A visão do migrante
Cartas de Brasília, de Larissa
Leite: perspectiva de maranhenses sobre a capital
Muitos foram os
migrantes que deixaram a terra natal e vieram construir Brasília. Inaugurada há
seis décadas, a cidade monumento era o sonho daqueles que buscavam melhores condições
de vida. Além de novidade, Brasília trazia consigo esperança e sonhos. Assim,
oito anos após a inauguração da capital, Eliésio Alcântara Lima saiu de
Canafístula dos Moraes, em Presidente Dutra, a 350 quilômetros de São Luís, e
veio ao Distrito Federal em busca de oportunidades.
Ele foi o pioneiro
de 12 irmãos da família Alcântara. Ao longo de 20 anos, desde a vinda de
Eliésio, eles deixaram o Maranhão para viver o sonho de JK. Um puxando e
apoiando o outro, assim, vieram e permanecem todos em Brasília até hoje. A
história dos Alcântaras deu vida ao documentário de estreia de Larissa
Leite, Cartas de Brasília.
“A ideia surgiu
quando meu pai (Eliézer Alcântara Lima) abriu uma mala baú e me mostrou.
Naquele momento, eu tive acesso a diversos objetos que registravam a vinda da
minha família paterna do Maranhão para Brasília. E entre esses registros,
estavam dezenas de cartas que os 12 irmãos da família trocaram entre si e com
os pais, familiares e amigos. Além de trechos de cartas, também utilizamos
fotos de arquivo e imagens atuais dos 12 irmãos, que continuam em Brasília.
Então, o documentário surge a partir da vontade de pegar objetos que estavam no
baú e questionar que história poderiam contar, que novo sentido poderiam nos
oferecer”.
“Esses 12 irmãos
não são personalidades ilustres, eles vieram para a nova capital sem muitas
referências e conseguiram construir uma trajetória digna. Ao decidir enfrentar
o desconhecido por melhores condições de vida, também deram à cidade uma
geração de filhos, que já lhes dão netos, que fazem de Brasília uma cidade
viva, que se reinventa. Faço parte da primeira geração de pessoas dessa família
que nasceram aqui e sou grata por terem escolhido Brasília, uma capital que
extrapola o aspecto político. Novos olhares oferecem novas perspectivas sobre
um lugar”, completa a diretora.
Larissa apostou no
gênero documental. A diretora é filha de Eliézer Alcântara Lima, que tem a
trajetória destacada na trama e por meio das memórias dele que o enredo é
contado. “Eu tinha uma história, vontade de contar, e achei que deveria ser
contada em um filme, que seria mais interessante na tela do que em um livro,
por exemplo. A história da minha família, a que eu escolhi contar, se passa em
Brasília, uma cidade que é tão visual, monumental, certo? Imaginei os
personagens, que no caso são meu pai e meus tios, caminhando pela cidade,
percorrendo lugares que eles estiveram no passado, revisitando a própria
história a partir de um olhar do presente para o passado. E ainda que eu nunca
tivesse tido na mão uma narração voltada para o cinema, com uma grande
estrutura e equipe ao meu lado, achei que seria viável, possível, relevante,
até. E assim foi feito”. A produção estreia no segundo semestre deste ano.
Por Geovana Melo* ~ *Estagiária sob supervisão de Igor Silveira – Foto: Bau
Comunicação – Divulgação – Correio Braziliense
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BRASÍLIA 60 ANOS