Cristina Ayako: Já atendemos bebês
com suspeita de covid-19. Ajudar me dá força também. Eu sou mãe
Por
Juliana Andrade
Eficiência no socorro. Enquanto parte da população
fica em casa, se protegendo da pandemia, profissionais do Samu estão nas ruas
em atendimentos de urgência. Só em junho, foram 162 pacientes com covid-19
levados para unidades hospitalares
Os hospitais do Distrito Federal
são a linha de frente no combate à covid-19, mas a assistência das pessoas que
chegam às unidades de saúde pública, muitas vezes começa bem antes. Em meio a
sirenes e equipamentos de proteção individual (EPIs), profissionais do
Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) correm contra o tempo, em um
socorro que muitas vezes começa por telefone, antes mesmo de a ambulância sair
da base. Assim, como os profissionais das unidades de saúde, os servidores do
Samu são heróis nesse momento tão conturbado.
A enfermeira Cristina Ayako, 45
anos, está no Samu há 14 anos. Todo dia, ela sai de casa, deixando a mãe idosa
e os dois filhos, de 14 e 15 anos, um deles asmático. Com acessórios de
proteção, ela carrega, principalmente, a fé e o comprometimento em ajudar o
próximo. “É uma missão prestar socorro e ajudar o próximo”, destaca. Cristina
trabalha em uma viatura equipada para o atendimento de crianças — Unidade de
Suporte Avançado e Neonatologia. Como mãe, uma motivação ainda maior de prestar
o serviço da melhor maneira possível. “Já pegamos bebês com suspeita de
covid-19. Ajudar me dá força também. Eu sou mãe e, se meu filho precisar, quero
que ele tenha uma garantia de assistência. O fato do nosso serviço fazer bem
para alguém nos fortalece, além de saber que, se algum familiar precisar, ele
também vai ser atendido”, ressalta.
No fim do expediente, Cristina sai
com a certeza de ter dado o seu melhor. E assim, deixando os aparelhos que a
manteve em segurança durante o serviço, volta para a família. Em casa, o banho
vem antes de entrar na residência. “Tenho um banheiro na varanda. Lá, eu tiro a
roupa de serviço, tomo um banho, antes de entrar em casa. Graça a Deus, tenho
esse privilégio de chegar e ir direto para o banho”, destaca. O cabelo também é
lavado diariamente. Tudo para manter ela e a família em segurança.
Desafio: Atualmente, o Samu tem 960 servidores. Desses, 630
lidam diretamente com os pacientes. Uma equipe administrada pelo diretor do
serviço, Alexandre Garcia Barbosa. “É um desafio enorme, mas também uma honra
poder colaborar em um momento em que a saúde precisa dar uma resposta de forma
mais assertiva aos usuários”, ressalta Barbosa. Para ele, uma das maiores
tarefas é prestar todo atendimento necessário durante uma pandemia com a mesma
quantidade de recurso de tempos comuns. “A gente tem um número de servidores
dimensionado pelo Ministério da Saúde. A pandemia está fazendo com que
gerenciemos os recursos ainda mais, para potencializar e otimizar o trabalho,
utilizando o mesmo número de pessoas e viaturas”, explicou.
O Samu tem 38 ambulâncias: 30 de
suporte básico — com um motorista e um técnico de enfermagem — e oito de
suporte avançado — com um motorista, um médico e um enfermeiro. Durante a
pandemia, o serviço recebe cerca de 60 mil chamadas mensais. Antes, a média era
de 78 mil ligações pelo 192, por mês, exceto em período de férias. Para
Alexandre, o número de ligações diminuiu devido ao isolamento social, além do
medo da população em chamar uma ambulância para quadros de saúde leves. No
entanto, a transferência de pacientes entre unidades hospitalares dobrou. Se
antes a média diária era de 12 mudanças, durante a pandemia, o Samu já chegou a
fazer 26 por dia. Com quadros de covid-19, só em junho foram 162 transportes. O
número representa mais que a somatória desse tipo de atendimento entre março,
abril e maio, três, 34 e 124, respectivamente.
Os cuidados para evitar
contaminações vão desde a higienização das ambulâncias à paramentação da
equipe. A cada atendimento de covid-19, é trocado todos os equipamentos
descartáveis de EPI e o veículo passa por uma higienização durante cerca de 40
minutos. Mas, apesar do cuidado, 10 profissionais do Samu testaram positivo
para covid-19, segundo Alexandre Barbosa. O diretor explica que, quando algum
servidor sente os sintomas da doença, ele é automaticamente afastado do
serviço, até que seja feito o teste. Ao todo, 31 funcionários foram afastados
por quadro provável da doença. Desses, nove ainda aguardam resultados.
Proteção: Uma roupa comum, um macacão, um coturno
impermeável, um capote, uma máscara N95, óculos, uma máscara face shield e
luvas. É possível enumerar, pelo menos, oito equipamentos, entre roupas e
acessórios na rotina de trabalho da médica Ana Luiza Ribeiro Diogo, 30. Todo
esse aparato é o que separa ela do risco de contaminação da covid-19, ao sair
para atender um paciente com suspeita da doença, além dos protocolos como
higienização da ambulância.
“Eu tenho conversado comigo mesma:
vou entubar pacientes com covid, vou transportar pacientes com covid e eu
preciso estar bem. Se eu for me desesperar ou tiver medo, não vou conseguir
fazer o meu trabalho. A minha prioridade é o paciente”, diz. Para se proteger,
os protocolos de segurança são fundamentais, mesmo sendo, algumas vezes,
desconfortáveis. “Eu saio do plantão e estou toda suada dentro do macacão”,
comenta. No fim do serviço, os cuidados continuam. O uniforme é retirado ainda
na base do Samu e colocado em um saco no carro. “O porta-malas do meu carro é
só para o Samu. Não coloco mais nada lá que não seja do trabalho”, afirma. Ana
também deixa o coturno no local de serviço e em casa vai direto para o banho.
Para a médica, o apoio e o
reconhecimento da população também têm sido um importante fator de
fortalecimento para os profissionais. Atitudes como entrega de cartas,
agradecimentos são demonstrações de afeto daqueles que reconhecem importância
do serviço. “É bom saber que estamos sendo mais valorizados. A gente tem
notado, inclusive, mais pessoas abrindo espaço para as ambulâncias passarem.
Muitos não davam importância. Além disso, temos os agradecimentos ao final dos
atendimentos”, destaca.
Ana Luiza: Se eu for me desesperar
ou tiver medo, não vou conseguir fazer o meu trabalho. A minha prioridade é o
paciente
A estrutura: 960:servidores; 38: viaturas
em serviço; 10 trabalhadores contaminados; O crescimento »
Chamadas para transporte de pacientes confirmados de covid-19 - Março: 3
- Abril: 34 - Maio: 123 - Junho: (até dia 19): 162; Serviço
: Número para chamadas de emergência: 192
Juliana Andrade - Fotos: Minervino
Júnior/CB/D.A/Press - Arquivo Pessoal - Correio Braziliense
Tags
COVID-19