Comemorando 30 anos de uma das maiores barbaridades
econômicas promovidas por um chefe de estado na história da democracia,
Fernando Collor admite: “Eu errei.” E agora o Brasil novamente se mobiliza nas
redes sociais para discutir o suposto golpe de estado sofrido por Dilma Rousseff,
aquela que diria: “Orçamento Fiscal acima de tudo, minha reeleição acima de
todos.” Um país sem memória está fadado ao ciclo do caos.
Por Victor Dornas
Com o disparate rotineiro de Jair Bolsonaro tentando normalizar a
insanidade, antigas criaturas do esgoto do Estado caquético brasileiro
resolveram se reerguer. Tivemos aí a participação nos noticiários de Bob Jeff, o
delator camarada e agora também surgem Fernando Collor e Dilma Rousseff, dois ex-presidentes depostos por
desprezarem a lei.
Se engana quem pensa que Collor caiu por conta do Fiat Elba. A
Elba foi o atalho, uma vez que ele cairia de qualquer modo. Se engana também quem ainda sustenta que Dilma foi deposta injustamente por fazer aquilo que todos seus predecessores fazem (o eterno ciclo de justificativas descabidas), uma vez que seus
decretos pseudo-draconianos que tratoraram a legislação fiscal anual se deram cronometricamente
para fins eleitoreiros.
Não entendemos ainda, como nação, o valor da conquista da LOA.
Num país marcado pelo caudilhismo histórico, mesmo quando o
escândalo é protagonizado por personas que não tinham ligação militar, o autoritarismo é marca sempre presente. Collor nasceu sem dispor daquilo que
chamamos de capacidade de sentir culpa. Dilma, a ex-guerrilheira, até sente alguma culpa, contudo não desenvolveu cognição para expressar aquilo que sente, o quê não é menos perigoso do ponto de vista psicossomático.
Mas o caso de Dilma é bastante interessante pois ele deflagra
o que há de pior em nosso sistema presidencialista.
Explico: Achamos normal o julgamento
de deposição ser meramente político, isto é, em ambos os casos, não houve a
repercussão jurídica devida. Em ambos os casos, tanto Dilma e Collor tiveram
resposta antagônica do governo que interpreta a lei. Achamos que é possível
explicar ao alienígena como depomos nosso líder para algum tempo depois
dizermos que ele não tinha culpa de nada, através da palavra do judiciário sem
que, com isso, declaremos que foi uma injustiça. E de fato não foi!
Esse descalabro democrático resulta de uma guerra institucional
eternizada. As instituições brasileiras, na figura suprema de seus três poderes,
são surdas. Não conversam entre si há tanto tempo que aquilo que seria considerado
uma ruptura capaz de inutilizar um sistema de estado democrático agora soa
como sendo a normalidade. É a capacidade humana de se adaptar diante de muita
coisa. Se o barulho é constante, o ouvido passa a adequá-lo e até, por fim,
ignorar a dor. Assim, percebe-se que de fato somos um povo capaz de suportar tudo
que há de indecoroso na política e, por isso, diante de uma crise histórica em
que um presidente, novamente autoritário, resolve exercer juízo ditatorial em
detrimento das demais instituições, achamos razoável escutar o que seus
predecessores e corresponsáveis tem a dizer sobre qualquer coisa.
Collor coleciona
carros importados. Dilma vive como uma rainha. E no baixo das camadas sociais,
aqueles que respondem de fato à realidade da má gestão de resolvem se
digladiar em nome destes políticos numa patologia social, uma sanha revisionista sem fim. Devemos olhar para frente. O PT causou um rombo que ainda perpassa
efeitos oriundos de desvios no importe de 200 bilhões de reais no sistema único
de saúde por meio de manobras espúrias de cunho orçamentário.
Defender o
indefensável, mormente num momento como este, significa não apenas dar munição
ao adversário, mas também garantir que as eleições de 2022 sejam ainda mais
sujas do que as passadas.
Devemos ouvir mais os técnicos e menos os bravateiros. Principalmente aqueles que já foram devolvidos ao esgoto
moral de onde saíram.
Victor Dornas - Colunista do Blog do Chiquinho Dornas- Fotografia: Google
Victor Dornas - Colunista do Blog do Chiquinho Dornas- Fotografia: Google