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GILMAR & MANDETTA, UM CASO DE AMOR POLÍTICO (Coluna Victor Dornas)


Por Victor Dornas 

De todas as críticas feitas ao governo federal, o fato de estarmos, já há dois meses, sem um ministro oficializado no Ministério da Saúde na maior pandemia das últimas gerações é certamente a mais difícil de pormenorizar. Os fatos falam por si próprios, contudo, quando se vê Luiz Henrique Mandetta numa Live com Gilmar Mendes chamando o presidente de genocida, torna-se também evidente que toda essa ingerência política na crise sanitária brasileira ostentada na COVID está infestada de politicagem das mais sórdidas que se imagina. Afinal de contas, a culpa dos problemas políticos da pasta da saúde é exclusiva de Bolsonaro? A live contava ainda com outras figurinhas polêmicas como o médico Drauzio Varella, contudo, no momento onde Gilmar adjetiva Bolsonaro e os milicos como "genocidas", de todos os participantes da Live, Mandetta foi o que mais gesticulava assentindo com a cabeça em sinal afirmativo.

Esse namorico entre Gilmar e Mandetta já vem de algum tempo, aliás. Não é a primeira Live ou troca de afagos entre os dois que se vê por aí.

Primeiramente, este articulista tem ciência do quanto é repetitivo ficar tecendo a mesma reflexão o tempo todo acerca do Supremo Tribunal Federal ser uma corte formada, em maioria, por advogados de políticos e não por magistrados de formação. O problema, conforme visto na tal Live, é que o advogado, por óbvio, não tem perfil para ser juiz. Advogado é o camarada que gosta de falar, não de sentenciar. Gilmar Mendes, em sua concepção particular, tem convicção de que presta um serviço cívico ao país por jogar ali na internet seus palpites, indignações de cidadão, isto é, suas opiniões particulares. 

Ocorre que o juiz, principalmente numa corte suprema, deve medir aquilo que diz pois o povo não é estúpido o suficiente para crer que suas posições são meramente pessoais, ou seja, que não há por parte dele a intenção de usar sua posição institucional para influenciar decisões. 

Em bom português, é o caso clássico de falta de ética por usurpação de função.

O problema é que esses advogados supremos possuem cargos vitalícios e seria pedir demais que Gilmar fingisse ser um juiz em sua vida inteira, quando já é demasiadamente difícil fingir o que não é por 5 minutos. Chama atenção, aliás, o fato de Mandetta estar sempre metido nessas agremiações políticas contra o governo que ele próprio fez parte. Não é só um problema ético, mas se trata acima de tudo daquela capacidade tucana de querer meter o bico em tudo que é lugar. O tucano, por natureza, é bicudo mesmo. Comparem, por exemplo, com a postura de Nelson Teich, um verdadeiro técnico.

Teich recentemente deu uma entrevista para a CNN onde ele fala mais em meia hora do que falou durante toda a sua gestão na pasta da saúde. Ali ficou evidente para quem ainda duvidava que a saída dele decorreu de divergências a respeito da cloroquina e outros aspectos técnicos. Teich não tem aspirações políticas e, por isso, ao deixar o cargo, diferentemente de Mandetta e Sérgio Moro, não quis fazer gracinhas tipo acusações sem fulcro probatório que expuseram uma reunião ministerial sigilosa que colocou em risco a própria segurança do país. Teich agradeceu a oportunidade, frisou sua discordância e saiu, como homem. Já Mandetta está por aí fazendo suas lives com gente tipo Gilmar, que politiza a sua indumentária pública e institucional sem, contudo, ter votos para tanto.

Gilmar ensaia uma crítica sobre a politização das forças armadas. De fato, como venho alertando há tempos nesta coluna, as FAs são apolíticas e a imagem da instituição foi indevidamente envolvida pelo governo Bolsonaro. Não há como negar isso, quando se tem milhares de milicos da ativa envolvidos em pastas com influência política no governo. Ainda em campanha presidencial de Bolsonaro, frequentes foram as ocasiões de usos indevidos de auditórios públicos para destinação política. Gilmar, entretanto, erra o tom e a direção da fala e aponta seu dedo sujo para os contingentes de militares usados na contenção da crise da COVID 19, hoje estimados em mais ou menos 38 mil soldados. Gilmar pega uma coisa boa, afinal de contas é pra isso que servem as FAs e resolve politizar em cima. Ou seja, cria um embate não apenas com o presidente mas também desperta a ira de generais, capitães e soldados que nada tem a ver com a tal politização e estão ali, dia após dia, desde o início da pandemia, empregando suas vidas para atender a sociedade. É esse tipo de camarada que nós aceitamos numa Suprema Corte.

Nessas alturas já ficou claro que a cizânia institucional brasileira não tem lastro em apenas um dos lados da briga. Ao contrário, a cada minuto surgem mais e mais figuras implicadas em situações que só agradam ao vírus. A questão da composição do Supremo Tribunal Federal é de suma importância, bem como o tipo de matéria que é tratada lá no STF. Estamos ainda, entretanto, submergidos em questões tão menores, sendo a maior parte delas de fulcro populistas, que é praticamente impossível imaginar discussões como os limites do Supremo do ponto de vista jurídico sendo debatidas devidamente pela sociedade. O povo gosta mesmo é de uma novela onde os personagens devem ter estereótipos fixos. A análise política, entretanto, se dá nas entrelinhas, nos detalhes e nas incoerências. 

Mandetta em dueto com Gilmar Mendes é uma baita de uma cara de pau.



(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google


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