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A DOR DO PARTO DA DEMOCRACIA (Coluna Victor Dornas)



Num estado de direito, onde as instituições devem agir de maneira equilibrada, o papel do Supremo, a alta corte formada em maioria por advogados e não juízes, não pode suplantar as atribuições da polícia federal de modo que um ministro, monocraticamente, promova diligências ostensivas contra pessoas inocentes. Pergunta-se: A alta corte deve se meter tanto com matéria penal? A quem mais interessa o "garantismo" penal? 

Por Victor Dornas

Tem se visto por aí pessoas que contribuíram com a manutenção de governos passados marcados por prisões de incontáveis autoridades, crises fiscais sem precedentes, se dizendo assustadas com aquilo que se vê hoje em dia no Brasil, como se elas próprias não tivessem nada a ver com o caos que hoje se instaura.

Parece, na perspectiva dessas pessoas, que antes de Bolsonaro o Brasil era tipo uma Suíça. A grande diferença percebida hoje em dia é que, pela primeira vez na história da suposta redemocratização, as pessoas sabem o nome dos ministros de estado, embora o intento de boa parte da mídia que os polemiza não seja exatamente dar ciência de fatos e sim modulá-los a seu gosto.

Bolsonaro resolveu politizar as forças armadas, ou melhor, as forças armadas  se deixaram politizar e com isso cultivou-se no senso comum o receio justificável de um novo estado de exceção. Com isso, instituições como o Supremo e o Congresso, que sempre auferiram de péssimos índices de popularidades pela dissonância em relação ao povo que não representam, aproveitaram para tentar imprimir a ideia de que funcionam muito bem. Que a demonização da política era tudo um pretexto para promover o autoritarismo, falando-se em facho, em Hitler e tudo mais. Que o Supremo deve mesmo se meter em toda matéria penal com grande repercussão política, utilizando, nas palavras do ministro Fux, um "poder educador" para tentar legislar sobre causas identitárias e, com isso, melhorar a imagem da corte que, em verdade, tem como escopo ir muito além disso.
   
Agora quando o Supremo, o tribunal dos advogados, resolve promover busca e apreensão na casa de 29 pessoas inocentes, parte da imprensa adota dois tipos de discurso, sendo que ambos são totalmente irresponsáveis. 

O primeiro é que “essa gente” teria mais é que se lascar mesmo. Esses “bolsonaristas”. Uma ditadura não se faz da noite para o dia, frisa-se. E normalmente tudo começa quando o estado abusa de suas atribuições para atacar um grupo polarizado. O grupo rival acha lindo, por óbvio, pois não atenta que ele próprio será o próximo vitimado do autoritarismo.

Se há um esquema investigado de contratação de serviços para impulsionar mensagens falsas na rede, deve haver um indício probatório coerente com o vexame de expor pessoas ao constrangimento da mão pesada do estado em sua acepção máxima, isto é, invadindo casas.

A segunda argumentação seria de que os “fins não justificam os meios”, isto é, jornalistas famosos dizendo que por mais que essas pessoas sejam, na visão deles, abjetas, a diligência chefiada por Alexandre de Moraes seria autoritária. Aos incautos, soa como algo equilibrado, porém reveste outras coisas terríveis como monopólio de informação, reserva de mercado e desrespeito elitista com colegas menores. 

Ontem quando a PF deixou a casa do jornalista Allan dos Santos, uma colega da CNN estava priorizando a questão de o mesmo estar residindo no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, já que isso poderia estar sendo custeado de forma não idônea ou criminosa. Não há mais limites para as ilções midiátias militantes de ocasião. Tudo "pode ser" e a prova que se dane. Ela sequer atentou ao fato de que o colega, gostando-se ou não de suas opiniões, tinha sua vida íntima devassada com um inquérito esvaziado em indícios probatórios, isto é, sordidamente politizado.

Allan dos Santos teve sua vida exposta em plenário no ano passado, apresentou as contas da empresa quando sequer precisava. E agora a narrativa é que não seria Alexandre de Moraes o autoritário da história e sim Olavo de Carvalho, por supostamente ter dito que tem as forças armadas nas mãos. Perceba, caro leitor, que ainda que o governo tenha uma acepção autoritária, que ele politize forças armadas que deveriam ser neutras em qualquer questão dessa natureza, há um grupo que dispõe do aparelhamento midiático para promover algo pior.

Revisitando a histórica violenta da política brasileira, nunca se vê a insurgência de um polo autoritário isolado. São sempre dois grupos antagônicos que disputam os meios do autoritarismo. Em 64 havia os militares já dispostos a tomar o poder e, de outro lado, a insurgência de inúmeros grupos com mentalidade de revolução armada. Os militares nós já sabemos do fim da história, uma vez que são escrutinados diariamente pela mídia. Cometem seus excessos políticos, mas são regidos, publicizados e, em grande maioria, pessoas de bem.

Pergunto: O que aconteceu com o outro grupo? Os guerrilheiros? A esquerda brasileira que de esquerda não tem nada. A amostra do que foi feito deles se viu ontem, na patada pesada autoritária com respaldo midiático conivente. A esquerda brasileira se aliou com forças paramilitares internacionais que tem boa parte de seus proventos custeados por vendas de armas e drogas. Eles investiram na formação profissional em praticamente todos os setores que controlam os meios do poder. 

Diferentemente dos militares, sua atuação é escamoteada. A pessoa que, diante de tudo isso, acredita que desde a queda do governo de exceção militar nós garantimos uma democracia, vive no mundo da lua. Na ignorância política. 

Os militares devem ser criticados quando se excedem na politização, contudo, na visão deste articulista, o mal estar que sentimos agora, essa dor de parto de uma democracia que nunca tivemos, só terá continuidade se atentarmos ao problema do idealismo revolucionário impregnado em todas as esferas culturais e governamentais do Brasil que tentam justificar o autoritarismo.

Preocupa bastante ver jornalistas despreocupados com o ocorrido de ontem. A liberdade de expressão só pode ser tolhida com provas. Onde estão essas provas?






(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas , fotos ilustração: Blog-Google 

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