test banner

A LAMBANÇA HISTÓRICA DO STF (Coluna Victor Dornas)



O famigerado vídeo divulgado por Celso de Mello mostra muitas coisas.  Dentre elas, o fato de que, gostando-se ou não, Jair Bolsonaro é o mesmo, diante ou fora das câmeras. Além disso, mostra que Sérgio Moro é volátil pois ninguém dinamita e elogia um governo ao mesmo tempo. Um escândalo jurídico institucional julgado por "não juízes" de toda sorte.

Por Victor Dornas

O jornalismo opinativo tem como principal requisito a isenção, do contrário deixa de ser opinativo e torna-se militância camuflada. Porém, ainda no jornalismo opinativo é bastante complicado lidar com a mudança brusca de opinião pois frustra-se a tentativa de buscar uma credibilidade na fruição e interpretação dos fatos. Ainda assim é necessário ao articulista não temer a admissão de erro pois a outra alternativa é muito pior, isto é, torna-se militante.

Não é uma questão de vaidade e sim de crescimento pessoal. Nesse sentido, caro leitor, este singelo articulista registra de pronto uma mudança de opinião a respeito do governo diante do desfecho da novela iniciada com a detonação de Sérgio Moro, aquele que foi clemente com o caixa dois de Lorenzoni. As razões são fáticas, portanto, fáceis de serem explanadas.

Engana-se quem pensa que o Supremo é um órgão de magistrados. Temos Fux como juiz de piso e Rosa Weber como juíza do trabalho. O restante, embora advenham de carreiras jurídicas, são todos advogados. Talvez por isso Celso de Mello transformou a novela de Sérgio Moro num tribunal de Júri midiático, usando a mídia televisiva para tanto.

Ficou lá a semana inteira criando expectativa sobre algo que corroboraria com as acusações de Moro e ensejariam uma deposição em virtude de crime, tentando moldar o público segundo suas convicções pessoais, isto é, advogando. O vídeo, entretanto, ao contrário do que se imaginava, apresenta uma sala com mais de quarenta pessoas, todas as autoridades ministeriais mais relevantes, com funcionários passando pra lá e pra cá. Ou seja, se Bolsonaro quisesse montar uma arapuca pra dominar a PF, aquele não seria nem de longe o local adequado. Vemos um Bolsonaro dizendo as mesmas coisas de sempre, suas bravatas de praxe, com mais palavrões, porém com uma respeitável autenticidade. Crime? Nenhum.

A lei confere ao presidente o dever de nomear o diretor da PF. Se era uma promessa de campanha que tal incumbência seria delegada a Moro e, por razões desconhecidas, Bolsonaro quis arrogar para si essa prerrogativa, trata-se, quando muito, de um erro eleitoral. Isto é, aquele eleitor desgostoso pode mudar seu voto numa eventual tentativa de reeleição. Agora dizer que isso é, per se, um crime, não dá. Pura ilação. Moro, que elogiou o governo na reunião, não tem provas de que a indicação de alguém de confiança teria o escopo de crime.

A maior parte dos formadores de opinião na mídia são piores do que os ministros do Supremo, pois além de também não serem juízes, não possuem sequer formação jurídica para atentar ao óbvio.  Além disso, por não serem independentes, isto é, comprometem-se com linhas editoriais, dificilmente mudarão a argumentação ou reconhecerão que o episódio de ontem foi uma arapuca sim, porém não do presidente em relação à PF e sim do Supremo que resolveu expor um chefe de estado (não tendo feito isso com seus predecessores, inclusive aqueles depostos ou presos) para fazer política.  

Não há na mídia muitas pessoas com formação ou comprometimento para afastarem suas paixões num momento como este e reconhecer que a crise institucional, ao contrário do que se imaginava, não tem como protagonista o presidente da república. Bolsonaro xinga na reunião. Que feio! Diriam jornalistas impolutos.  Porém a quem ele se referia? 

Ao governador do Rio que demite com antecedência gente agora presa por crime cometido na maior pandemia de gerações. Ou seja, ele sabia. Está implicado em investigações num estado onde todos os governadores são presos. Ao governador de São Paulo? 


O parasita que contrata empresa condenada pra prestar auxílio de materiais de combate a covid. Weintraub, falastrão, registra seus palavrões sobre alguém do Supremo, mas não ataca o Supremo em si com a imprensa divulgou. Possivelmente se refere a um certo "não juiz" que soltou a maioria dos condenados do alto escalão político. Não importa se usou palavrões pois tratava-se de reunião fechada.

O governo federal erra feio porquanto se aproxima do centrão e loteia cargos importantes para obter sustentação política e por isso não me contive em minhas críticas. Assim como errou em inúmeros outros casos. Ocorre que muitas vezes ao nos focarmos num erro específico, deixamos de observar todo o processo que culminou naquilo, isto é, no próprio parlamento que exige tantos favores indecorosos, por exemplo.

A reunião deste 22 de maio, na visão deste articulista, foi o maior vexame institucional e jurídico ocorrido no Brasil nos últimos anos. Um ato de coordenação de autoridades e jornalistas para derrubar um presidente que não é sequer réu de qualquer investigação criminosa e o vídeo em questão não muda absolutamente nada neste teor. Bolsonaro, entretanto, será julgado por não juízes em forma de jornalistas, advogados, militantes e ministros do Supremo.

A Associação dos Magistrados do Brasil, que nunca achou ruim prestar deferência ao Supremo composto por "não juízes", certamente não terá nada a dizer sobre isso. Nenhum pio. A despeito das reiteradas críticas que faço ao governo, não tenho o direito de omitir a pávida sensação que me tomou conta ao ver um Estado inteiro mobilizado para derrubar um governo que não amarga escândalo de corrupção diante do desfecho da bomba de festim de Sério Moro. 

Minha surpresa ao notar que não é Bolsonaro quem está incendiando a guerra institucional que majora os efeitos nocivos da pandemia. Um dia após a tentativa de reintegração do presidente com os governadores o Supremo inflama tudo de novo divulgando um vídeo sem qualquer teor criminoso que gerará mais indisposição e atrasará as medidas necessárias para contermos os efeitos nocivos da pandemia. "Não juízes" decidiram na tarde de ontem o destino do Brasil.




Victor Dornas. Colunista do Blog do Chiquinho Dornas; Fotografia: Google

1 Comentários

Postagem Anterior Próxima Postagem