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MUHAMMAD ALI, O RACISMO E A IRREVERÊNCIA (Coluna Victor Dornas)



Em tempos de racismo insuflado por movimentos coletivistas politizados e financiados por grandes corporações e seus respectivos interessados, faz-se necessário recordar de personalidades históricas que verdadeiramente contribuíram para amortizarmos a barbárie da segregação racial. Uma dessas personalidades era Cassius Marcellus Clay Jr., mais conhecido pelo nome de conversão ao Islã “Muhammad Ali”, um exemplo raro de titã do esporte, pugilista consagrado de língua afiada e percepção da realidade muito acima do convencional.

Por Victor Dornas

Um fenômeno raro no esporte são os expoentes que tem, de fato, algo a dizer. Quando isso acontece, a ruptura é imediata e história, pois guardamos em nosso atavismo o ideal de perfeição existencial, ou seja, o indivíduo que reúne os melhores atributos físicos e também mentais. Muhammad Ali tinha um estilo de luta bastante particular, pois além de se basear na velocidade de movimentação e deferimento de golpes, ele também ousava num sistema de esquivas em “linhas de dentro” que deixavam qualquer adversário desconcertado. 

No Boxe, os lutadores tendem a desviar dos golpes adotando a esquiva para trás, muito mais segura. Ali, entretanto, gostava de esquivar-se para dentro, buscando uma abertura para contragolpes. A forma como ele lutava, medindo o tempo de reação e alcance do golpe do adversário, não era apenas uma questão de reflexos apurados e sim de uma mente que sabia calcular com maestria incomparável a hora certa de agir, numa fração mínima de tempo recorrente.

Nas palavras, a vida política do pugilista começou cedo. Ainda conhecido como Cassius Clay, o jovem de dezoito anos medalhista olímpico, negou-se a participar da guerra do Vietnam, pois, segundo o próprio, nenhum deles o havia hostilizado antes, racialmente falando inclusive. Ali foi perseguido durante muitos anos, teve títulos anulados e se manteve firme pois calculou que o mundo reveria a injusta e tal feito. Já consagrado e convertido ao Islã, Ali então participou de um programa de entrevista da BBC para Michael Parkinson e registrou várias frases históricas. 

Com irreverência, rapidez de raciocínio, habilidade emocional, naquela noite Ali nocauteou o racismo, usando técnicas complexas de discurso onde, como diria o pai da psicanálise, com bom humor expôs à uma plateia de caucasianos suas maiores inconsistências.

A recomendação deste articulista é que o leitor assista a entrevista, disponível com fácil acesso na internet, no youtube inclusive. Porém deixo aqui algumas frases ditas por Ali que ensinam como nossos piores pecados históricos devem ser combatidos, isto é, não com truculência politizada com escopo eleitoreiro oportunista, mas com elegância própria de quem sabe aquilo que diz, de quem não precisa das maiores escolas, ou de um leque de diplomas vazios, para discernir o certo do errado. 

Não é preciso ser Muhammad Ali para combater o racismo, contudo é na esteira do discurso bem feito que a boa política deve se ancorar, não buscando privilégios ou compensações por uma dívida histórica que se reverte no financiamento improdutivo, subsidiado, cínico, e sim na igualdade, afinal, todos nós sangramos da mesma cor. Muhammad Ali, sozinho, diz muito mais do que uma multidão de histéricos que depredam o erário com máscaras e promovendo a baderna.

Na entrevista para a BBC, Ali disse o seguinte:

“Eu não sou um boxeador, eu leio e estudo. Faço perguntas quando viajo a outros países e vejo como as pessoas vivem. E sempre perguntava a minha mãe: Mãe, por que tudo é branco? Por que Jesus é branco de olhos azuis? Por que na última ceia, todos são brancos? Anjos são brancos. Maria, os anjos. 

Eu dizia: Mãe, depois de morrer, nós vamos para o céu? Ela dizia: Claro, naturalmente. Eu dizia: Então o que aconteceu com todos os anjos negros? Eu sei.  É porque os brancos também estão no céu e os anjos negros estão na cozinha preparando o leite e o mel. 

Eu sempre fui curioso e me perguntava porque devia morrer para ir ao céu. Por que não podia ter lindos carros, casas e dinheiro agora. Por que esperar para ter leite e mel? Eu disse: Mãe, não gosto de mel. Eu gosto de filet.”



(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas , fotos ilustração: Blog-Google.. 


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