Taxa diária da covid-19 cai
nas últimas semanas. Boletim da Companhia de Planejamento do Distrito
Federal (Codeplan) mostra que, de 28 de junho a 4 de julho, o índice ficou em
3,1%, considerado o segundo mais baixo desde 22 de março. DF tem 2.094 novos
casos, com 26 mortes em 24 horas
*Por Jéssica Eufrásio - Roberta Pinheiro
A Companhia de Planejamento do Distrito
Federal (Codeplan) divulgou, ontem, mais um boletim sobre a evolução da
covid-19 no DF. Os estudos do órgão foram alguns dos documentos levados em
conta pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) para justificar a flexibilização das
atividades. O relatório mais recente, finalizado no sábado, mostrou que a taxa
de crescimento diária do número de casos da doença caiu nas últimas duas
semanas. De 28 de junho a 4 de julho, o índice registrado ficou em 3,1%, o
segundo mais baixo desde 22 de março (veja Comparação). Ontem, o DF computou
2.094 novos casos, com a confirmação de 26 mortes em 24h (leia reportagem
abaixo).
Segundo o boletim da Codeplan, a taxa de
crescimento de notificações em junho foi a menor desde que a pandemia chegou à
capital federal. A média móvel de novos casos foi de 5,3%. Na análise do
coeficiente de mortalidade para cada 100 mil habitantes, o DF ficou com o 10º
menor resultado do país (22,25), de acordo com a Codeplan. Já a taxa de
letalidade — número de mortes em relação ao total de casos confirmados — foi a
terceira mais baixa na comparação com as outras unidades da Federação (1,2%).
Presidente da Codeplan, Jean Lima explica que os
números absolutos revelam um aumento gradual dos infectados. No entanto, na
análise comparativa das últimas semanas, é possível verificar tendências. “Em
termos percentuais, o estudo aponta que há uma queda na proporção de novos
casos. Fazemos a análise da taxa de incidência sempre comparando os últimos 14
dias, que é o ciclo do vírus. A partir disso, vamos acompanhando”, comentou.
Jean considera que a queda nos índices é um “bom
indício” sobre a disseminação da covid-19 no Distrito Federal. Ainda assim, ele
ressalta que a informação pode variar muito de uma semana para outra.
“Precisamos analisar as próximas para ver se isso se consolida. Em
consolidando-se, chegaríamos ao platô”, afirmou. Quanto às mortes, que ainda
não apresentaram queda, o presidente da Codeplan observa possível
estacionamento. “Proporcionalmente, não dá para falar em queda, mas em
estabilidade. Notamos que o crescimento se estabilizou nas duas últimas
semanas. Se (isso) vai se confirmar ou não, temos de avaliar nas próximas”,
completou.
Sobre a taxa de letalidade e o coeficiente de
mortalidade observados no boletim da Codeplan, o presidente da companhia
acrescentou que, enquanto os dois índices estiverem baixos, o Executivo local
terá como lidar com a pandemia de covid-19. “Quer dizer que estamos conseguindo
atender à demanda no sistema de saúde, e a população está tendo o tratamento
adequado”, ressaltou.
Os leitos em unidade de terapia intensiva (UTI) são
indispensáveis para o tratamento de pessoas com quadro grave da doença por
oferecerem equipamentos que auxiliam na respiração. No entanto, as vagas têm se
tornado cada vez mais escassas no DF. Ontem, a taxa de ocupação na rede privada
estava em 92,89%, segundo o site da Sala de Situação, da Secretaria de Saúde.
No Sistema Único de Saúde (SUS) da capital federal, a disponibilidade era de
76,22% para leitos de adultos. O tempo de internação de 8,4% dos pacientes vai
de 16 a 30 dias.
Calendário:Os dados, coletados pela equipe da sala de
acompanhamento com sede no Palácio do Buriti, resultam do acompanhamento da
evolução diária da doença. Com base nele, o Governo do Distrito Federal (GDF)
programou o processo de reabertura. Na quinta-feira, por meio de decreto,
Ibaneis Rocha divulgou os protocolos que deverão ser seguidos por cada setor,
além do calendário com as datas de liberação.
Amanhã, ficam autorizados a funcionar salões de
beleza, barbearias, esmalterias, centros estéticos e academias de esporte de
todas as modalidades. Bares e restaurantes reabrirão em 15 de julho. O processo
de retomada termina com a volta às aulas em escolas, faculdades e universidades
públicas, em 27 de julho, e privadas, em 3 de agosto.
Creches, casas noturnas e boates continuam
fechadas. Encontros de qualquer tipo que exijam licença do poder público para
acontecer, bem como eventos esportivos, campeonatos de qualquer modalidade e a
realização de atividades coletivas culturais, continuam proibidos no Distrito
Federal. A exceção vale para aquelas que ocorrerem em estacionamentos, desde
que os participantes permaneçam dentro dos veículos e que haja distância mínima
de dois metros entre cada carro. Visitas a museus foram liberadas, exceto se
houver realização de eventos internos.
Aglomeração à beira do lago: Pessoas reuniram-se sem máscara e
sem respeitar o distanciamento mínimo na orla ao lado da Ponte JK
O boletim da Secretaria de Saúde (SES/DF) divulgado
na noite de ontem contabilizou 637 mortes provocadas pelo novo coronavírus na
capital federal, além de 62 pacientes de Goiás e outros estados. A pasta
confirmou 28 novos óbitos, sendo duas pessoas moradoras do Entorno. O total de
registros de covid-19 no DF subiu para 57.854 — 2.094 notificações a mais em
relação a sábado.
Ceilândia (7.835), Plano Piloto (4.095), Samambaia
(4.013) e Taguatinga (3.957) lideram em relação ao número de casos. A primeira
das quatro regiões administrativas, porém, registrou a maior quantidade de
mortes: 137. Pacientes com mais de 60 anos são as principais vítimas no
Distrito Federal, mas a confirmação da doença tem sido mais frequente entre
pessoas de 20 a 49 anos.
Movimentação: Ontem, o cenário no Distrito Federal era bem
diferente do esperado para um momento de pandemia, especialmente na região
central de Brasília. Centenas de pessoas tiraram o dia para passear, fazer
exercícios, andar de lancha e até promover churrascos em pontos de grande
fluxo, como o Eixão do Lazer, o Calçadão da Asa Norte e a orla ao lado da Ponte
JK. À beira do Lago Paranoá, além de aglomeração, festas e muito lixo, a
reportagem encontrou dezenas de pessoas sem máscara. O uso do acessório
tornou-se obrigatório no DF em 11 de maio, sob pena de multa. De 18 de maio a 4
de julho, 69 mil pessoas foram abordadas e 65 multas, aplicadas.
A movimentação era atípica até para um fim de
semana de sol antes da pandemia. Mesmo assim, entre diversos grupos reunidos ao
ar livre e próximos uns aos outros na tarde de ontem, o item de proteção não
era uma das preocupações. Comerciantes aproveitaram a concentração de pessoas
para vender passeios de lancha para quem quisesse acompanhar o pôr do sol
próximo à Ponte JK. Uma volta de 30 minutos para um grupo de cinco pessoas saía
em média R$ 150.
Também houve reunião de grupos no deck que fica no
fim da Asa Norte: desrespeito ao isolamento social
Recuperação: Mesmo com um cenário preocupante — enquanto vagas
em leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs) diminuem e as chances de
transmissão do novo coronavírus aumentam —, um morador do Paranoá teve motivos
para comemorar. Orlando Grassio, 73 anos, conseguiu curar-se da covid-19 depois
de passar 12 dias internado. Hipertenso e diabético, o comerciante recebeu alta
e ficará em tratamento em casa, para recuperar as funções acometidas.
O paciente teve baixa cognitiva, relato comum entre
pessoas com quadro grave da doença. Devido ao isolamento total, a equipe do
hospital colocou um e-mail à disposição dos parentes de pacientes para que eles
pudessem trocar mensagens. Mesmo com todo o cuidado, a saudade e as lesões do
vírus atrapalharam a recuperação de Orlando, que começou a apresentar
desorientação. No entanto, após as chamadas de vídeo e o trabalho de
psicólogos, ele conseguiu melhorar e ir para casa. (JE)
No sábado, o índice de isolamento social no DF
ficou em 40,9%
(*) Jéssica Eufrásio -
Roberta Pinheiro – Fotos: Ana Rayssa/CB/D.A.Press – Blog-Google - Correio Braziliense
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