Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+
*Por Fábio Felix - Deputado distrital do Psol
Dia 28 de junho é uma data especial
para nossa história. Muitos nem sequer sabem, mas foi em Nova York, em 1969 com
a Revolta de Stonewall, que parte dos direitos que conquistamos e usufruímos
hoje começa a ser construída. Naquele ano, centenas de LGBTQIA+ se rebelaram no
bar que nomeia a revolta contra a violência policial, contra as proibições do
Estado e contra o cercamento moral da sociedade. O levante mostrou que os
institucionalmente sem direitos, que tinham a afetividade e identidades
criminalizadas, existiam, resistiam e estavam fartos de tanta violência e da
criminalização dos afetos e diversidade.
Desde então, milhares de homens e
mulheres, mundo afora, foram empoderados em suas lutas; uma revolta no centro
do capitalismo global serviu como estopim para que movimentos LGBTQIA de
diversos países passassem a gritar mais alto, até serem respeitados e ouvidos
de verdade. Se estivéssemos em tempos normais, neste período cidades estariam
com ruas ocupadas por milhares de LGBTQIA lutando por direitos e vivendo os
afetos livremente. Mas estamos em meio a uma pandemia, e aglomerações não são
permitidas. Infelizmente, entretanto, não é só a covid-19 que tem assombrado
quem diverge da hétero e cisnormatividade.
Quem diria que, após termos vivido
avanços significativos em nossas conquistas e termos, hoje, o direito civil de
nos casarmos, a violência homotransfóbica criminalizada, a retificação de
gênero permitida e a ampliação de uma agenda cultural da diversidade tão
massificadas, voltaríamos a temer a onda obscurantista, conservadora e
reacionária que tanto nos amedrontou ao longo dos anos. No ano passado, Quelly
da Silva teve o coração arrancado. O assassino matou a travesti, arrancou e
guardou o coração dela como prova de triunfo. Não, não se trata de caso
isolado.
O Atlas da Violência 2019 teve a
primeira edição com recorte focado na população LGBTQIA . Os números revelam o
que nós sentimos na pele todos os dias: as denúncias de lesão corporal contra
LGBTQIA cresceram mais de 50% nos últimos anos. O Grupo Gay da Bahia
contabiliza uma morte por LGBTIFobia a cada 20h no Brasil. Por mais que se
indispor ao bolsonarismo seja quase consenso entre o brasileiro médio, já que a
sua política — e, em especial, a condução em relação à crise de saúde pública
que vivemos – é no mínimo desastrosa, as pessoas LGBTI têm motivos a mais para
temer e repudiar esse universo. Os ataques discursivos e diretos que Bolsonaro
e asseclas proferem reiteradamente são o óleo que azeita a arma apontada para
nossa cabeça.
Menina veste rosa e menino, azul,
proibição de financiamento estatal para produções audiovisuais de temática
LGBTQIA , recolhimento de história em quadrinho com beijo gay, suposta
ideologia de gênero, retirada das LGBTQIA das diretrizes de direitos humanos,
preferir que um filho morra a ser LGBTI não são situações ou falas isoladas.
São peças de uma engrenagem que odeia a diversidade, de um universo que tenta a
todo curso nos colocar em caixas ou nos trancar de volta em armários e guetos.
É gratificante, entretanto, perceber
que, apesar de o conservadorismo avançar, a onda das nossas cores não se deixa
calar ou parar. Pablo Vittar, Jean Wyllys, Erika Hilton, Erica Malunguinho,
Liniker, Ludmilla, David Miranda, Ney Matogrosso, eu e tantos outros, com
visibilidade ou não, seguimos orgulhosos de nossos corpos, de nossos afetos e
de nossas existências.
Minha trajetória é grande exemplo
disso. Hoje sou o primeiro gay assumido a ocupar uma cadeira de deputado
distrital. Estar nesse posto representa não só uma vitória pessoal, mas a
megafonização de tantas vozes e anseios. Minha afetividade, por si só, é, além
de incômodo para as estruturas de poder vigentes, a mola propulsora para a
dinâmica de fortalecimento das pautas das pessoas LGBTQIA . Como diz o conceito
africano ubuntu: “Eu sou porque nós somos”.
Querem nos derrubar, nos silenciar,
mas, assim como nossas irmãs e irmãos que resistiram em Stonewall, nós
aprendemos a gritar. Gritar muito, muito alto e exigir o que é nosso por
direito. Nossa diversidade brilha e incomoda os que são limitados, mas não será
nunca apagada, façam o que fizerem. Seguiremos!
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EDUCAÇÃO