“Bicada”, macho chocador e 200 kg de ração: conheça as
emas do Alvorada. Ave ganhou o noticiário na última semana após bicar o
presidente Jair Bolsonaro enquanto ele tentava alimentá-la. (*Por Fernando Caixeta)
A ave que ganhou a internet nos últimos dias após
bicar a mão de Jair Bolsonaro (sem partido) enquanto ele a alimentava faz parte
do cenário que emoldura o Palácio da Alvorada muito antes de o primeiro
presidente da República habitar a residência oficial. Naturais do Cerrado, as
38 emas que hoje passeiam pelos jardins do palácio servem a um propósito muito
além do ornamental: são cruciais para o controle de animais peçonhentos.
Da mesma família dos avestruzes, as emas fazem o
controle biológico de cobras, escorpiões, insetos e até mesmo pequenos
roedores, como ratos. Além delas, galinhas, patos e gansos também desempenham
esse papel.
O flagrante do presidente sendo bicado dia 13 de julho
não foi a primeira interação entre Bolsonaro e os animais. O presidente e seus
convidados, entre eles ministros, já foram vistos dando comida para as aves,
que também estão presentes no Palácio do Jaburu, onde mora o vice-presidente,
Hamilton Mourão (PRTB-DF), e na Residência Oficial do Torto, emprestada para o
ministro da Economia, Paulo Guedes.
Algumas delas são oriundas de apreensões feitas pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e
encaminhadas para as residências, que têm autorização para criá-las.
Consideradas onívoras – animais que comem tanto
vegetais quanto carnes –, as emas do Alvorada são alimentadas com ração para
avestruz e vegetais que sobram das cozinhas dos palácios. Por passarem o dia
pastando, também se alimentam de animais que encontram pelo caminho. São aves
que comem bastante; por mês, as 38 emas da residência oficial comem 200 kg de ração.
O custo mensal com os cinco sacos de 40 kg é de R$ 600.
Segundo informações da Secretaria-Geral da
Presidência, não há gastos extras com tratadores ou veterinários, pois o manejo
é feito por funcionários ligados ao Planalto e as necessidades médicas são
atendidas pela estrutura do Jardim Zoológico de Brasília, sem custos
adicionais.
Comportamento incomum: De acordo com a diretora de aves
do Zoológico de Brasília, Ana Cristina de Castro, não é comum que emas ataquem
seres humanos ou animais maiores do que ela. Esse comportamento só é
apresentado quando sentem que a prole está ameaçada, o que não era o caso na
situação enfrentada por Bolsonaro.
“São animais que estão bem adaptados a viver naquela
área, não é comum atacar, mas às vezes ela vai se defender. Uma coisa que pode
acontecer é que ela se atrai por coisas brilhosas. Provavelmente foi isso o que
aconteceu. São animais que não têm paladar, tanto é que a gente tem que tomar
muito cuidado quando eles vivem assim, em cativeiro, para não deixar um prego,
um arame, porque elas comem mesmo”, descreve a especialista.
A diretora destaca que a maior ave brasileira serve ao
importante papel de controle biológico na residência de Bolsonaro. “Elas podem
fazer controle de serpentes, escorpião, é muito importante. Elas matam, porque
tem muita força no bico, e comem.”
“O terror dos cachorros”: Os cachorros dos dois últimos
presidentes da República, Michel Temer (PMDB) e Dilma Roussef (PT), foram
perseguidos pelas emas nas residências oficiais da Presidência. O pet de Michelzinho,
filho de Temer, da raça golden retriever, precisou correr de três aves que
tentaram atacá-lo. Nego, cachorro de Dilma que gostava de correr atrás dos
animais, também já sofreu o revés de ser vítima deles.
“Divisão de tarefas”: Quando o assunto é criação dos
filhos, as emas machos dão show. O papel da fêmea, basicamente, é botar os
ovos. Quem choca e cuida dos filhotes depois de nascerem é o macho. “Eles fazem
o ninho no chão, em um oco, e é o macho que choca, com período de incubação, em
média, de 53 a 60 dias. O macho é quem cria os filhotes, a fêmea só bota o ovo.
Geralmente os ninhos são de várias fêmeas diferentes, o macho vai buscando e
montando”, detalha a especialista em aves do zoológico.
A maior ave das Américas pesa em torno de 20 kg e mede
cerca de 1,4 metro. Seu parente africano, o avestruz, tem proporções muito
maiores e chega a passar dos 70 kg e dois metros de altura. A ema macho costuma
ser maior e facilmente identificada pela plumagem negra no peitoral.
Territorialistas, costumam brigar pela área onde vivem e pelo direito de
fecundar as fêmeas do grupo. “O que conseguir dominar é que vai fecundar.
Geralmente é um macho para seis fêmeas. Você tem que fazer o controle para não
ter problemas de manejo.”
No Alvorada, elas se reproduzem naturalmente, sem
interferência humana. Em 2016, eram 22 emas, agora são 38. Contando as três
residências oficiais da Presidência em Brasília, há perus, pavões, pássaros
pretos, canários, periquitos, emas, mutuns e araras. Outras espécies nativas
silvestres também visitam esses locais; entre elas quero-queros, tucanos,
garças e curicacas.
Fernando Caixeta – Fotos: Igo Estrela - Metrópoles
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