de
Planaltina, Jeferson Queiroz costuma ir ao Morro da Capelinha todos os anos
para rezar e participar de missas na comunidade. Segundo ele, o dia foi marcado
pela ausência. “É como se houvesse um vazio. Mas a gente vai se adaptando com
aquilo que tem de possibilidade”, disse o professor, que fez em casa as orações
que costumava fazer no morro.
É a primeira
vez, em 47 anos, que a Via-Sacra de Planaltina não ocorre. Não há previsão para
uma possível encenação após a pandemia. Para Gilliard da Silva Holanda, 38
anos, diretor e ator do grupo Via-Sacra Ao Vivo, que realiza o tradicional
evento, o momento é uma mistura de luto e celebração à vida. “Estive no morro
pela manhã. Encontrar o local fechado, com cones e fitas amarelas, em um
horário em que teriam de 20 a 30 mil pessoas, chega a ser desesperador. Por
meio do nosso teatro, fazemos a evangelização. É algo que nunca imaginamos
passar. Até o último momento, acreditávamos em um milagre. Foi muito
frustrante, porque passamos o ano inteiro trabalhando e, por uma força maior,
não pudemos realizar. Mas entendemos que devemos ser obedientes. Compreendemos
a necessidade do momento. A gente tem que enfatizar a vida”, disse.
Para
romper as barreiras impostas Na Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, a
cerimônia foi transmitida diretamente do altar. pela pandemia, o grupo vem utilizando as redes
sociais para se comunicar com os fiéis e disponibilizar conteúdos. Ontem, por
exemplo, publicaram, na íntegra, o DVD da encenação, gravado em 2018. “É uma
forma de matarmos a saudade e evangelizar. Como temos um acervo, vamos subir
para o nosso canal no YouTube. É uma forma de amenizar e continuar o nosso
trabalho. De maneira virtual, mas é o que, no momento, é possível ser feito”,
pontuou.
"Acreditávamos
em um milagre. Foi muito frustrante. Mas compreendemos a necessidade do
momento. A gente tem que enfatizar a vida” (Gilliard da Silva Holanda, diretor do grupo Via-Sacra Ao Vivo)
(*) Cibele Moreira - Matheus Ferrari
- Fotos: Ed Alves/CB/D.A.Press - Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press - Correio
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