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UnB E A FÁBULA DO RANKING DAS UNIVERSIDADES (Política Brasília)

A Universidade de Brasília é formada por verdadeiros guerreiros que sangram para promover a pesquisa cientifica, tolhidos por legislações que urgem por aperfeiçoamento técnico. A imprensa local, entretanto, divulga que a UNB retorna ao décimo lugar no ranking nacional de acordo com aferição de uma publicação digital. Trata-se de um dado que permite comemoração? A UNB tem muito a ser elogiado, porém a crítica construtiva é aquilo que permite a mudança.

*Por Victor Dornas

A despeito da pandemia, a UnB não parou. Seus núcleos de pesquisa continuam ativos e servidores continuam trabalhando em regime adaptado. A UnB promoveu, com expensas próprias, mais de 170 projetos destinados a auxiliar o combate ao vírus, porém não se vê por aí um incentivo na divulgação de quaisquer dos mesmos. E agora, após a publicação anual do site “QS World University”, insurgem notícias sobre uma suposta mudança considerável no quadro das universidades brasileiras, sendo que a UnB, que ano passado aparecia em décimo segundo lugar, agora estaria em décimo, na frente da Universidade Federal de Santa Catarina e de São Carlos.

Ocorre que qualquer pessoa que analise a métrica do site, percebe que o enfoque do mesmo se dá no ranking das primeiras 500 universidades do mundo. A partir daí, os dados que já eram escassos passam a ser quase irrelevantes em muitos aspectos, impedindo uma inferência mais apropriada. A verdade é que o site não se dá ao trabalho de analisar direito universidades como a UNB que figuram, de acordo com o próprio site, na posição “800 a 1000”.

Sendo assim, essa disputa entre a UnB e universidades que estiverem próximas nessas colocações é totalmente sem sentido. Não ajuda em nada, aliás, uma competição entre universidades de um mesmo país que não conseguem, ainda, figurar nesses rankings com um destaque que permita qualquer análise com um mínimo de acuidade. As universidades brasileiras não devem ser incentivadas a competirem entre si, pois não há ainda ambiente para isso. A palavra deve ser: cooperação.

Não é por isso, entretanto, que a UnB seja irrelevante no cenário acadêmico internacional. O corpo docente da Universidade é repleto de pesquisadores com notável saber e potencial empreendedor, contudo, esbarra-se, ano após ano, em legislações produzidas por leigos em pesquisa acadêmicas que frustram maiores avanços, principalmente na questão do caixa destinado à pesquisa. Não só na UnB, por óbvio, mas em todas as universidades brasileiras.

Em tempos de covid, pesquisadores que retornam do exterior para continuarem pesquisas epidemiológicas no Brasil reclamam da dificuldade excessiva em promover cooperação entre o público e o privado, de modo que ao invés de esperarmos pela vacina de Oxford ou de qualquer outra universidades, com uma legislação adequada e melhor alocação de recursos, nós teríamos, sem nenhuma dúvida, a nossa própria vacina. Tudo começa na organização legal.

No ranking referido, a USP e a Unicamp conseguem se situar entre as primeiras duzentas posições, contudo, não há disparidade qualitativa no corpo docente e sim na infraestrutura. Os pesquisadores de lá e daqui se relacionam, se conhecem, porém ao invés do pesquisador que mora em Brasília ter como meta migrar para São Paulo, a ideia seria promovermos mudanças legais no DF para estimular que essas pessoas continuassem aqui. E elas querem isso.

Que no futuro a competição não seja entre universidades brasileiras, pois em termos métricos, trata-se de uma competição sem sentido. E sim que nós nos impuséssemos a despeito das universidades estrangeiras. Que a métrica fosse voltada para a educação nacional, e não por migalhas pulicadas por um site estrangeiro que sequer justifica direito suas aferições.

A UnB é um orgulho de Brasília. Mas devemos apoiar a mudança para viabilizar a gestão. Ainda não é hora para comemorar nada.


(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas , fotos ilustração: Blog-Google..

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